A frase é de um ex-jogador e
ex-treinador famoso. Não nos era dirigida, mas dadas as circunstâncias do ano
de 2015 penso que a posso roubar.
Acabamos 2014 com o craque Indi na
defesa ,o mágico Tsubasa no meio-campo, o mago Brahimi no ataque e o grande
Jackson no ataque.
Maicon estava caído em desgraça,
Marcano era apenas jeitoso, Casemiro era para devolver à procedência o mais
rápido possível, Evandro estava no fundo do banco e Tello era o novo barrete
(estilo Jeffren) que o Barça nos tinha enfiado.
Indi caiu da titularidade nos
Barreiros, Oliver voltou a deslocar o ombro em Basileia, Brahimi anda fora de
órbita desde que voltou da CAN e o grande Jackson acaba de cair em Braga.
Se em Dezembro de 2014
soubéssemos que isto ia ocorrer, o normal é que se pensasse que o arranque de
2015 de Lopetegui estaria na mesma bitola do arranque de 2014 de Paulo Fonseca.
Não.
Lopetegui aprimorou a máquina de
pressão alta do Porto.
Maicon está-se a levantar.
Primeiro gatinhou, depois cambaleou e parece que voltou a andar.
Marcano está firme e hirto como
uma barra de ferro. De pé.
Casemiro está um monstro das
bolas divididas e tem começado nele a asfixia de pressão alta que o Porto tem
revelado desde Fevereiro.
Evandro é o porto seguro. O Médio
essencial para todas as equipas modernas. Arranca, passa, fica, dá linha de
passe e pressiona sempre com serenidade.
Jogadores como Maicon, Casemiro e
Herrera precisam de ter ao seu lado homens adultos e jogadores feitos como
Marcano e Evandro.
E Tello? O jogador que em cada
100 remates não marcava 4. Esse não está de pé.
Levantou voo e lá vamos nós
pendurados nas suas asas.
Chegou a tua hora Aboubakar. Tu,
que tens passado o tempo sentado no banco estilo guarda-redes suplente tens que
te levantar para que este Porto não caia.
Hoje, foi preciso que outro
Dragão se levantasse para que o Dragão com tatuagem de leão continuasse a
planar bem perto da águia.
Estamos quase a sair vivos deste
ciclo infernal. Cheios de baixas, com a enfermaria mais preenchida mas com a
confiança que a frase de António Oliveira se aplica a este plantel e a este
treinador.
O jogo de Braga estava na lista
negra da dificil 2ª volta que tinhamos pela frente.
O último onze que tão boa
resposta tinha dado contra o Sporting é repetido com lógica.
A partida começa como é costume.
Nota-se que a equipa do Porto está cada vez melhor trabalhada a nível de
posicionamento defensivo e na forma como pressiona mas há sempre um período
inicial nas partidas onde as agulhas demoram a acertar.
Foi assim em Basileia, foi assim
contra o Sporting, não foi tanto assim no Bessa (as agulhas demoraram muito
mais tempo a acertar) e voltou a ser assim em Braga.
A intranquilidade de Fabiano deu
a única oportunidade de golo ao Braga desperdiçada por Zé Luis. Algumas perdas
de bola de Brahimi e Herrera deram espaço a que se pensasse que o ponto forte
do Braga ganharia supremacia ao ponto forte do Porto.
Durou pouco essa imagem. As
agulhas acertaram mesmo e quando Brahimi começou a vir da esquerda para o meio
em movimentos diagonais a máquina ofensiva do Porto começou a carburar ao nivel
da segurança defensiva que Casemiro e a linha
recuada do Porto davam.
O Porto empurrou definitivamente
o jogo para o último terço do relvado, a linha defensiva acampou no centro do
relvado e o Braga foi obrigado a fazer desaparecer do jogo Zé Luis, Rafa e
Pedro Santos.
Não foi uma questão de querer
defender mais ou menos ou de gostar de implementar a táctica do autocarro.
Discordo de Lopetegui quando parece que põe as culpas da pouca ambição ofensiva
bracarense a uma questão estratégica.
Quando o Porto acerta agulhas, o
adversário fica sem opção estratégica. Não sai da toca porque não consegue sair
mesmo que queira. Já são exemplos demais para perceber.
A partir da meia hora da 1ª parte
o Porto arranca para um segundo terço do jogo em que asfixia o Braga e coloca
fora de jogo os avançados adversários sem que o arbitro auxiliar precisasse de
levantar o braço.
Aparece Brahimi, continua
Evandro, mantem o nivel Tello e Herrera vai-se libertando de Casemiro para se
chegar perto de Jackson.
No final da 1ª parte a cara de
Sérgio Conceição é um poema. Grita baixinho para a 1º parte acabar depressa e
mostra que tem razão quando Tello pela direita em escassos 2 minutos tem 2
oportunidades de golo.
A cara da 2ª parte é a mesma. O
Braga a querer que ela nunca mais comece com esperança que a equipa do Porto
tivesse desligado o chip e o Porto agarrado aos tornozelos com os dentes bem
cravados.
Nada muda. Evandro esperto
aproveita que o mundo está a dormir e lança Alex para mais uma jogada de perigo
que Aderlan resolve in extremis.
O primeiro a desesperar é Sérgio
Conceição. Se os seus avançados estavam fora de jogo o que um treinador tem que
fazer é procurar devolver-lhes o jogo. O problema estava no meio-campo que
estava encostado às cordas (leia-se centrais).
O facto de entre a dupla
Aderlan/Pinto e a dupla Tiba/Danilo não existir nada obriga os médios a
encostarem-se demasiado atrás sempre que uma equipa que lhes é superior toma
conta da partida.
Substituir Zé Luis por Eder ou
Rafa por Agra é pedir à sorte que resolva um problema que requeria trabalho.
Casemiro, Evandro, Herrera e até
Brahimi, Alex e Jackson eram força a mais para 2 homens. Era essa a força que
subjugava o Braga.
Em vez de passar a ter 2
avançados em jogo, Conceição teimou em manter 3 de fora.
Lopetegui responde mal. A equipa
estava colectivamente bem, a apertar o Braga e o curso do jogo fazia crer que
Fabiano continuaria a olhar para as pedras do Estádio enquanto o Braga ia sendo
empurrado para cada vez mais perto de Matheus.
Lopetegui pensou que compensava
perder o controle se com isso ganhassemos uma pitada de criatividade.
Eu não penso assim. Se pensasse
quem iria para ali era Quintero e não Brahimi.
Quintero é melhor 10 que Brahimi
especialmente se estivermos no minuto 60 de jogo.
Perde menos bolas e é mais
maestro do que interprete a solo.
A partir desse momento o jogo
fica estranho e salpicado por uma série de acontecimentos em que se destaca a
lesão do melhor jogador do Porto e do campeonato.
Quaresma não consegue entrar bem
no jogo mas o Braga não consegue aproveitar a abébia do Porto que dá uma
ligeira folga ao nó que lhes apertava o pescoço.
O jogo sai do último terço do
meio-campo do Braga mas não entra no nosso.
Até que numa reposição de bola de
Matheus, Alex Sandro ganha o lance áereo e Tello imediatamente liga o chip
baliza que tem no cerebro. Na recepção, no passe a Aboubakar e na aceleração.
Aboubakar responde mobilizando
Aderlan e soltando o passe na hora certa para que o Bolt Tello ajeitasse o
corpo à batedor de raguebi para se enquadrar com a baliza e finalizar com
suavidade e classe.
Conceição é mais rápido a
responder ao 0-1 e planta Pardo em cima do amarelado Alex Sandro. Lopetegui
vacila uns minutos mas é obrigado a dar mais um médio à equipa para que o
previsivel caudal ofensivo bracarense não deitasse por terra aquilo que os
Dragões que se teimam a levantar tinham conquistado.
Como Rúben Neves tem um perfil
diferente do de Herrera, Oliver ou Evandro naqueles últimos momentos acontece à
dupla Neves/Casemiro o que tinha acontecido à dupla Tiba/Danilo.
O Porto é encostado atrás mas a
linha defensiva responde bem às ténues tentativas dos 9 arsenalistas e do
Joaquin Cortés que procurou fazer um espectáculo de bailado nos minutos finais.
Esta vitória saiu-nos das
entranhas.
O mês de Março vai-nos dizer se
conseguimos sobreviver à queda do nosso melhor Dragão.
So far so good!
Análises Individuais:
Fabiano – Uma equipa que está encostada às cordas e não pode sequer
empatar jogos com equipas com o poderio do Braga não se pode dar ao luxo de ter
um redes que tem saídas extemporâneas daquelas.
Uns 10 cm ao lado e o título
seria visto por um canudo devido à encarnação de Krajl em Fabiano.
Danilo – Um jogo certinho. Duro Q.B na pressão, deu profundidade
Q.B pela ala e soube defender com a limitação do amarelo da 1ª parte.
É um orgulho vê-lo com a
braçadeira.
Alex Sandro – Mais em jogo que Danilo. Com mais trabalho defensivo
e com mais responsabilidades no transporte e no desenvolvimento do jogo
ofensivo.
Só é possível jogar e amarrar os
jogos como o Porto faz com laterais como
estes. São médios, são alas, são defesas. São tudo.
Maicon – Foi o mestre a interromper as transições mais perigosas do
Braga na 1ª parte. Está a subir de rendimento de jogo para jogo roçando o nivel
do inicio da época quando parecia que era ele que protegia Indi.
Marcano – Perfeito. É o mais calmo, o mais reservado e o mais
seguro mas isso conta pouco quando a bola vai no ar. É o 1.º a atacar a bola, o
espaço, o adversário. Na disputa desses lances temos o vigor de Fernando Couto
na cabeça de Aloisio.
Depois do golo de Tello foi o
lider da defesa e o chefe que agarrou a equipa e ajudou Alex Sandro.
Casemiro – Foi o MVP daquela
primeira meia hora enquanto o Porto não acertava agulhas com carrinhos e cortes
providenciais.
A sua importância relativa foi
diminuindo à medida que a equipa foi crescendo. Esse é o espirito de um 6.
Estar lá quando é preciso, saber apagar-se estando lá quando não é tão preciso
e ressurgir quando é obrigatório.
Casemiro foi isso na pedreira.
Responsável e intransponivel.
Evandro – O primeiro passe que Evandro falha é aos 55 minutos e na
meia-lua adversária. É o melhor a tirar a bola da zona de pressão. É rápido a
perceber o que tem que fazer e a 1ª opção é sempre a entrega da bola redondinha
a um parceiro livre.
Nesse aspecto tem caracteristicas
similares às de Rúben Neves e Oliver.
Quando não há parceiro livre
Evandro vai à sua mochila de Sport Billy e arranca com bola de forma vertical
(à Herrera) dando origem a livres ou oportunidades de golo (como a do Tello no
final da 2ª parte).
Quando o jogo parece que está
morto a sua cabeça está bem viva. Baiano ajoelhado a pedir desculpa a Brahimi,
metade da equipa do Porto a espreguiçar-se à espera que o jogo retomasse e a
equipa toda do Braga com vontade que a 2ª parte ainda não tivesse começado.
Na cabeça de Evandro o jogo não
para. Corre Alex.
Isto não é falta de fairplay como
acusou Sérgio Conceição. É foco. É a mentalidade de um jogador que nunca
hiberna e percebe que em cada segundo há uma oportunidade.
Eu tinha saudades de ver um
cheirinho de Lucho na equipa.
Precisa que percebam a
importância que tem. Precisa de se achar mais para que jogos como o que ele fez
contra o Braga tenham o reconhecimento devido.
Foi mal substituído. Titular de
caras na 3ª feira.
Herrera – O acertar de agulhas de que falei na crónica passa muito
por Herrera. Quando o mexicano percebe que terrenos deve pisar, quem pressionar
e entende o cariz do jogo o Porto instala-se e começa a apertar o nó.
Este perfil selvagem de Herrera
precisa de companhia responsável ao lado que lhe dê o tempo que ele precisa
para se adaptar ao jogo.
O melhor Herrera foi o do melhor
período do Porto (entre os 30-60 minutos). Fica por perceber quem é que puxa
por quem.
Brahimi – Um inicio de jogo ao nível do pior Brahimi que vimos.
Perdas de bola em zonas perigosas e fintas inconsequentes.
Quando Lopetegui dá Alex e
Evandro a Brahimi o argelino pega na equipa e começa a criar perigo mais para o
adversário do que para o Porto.
O melhor Brahimi também coincidiu
com o melhor período do Porto. Neste caso não tenho dúvidas que o argelino puxa
pela equipa, sobe-lhe 2 ou 3 niveis e faz com que a habitualmente inofensiva
construção ofensiva se torne potencialmente perigosa.
Eu tinha saudades desse Brahimi.
Não precisa de fazer slaloms à Messi. Basta que cumpra o papel de 4.º médio,
que seja um foco de perigo que obriga a que 2 ou 3 defesas se juntem à sua
volta.
No meio? Não, obrigado. Ele é
pior ali, há jogadores melhores que ele ali e quem for fazer o seu papel na ala
é pior do que ele. A equipa fica pior.
Tello – Se Tello se lesionar amanhã por 4 meses e o Porto for
campeão todas as resenhas que se façam em Junho devem colocar o espanhol como
um dos obreiros do título.
Bessa, Dragão, Braga. Se estamos
na luta depois deste ciclo infernal a ele o devemos.
Tem sido letal na cara do redes.
A jogar assim valeria 50 milhões porque só lá para os 30´s é que vai perder
esta aceleração que mata qualquer defesa que não jogue montado numa mota.
A forma como ele se posicionou
para bater Matheus foi à Johnny Wilkinson. Espectáculo!
Jackson – Que desgraça, Meu Deus! O pior que nos podia acontecer.
Quando Jackson caiu no terreno todo o mundo portista sentiu uma tristeza
superior à do golo do Basileia por exemplo.
Vai ser muito dificil que a
equipa sobreviva à forma como Jackson joga. Aboubakar é bom mas é muito
diferente e não é certo que a equipa perceba e saiba conviver com essa
diferença.
Não podemos jogar da mesma forma.
Isso é certo.
Quaresma – Entrou mal no jogo. Perdeu-se em alguns individualismos desnecessários
mas fico sem perceber se o menor rendimento de Quaresma face aos últimos jogos
se deve apenas a ele ou ao facto de ter sido enquadrado num esquema menos
propicio (meio-campo partido) ao seu potencial.
Aboubakar – Fundamental nesta vitória. Foi de tal forma perfeito no
lance do golo que nem Jackson faria melhor.
No resto da partida tem
pormenores que mostram que há ali diamante e movimentações sem bola capazes de
levantar os cabelos a um treinador dos juniores.
Aquele lance em que Tello dispara
verticalmente em direcção à baliza e Aboubakar responde lá na frente
disparando, à defesa central, em direcção a Tello é assustador.
Rúben Neves – Não há jogo em que o portismo não implore pela sua
entrada. E o que é engraçado perceber é que não é por portismo que o portismo o
pede. São as suas qualidades futebolisticas que a equipa precisa a gritos no
decorrer das partidas.
Nessa altura eu não penso na
nacionalidade, na idade ou na formação. Quero aquele n.º 36 lá dentro.
Ficha de jogo
SC Braga - FC Porto, 0-1
Primeira Liga, 24ª jornada
Sexta-feira, 6 Março 2015 - 20:30
Estádio: Municipal de Braga
Árbitro: Jorge Sousa (Porto).
Assistentes: Álvaro Mesquita e Bruno Trindade.
4º Árbitro: Manuel Oliveira.
SC Braga: Matheus, Baiano, Aderlan Santos, André Pinto, Tiago Gomes, Danilo, Pedro Tiba, Rúben Micael, Pedro Santos, Zé Luís, Rafa.
Suplentes: Kritciuk, Sasso, Salvador Agra (67' Rafa), Éder (59' Zé Luís), Alan, Mauro, Pardo (75' Pedro Santos).
Treinador: Sérgio Conceição.
FC Porto: Fabiano, Danilo, Maicon, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Evandro, Tello, Jackson Martínez, Brahimi.
Suplentes: Helton, Martins Indi, Quaresma (61' Evandro), Quintero, Hernâni, Rúben Neves (78' Brahimi), Aboubakar (65' Jackson Martínez).
Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 0-0.
Marcadores: Tello (73').
Disciplina: cartão amarelo a Danilo (38'), Rúben Micael (60'), Alex Sandro (61'), Fabiano (89'), Danilo (90+4').
Sexta-feira, 6 Março 2015 - 20:30
Estádio: Municipal de Braga
Árbitro: Jorge Sousa (Porto).
Assistentes: Álvaro Mesquita e Bruno Trindade.
4º Árbitro: Manuel Oliveira.
SC Braga: Matheus, Baiano, Aderlan Santos, André Pinto, Tiago Gomes, Danilo, Pedro Tiba, Rúben Micael, Pedro Santos, Zé Luís, Rafa.
Suplentes: Kritciuk, Sasso, Salvador Agra (67' Rafa), Éder (59' Zé Luís), Alan, Mauro, Pardo (75' Pedro Santos).
Treinador: Sérgio Conceição.
FC Porto: Fabiano, Danilo, Maicon, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Evandro, Tello, Jackson Martínez, Brahimi.
Suplentes: Helton, Martins Indi, Quaresma (61' Evandro), Quintero, Hernâni, Rúben Neves (78' Brahimi), Aboubakar (65' Jackson Martínez).
Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 0-0.
Marcadores: Tello (73').
Disciplina: cartão amarelo a Danilo (38'), Rúben Micael (60'), Alex Sandro (61'), Fabiano (89'), Danilo (90+4').
Por: Walter Casagrande
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Cronica de qualidade.
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