O meu conselho para Vítor Pereira, ler esta entrevista.
Esta semana, Ricardo Moreira, capitão da equipa que o Ljubomir Obradovic comanda, disse não ter dúvida nenhuma de que o FC Porto continuará a ganhar no Dragão Caixa. Tem a mesma convicção do seu atleta?
No Dragão Caixa, temos de ganhar a qualquer adversário. Seja o próximo, como é o caso dos franceses do Saint-Raphael, seja quem vier depois.
Quando olha para trás e vê 54 jogos do FC Porto sem perder...
Eu não olho para trás; só olho para a frente!
Mas é um histórico extraordinário?
É o reflexo de um bom trabalho dos jogadores - e dos adeptos. A Sérvia foi recentemente finalista do Campeonato da Europa por causa dos adeptos. E no nosso caso, o adepto que vem ao Dragão ver andebol é um adepto que gosta da modalidade, reconhece o nosso trabalho e as nossas conquistas, vive intensamente o jogo e espera assistir a bons espectáculos. É um público conhecedor.
O que encontrou no FC Porto que tenha marcado a diferença relativamente aos outros clubes por onde passou?
O lema do clube é "A vencer desde 1893". É isso, não é? Então, eu entrei neste clube porque tenho o gosto e a vontade de vencer. Entrei aqui mentalizado para isso, apesar de ser uma pequena partícula dessa enorme ambição.
É daqueles que vivem para a profissão as 24 horas do dia?
Não!
Então o que faz no dia-a-dia, quando não está a trabalhar?
Não faço nada! O que interessa isso?... Estamos aqui para falar de andebol.
Os adeptos que seguem o andebol do FC Porto, mas não só, discutem o facto de ser muito raro ver o Obradovic a sorrir. O que é que o faz rir?
[pausa de 11 segundos] Se vierem assistir a um treino nosso, podem verificar que também me rio. Mas estou aqui para trabalhar, para treinar, melhorar, insistir nos esquemas. Estamos aqui para ganhar ou eliminar as equipas que defrontamos; isto é uma coisa muito séria.
A seriedade não está em questão. Mas costuma contar, por exemplo, anedotas?
Eu conto muitas anedotas ao plantel, mas a verdade é que na vida, e no dia-a-dia, já temos muitas anedotas.
A sua proximidade com os atletas é também uma mais-valia...
Eu sou parte deles; afinal somos todos Porto. Preparamo-nos para o mesmo objectivo. Não podemos, por exemplo, sofrer com os erros cometidos. Temos de ter cabeça e não nos podemos refugiar atrás de desculpas, quando as coisas não correrem bem. Temos um excelente grupo, e não adianta nada criticar isto ou aquilo. Esqueçam isso! Não há outra forma; é trabalhar. O resto é história.
É verdade que o grupo chega a passear junto, como, por exemplo, no Parque da Cidade?...
Isso é sociologia - unir o grupo. E chegamos a trocar os jogadores para que não fiquem sempre os mesmos no mesmo quarto nos hotéis. É preciso saber falar com eles. Sou tolerante. Sei que o Dragão Caixa é a segunda casa deles e, às vezes, até passam aqui mais tempo do que em casa. E é na gestão dos níveis de tolerância que construímos a equipa com gente positiva. Se surgirem dois atletas negativos, deixa de haver química.
Foi preciso mudar algumas mentalidades?
Quando eu olho para a ficha de jogo e mostra que um jogador marcou dez golos, eu questiono quantos remates precisou de fazer. Temos de lutar contra o egoísmo enraizado nos portugueses. O jogador não pode querer só marcar golos e não passar a bola a ninguém; temos de ultrapassar isso.
Também tem apetite para ganhar uma prova europeia?
Há muito tempo. Mas é bom recordar que não estamos na Liga dos Campeões por causa de um simples golo. Temos plantel para lutar e para estar bem lá em cima. Ainda falta mudar a mentalidade do jogador português. Relativamente, por exemplo, ao alemão ou ao espanhol, existe um certo complexo de inferioridade. Não podem ter demasiado respeito. Têm de entrar em campo com uma atitude normal e jogarem o que sabem, com o objectivo único de vencer. Aqui, no FC Porto, ninguém pode deixar de correr e de lutar.
"Vamos determinados a vencer uma legião de estrangeiros"
Que equipa é esta do Saint-Raphael que o FC Porto vai enfrentar em casa, na primeira mão dos oitavos-de-final da Taça EHF?
Trata-se de uma equipa que defende com três tipos de sistemas: 5:1 que se transforma em 3:2:1 e homem a homem.
Está preparado para atingir o 55º jogo consecutivo sem perder no Dragão Caixa?
Nós temos de estar preparados para tudo, mas principalmente para que não haja nenhuma surpresa. O FC Porto terá sempre de se adaptar à defesa que o adversário utilizar e temos de saber o que fazer.
Alguns destes sistemas defensivos usados pelos franceses não se encontram no campeonato português.
Isso é um problema do andebol português. A nós, compete escolher a melhor táctica.
E o FC Porto já está pronto para este desafio internacional?
O Porto ainda não está preparado. Vai continuar a fazê-lo hoje [ontem] e amanhã [hoje]. Tivemos dois jogos muito importantes, com o Sporting e o Madeira SAD, e estamos a viver um mês muito cheio, muito intenso. Pensamos jogo a jogo e preparamos um de cada vez.
Este será, portanto, um jogo diferente?
Este jogo não tem nada a ver com os do nosso campeonato. Estivemos a estudar o adversário, as individualidades, e estamos à procura da melhor táctica.
Falou das individualidades do Saint-Raphael. Pelo que já lhe foi dado a observar, com que impressão ficou?
Eles têm um ponta-esquerda de mais ou menos dois metros; um lateral-esquerdo também com mais ou menos dois metros; um lateral-direito canhoto que representa a selecção da República Checa, nesse mesmo lugar também actua um ucraniano canhoto; o pivô é um checo que esteve no último Campeonato da Europa; têm ainda um tunisino; um central romeno; um guarda-redes sérvio. É uma espécie de legião de estrangeiros que estamos muito determinados a levar de vencida.
"Selecção precisa de mudar e melhorar"
A selecção portuguesa está afastada das grandes provas internacionais desde o Europeu de 2006, na Suíça. É muito tempo?
Portugal precisa de mudar e melhorar. E não estou de acordo que do FC Porto, que é campeão nacional nas últimas três épocas, apenas um jogador tenha lugar no sete inicial. Também não entendo como é que Ricardo Moreira não joga, sendo que é desde há dois anos o melhor jogador e marcador do campeonato português. Não consigo também compreender a razão pela qual Hugo Laurentino fica no banco e desde há três anos é o melhor guarda-redes nacional. E como é possível Gilberto Duarte, quando é utilizado, ser colocado na ponta esquerda, quando no FC Porto joga, e bem, a lateral e a central?
O que é então preciso mudar ou melhorar?
Se os clubes têm directores, dirigentes, não percebo porque é que a Selecção Nacional não os tem. A Selecção precisa de alguém como José Magalhães, há muitos anos, comprovadamente, o melhor dirigente do andebol português, que conhece a fundo a modalidade, inclusivamente os escalões de formação.
Apesar do que acaba de afirmar, acredita que as coisas possam tomar um outro rumo?
Aquilo que quero é que o andebol português cresça e evolua, pois potencial e qualidade é aquilo que não lhe falta.
Currículo de Ljubomir Obradovic:
Mestre de andebol da Faculdade de Belgrado
Data de Nascimento 15/09/1954 (57 anos)
Naturalidade Backi Gracaca (Sérvio)
Casado
Duas filhas
Anja, 27 anos
Maria, 19 anos
Como jogador
Central/lateral-esquerdo
48 jogos pela Selecção A
Vojvodina, Novi Sad, Dínamo de Pancevo,
Proleter, Elgoriaga Bidasoa (Espanha),
Vitória de Setúbal
Como treinador
Vários campeonatos e Taças nacionais
na Sérvia, Montenegro e Roménia.
Medalha de ouro no Campeonato
da Europa de sub-21 em 2000
Medalha de bronze no Mundial de 2001 em França, como adjunto de Pokrajac
Palmarés em Portugal
Campeão Nacional pelo Belenenses
em 1993/94
Taça de Portugal pelo Madeira
em 1998/99*
Campeão Nacional pelo FC Porto
em 2009/10 e 2010/11
Supertaça pelo FC Porto em 2009/10
*Saiu perto do fim da época devido aos bombardeamentos a Belgrado.
Entrevista a "OJogo"
Por: Rabah Madjer
2 comentários:
Ser líder e ter "tomates" é isto, os jogadores a lerem identificam-se, temem, e respeitam.
O Exemplo! De facto nas modalidades estamos muitíssimo bem servidos na parte de liderança
não há que ter medo de ser grosso, simpatia não é sinonimo de competência, um líder é um condutor de homens, se souber dar dois murros na mesa evita sempre conflitos no grupo, temos aqui um, ar "grosseiro, competência evidente, treinador, disciplinador que de facto VP podia servir-se como inspiração.
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