É o fim de linha para a época 2011/12. Estamos praticamente eliminados da Liga Europa e no jogo com o City vi esfumarem-se as hipóteses no Campeonato.
Para o que resta da época era fundamental um sinal de força que nos desse o suporte psicológico para a perseguição.
Vou esquecer Danilo. Por certo esta lesão será usada como a 54ª atenuante para a má temporada que estamos a fazer.
Com Jesualdo Ferreira tínhamos um modelo. Jogávamos em transição.
Com André Villas-Boas tínhamos um modelo. Propagandeava-se o predomínio da posse e na realidade havia mais bola no pé mas também muita transição.
Com Vítor Pereira continua a propaganda da posse. Transição não vejo nenhuma. Os movimentos ofensivos desta equipa são mais de futebol brasileiro de gramado do que de relvado do Dragão regado.
Os 2 últimos golos do nosso novo Ponta de Lança de quase 2 metros ilustram essa realidade. O jogo com o Leiria é outra evidência. O Porto ataca com passes entre 0 e 3 metros, muita tabelinha e o objecto último parece ser entrar com a bola pela baliza dentro.
É o tikitaka reinventado. O jogador que mais se movimenta dos que ocupam o espaço ofensivo é o que tem a bola nos pés. Os outros pedem a bola estacionados na parcela de terreno que ocupam.
Recebem a bola e aí recomeça o movimento. É a vez do que lhe passou estacionar ou tentar uma ténue desmarcação.
Neste tikitaka à semelhança do Barcelona, tirando Hulk e as suas vontades muito próprias, há pouco espaço para remates de longe. Tocar, tocar, tocar, abrir na ala, vir para dentro, abrir na ala, vir para dentro, tabela pelo meio.
Não há ninguém que acelere o jogo. Há o Álvaro mas esse já desaprendeu de cruzar.
A sucessiva alteração de dinâmicas em que muitas vezes é desaconselhável cruzar para o cabeceador Hulk leva a que a opção cruzamento tenha saído da ementa.
Como o Chip do Álvaro mudou, quando ele acelera o jogo como era habitual, há sempre um momento em que para, desaproveitando a desaceleração, e se envolve nas tabelas labirínticas que hoje em dia são o padrão do modelo ofensivo.
Havia Danilo com capacidade de fazer o que Álvaro fazia com a melhoria do Chip ainda não ter sido viciado pelo 4-3-3 sem Ponta de Lança.
Há ainda 2 jogadores que não podendo acelerar descongestionam. Isso já é bom.
O James tem que jogar por isso mesmo. Para quem vê um jogo de futebol é simples defender a titularidade do James. Quando vemos uma linha de passe fácil sabemos que ele a vai utilizar. Quando gritamos o Álvaro está solto ele parece que nos ouve e põe lá a bola seja numa distância até 3 metros (limite máximo do radar do nosso modelo anti-transições) como 5, 10 ou 15 metros.
Joga simples, joga bem, descongestiona e funciona como um soro que alimenta uma equipa desabituada da palavra velocidade quanto planeia jogo ofensivo.
Lucho é outro. O golo do Porto contra o City é dele. É dele porque rompe com o padrão de jogo do Porto.
Sofre uma falta e tem a sagacidade de pôr a equipa a jogar rápido. Troca a bola com o Hulk fazendo antever o início de nova tabela labiríntica mas quando recebe a bola comete a maldade de fazer com o Hulk o que eu faço com o meu cão Bobby quando atiro um pau e digo “Vai buscar”.
Se o relvado é regado deve ser para a bola correr rápido. Num primeiro instante o Hulk até parece surpreendido. O normal era o Lucho devolver a bola para o Hulk parado. Aí ela fazia 2 ou 3 bicicletas sobre a bola com ele e ela imutáveis.
O Lucho nesse momento resolve mudar o argumento. Agora vais correr. De tão surpreendido o Hulk só tem tempo de sprintar e cruzar rápido.
Não é uma questão de desinspiração ofensiva o que se vê no Porto que bate no muro de Leiria. As tabelas labirínticas a passo são o caminho que nós escolhemos.
Se escolhemos esse caminho é obvio que jogadores como o Varela são erros de casting.
Varela cabe num futebol veloz e pelas alas quando o defesa lateral adversário é obrigado a correr para apanhar o extremo. Hoje, esse defesa, não tem que correr.
Defende pousando as suas duas mãos nas costas do extremo que, estacionado, pede a bola no nosso tikitaka particular.
Nós não queremos campo Grande.
Se há acidente na Ponte do Freixo e o trânsito está caótico é por lá mesmo que vamos. Pode ser que no meio das 200 pernas adversárias que lá se acumulam passe uma bola no modelo tabelas labirínticas para presentearmos o Janko com mais um “é só encostar”.
Sem soberba jogamos como equipa pequena.
Jogamos como equipa pequena porque invejamos um modelo que não é o nosso, não percebemos as fragilidades que ele tem e copiamo-lo sem Messi e sem aceleradores.
Jogamos como equipa pequena que vê no Hulk a sua estrela que decide se marca todos ou quase todos os livres.
Jogamos como equipa pequena que dá a batuta de organização do jogo colectivo ao jogador mais individualista que temos. O colectivo fica à espera do desequilíbrio individual para vencer em vez de puxar pelo que de melhor tem o indivíduo.
Quando isso acontece, quando uma equipa se entrega assim, com ou sem razão, nas costas de um individuo desaprende de funcionar.
Se o indivíduo funciona excelente, se não funciona a equipa, qual Álvaro que já não cruza, já não consegue mudar o chip.
Comunicamos como equipa pequena. Na conferência de imprensa o Vítor Pereira ia-se traindo. Querendo explicar a derrota na 2ª parte começa por elogiar o facto do City ser uma equipa muito física e habituada a uma Liga muito exigente.
Continua e começa a debitar uma frase em que diz que foi fundamentalmente por esse aspecto……
No meio do discurso para meio segundo e percebe que está a caminho do precipício.
O normal é direccionar a conversa para o talento individual, para os craques, para o orçamento etc. e tal.
É isso que o treinador do Rio Ave diz quando perde no Dragão. Não é porque o Tiago Pinto ou o Atsu têm menos andamento que o James e o Maicon.
Ora, antes de se trair lembra-se que se puser a tónica no físico ele próprio fica em cheque porque já não estamos nos anos 70 e 80 e é suposto que não seja por isso que as equipas percam jogos em plena época.
Antes que dê armas para que batam na equipa técnica interrompe o raciocínio acrescenta a qualidade e esquece-se da conclusão mudando de assunto com a frase esperançosa de que a eliminatória ainda está a meio e o Porto vai correr atrás do resultado.
Comunicamos como equipa pequena porque não temos ilusão. Quem não tem ilusão de ser melhor quando parte atrás nunca lá chega.
Muito provavelmente a 2ª visita do Porto ao Estádio da Luz será a derradeira hipótese do Porto lutar por algum título oficial.
É tão estranho pensar nisso quando me recordo do estado de espírito reinante no Benfica-Paços de Ferreira da final da Lucilio Cup quando 3 dias antes se assistira a uma das mais fantásticas reviravoltas já vistas. Com muita ilusão primeiro e bastante qualidade depois.
Confesso que perdi a ilusão.
Um portista é obrigado a acreditar mas este Porto não merece ser feliz.
Eu não mereço festejar porque o meu clube, de cima abaixo, não se preocupou muito com isso. Ganhar deixou de ser o farol.
O importante é ganhar de uma maneira muito específica. De uma maneira que não deixe dúvidas de quem é o mérito desta vitória.
Ganhar de uma maneira que deixe dúvidas da importância daqueles que no passado nos conduziram a um percurso de sucesso.
O mérito tem de ser sempre da Estrutura.
Por isso vendemos Lucho há 3 anos quando ele não queria sair e era fundamental no balneário.
Por isso ignoramos olimpicamente as movimentações subterrâneas de Costa, Vieira e seus muchachos.
Por isso, este ano, depois de todos termos percebido que a equipa técnica não tinha a capacidade mínima exigível para conduzir nem a equipa no relvado nem o grupo no balneário se assobiou para o ar.
Escrevo conduzir dando de barato que ele até pode ser bom treinador.
Por isso, demos ao treinador 1 Ponta de Lança para a Liga dos Campeões e o mesmo Ponta de Lança para a Liga Europa.
Por isso, nos envolvemos nas negociatas Danilo e Falcao carregadinhas de comissões.
Por isso trocou-se de capitão (alguém percebeu a desculpa???) e trocou-se de treinador adjunto (alguém percebeu as justificações?).
De seguida esperam-se trocas no massagista, no roupeiro e no condutor do autocarro.
O que importa é que todas as mudanças não abalem a sapiência da estrutura na escolha do comandante.
Quando o que importa é ganhar duma determinada maneira partimos atrás da concorrência que de tanta seca só quer é ganhar.
Ganhamos vezes demais. Tantas que a forma passou a ser tão determinante como a conquista.
Tornamo-nos num clube que só se centra no essencial quando perde. Vimos isso no ano passado.
Como um estudante que só encontra motivação para se dedicar a 100% aos estudos depois de chumbar de ano.
Isto não está a correr bem e não merece que acabe bem.
Todos os que nunca tiveram ilusão, nunca a souberam procurar, nunca acharam que era necessária ou que a foram perdendo ao longo da época (como eu) merecem ver nos jornais, nas televisões e em todo o país todos os segundos da festa benfiquista que vai pintar o país de alegria.
Pinto da Costa, Antero Henrique, toda a SAD e todos nós (os que perderam a ilusão) merecem levar com a tortura do terramoto de festa que está por vir.
Pode ser que se em 2012/13 quando houver a tentação de fechar os olhos, encolher os ombros e assobiar para o ar esse pesadelo venha à lembrança.
Só espero que isto acabe depressa.
Por: Walter Casagrande
2 comentários:
O Danilo estava a colocar-nos um desafio novo, interessante que até à sua lesão estávamos a conseguir superar.
Com a profundidade que ia dando ao flanco direito, assim como o Álvaro dá no esquerdo, combinando quer com o Varela, quer com o Hulk, o Fernando e o Moutinho tinham que aguentar nas transições defensivas além do centro do terreno, também as laterais, para não descompensar.
(Pena de não ter conseguido captar nenhum cruzamento do Danilo para ver a sua habilidade nesse aspecto).
Ora, acho que eles (entenda-se Polvo e João) estavam a fazer um trabalho fenomenal. Conseguiam misturar a pressão elevada sob os médios descaídos do City (Barry e Milner), com a não libertação de espaços para os homens do centro do meio campo, Yaya Toure e David Silva. E se eles passavam, acontecia logo a falta. É assim que tem que ser. Não podemos andar cá com meias medidas.
Falta saber se aguentariam os 90 minutos a este ritmo. Bastavam 70. Entrava o Defour para o lugar do Lucho já desgastado e recuava-se o James para 10, dando mais consistência ao meio campo. Isto claro, num cenário positivo para o nosso lado.
Mas isto, infelizmente, são só suposições.
Grande crónica W.Casagrande, mais uma vez.
Abraço
Dragão 14
Infelizmente, em total acordo com a vasta maioria do comentário.
Lembrei-me de um artigo teu: http://tribunaportista.blogspot.com/2012/01/bicampeoes.html
Lembro-me de te dar razão ao ler-lo. Mas quando vi a última foto, toda a positividade passou.
Estamos ainda na luta. Por um fio, mas estamos. Daqui em frente não podemos vacilar e teremos que fazer da cada jogo uma declaração de vontade e apego à causa. Vitórias titubeantes serão derrotas camufladas. Esta equipa precisa de crescer animicamente e de envolver a massa adepta. Só assim o fio engrossará. Só assim seremos vencedores.
Enviar um comentário