quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Assobio






Não vou escrever sobre a acústica e a diferença de ambiente das superiores das Antas e das inferiores do Dragão.
Apetece-me discorrer sobre o papel das pessoas no estádio. Dos portistas que lá vão.
Qual o papel que devem ter. Os assobios ao Hulk ao minuto 10 fizeram-me pensar a que ponto é que chegamos. Devemos pensar todos.










Quando se fala na transmissão da mística e de como os mais velhos devem passar os valores, a tradição e o ser Porto normalmente pegamos nos exemplos do João Pinto, Jorge Costa, Vítor Baia, Pedro Emanuel.
Sentimos que isso é importante para o desempenho competitivo da equipa.
Que o Iturbe vai ter um plus de garra e “amor à causa” porque o Helton lhe vai passar um bocadinho daquela diferença entre o “ser Porto” e o mero “jogar no Porto”.
O facto de eu acreditar que isso existe e que a equipa terá mais capacidade para enfrentar adversidades quando imbuída da famosa mística fazem-me olhar para o plantel e sentir algum conforto quando há espaço para Helton’s, Castro’s, Mariano’s e Lucho’s.
Ainda que a sua qualidade individual possa ser discutível a transmissibilidade do “Ser Porto” a todos os outros dão um contributivo objectivo para as vitórias.

Só que a mística não está só nos balneários. No relvado. Está, ou pelo menos deve estar, também nas bancadas.

O ambiente guerrilheiro das bancadas e o espírito de verdadeira exigência do Tribunal não impediam que se pusesse em causa a comunhão entre os que vestiam a camisola lá dentro e os que por ela puxavam cá fora.
Nunca em momento algum se lá sentava um portista enquanto via o aquecimento da sua equipa com a noção de que era um jurado que estava ali para avaliar.

Hoje nas bancadas é mais juízes que companheiros ou advogados de defesa.
A todos lembro que um juiz tem (ou deve ter) como característica a imparcialidade e nós não estamos lá para ser imparciais. Não estamos lá para avaliar.
Estamos lá para ser parciais e dar o contributo necessário para fazer pender a balança para o nosso lado.
Estamos lá, também nós, para transmitir a mística aos jogadores.

Essa transmissão de mística passa por ser parcial e não juiz, de apoiar em vez de boicotar.


E o assobio faz parte? Claro que faz. É uma arma poderosa ao serviço da mística.

Como poderosa que é deve ser bem usada. Como é que se compatibiliza o assobio com o apoio? É possível?

Vamos por partes. O apoio que todos devemos dar serve para ajudar a equipa a ganhar. O objectivo último é esse. A vitória.

Há momentos em que o assobio pode estar ao serviço desse primado? Há.

Quando os jogadores se esquecem que camisolas estão a vestir e que há coisas que não devem fazer.


Exemplos:

Os dribles, quando desnecessários, do Helton. Arriscar a vitória num lance.
A desistência de lances vitais para a equipa como a do Rodriguez neste fim-de-semana.
O recuo a passo do Álvaro Pereira em vários jogos.


E quando é que não se admitem assobios?
Por norma sempre com as excepções acima descritas.

Ainda assim deixo alguns exemplos:

Quando o Helton leva um frango na Champions contra o Donetsk
Quando o Hulk sozinho na frente tenta utilizar o seu potencial para desiquilibrar
Quando a equipa troca a bola na defesa para fazer o “descanso activo” ou para chamar a si o adversário

O assobio deve ser educativo. Deve a ele ter associado a típica franqueza tripeira.
“Ó pá!!! Esta merda é o Porto. Vai brincar com o Carvalho!”.

Para mim isso é mística. O estádio a educar.

O assobio sempre existiu. Bandeirinha, Semedo, Quaresma sabem o que isso é.

Nem todos eram educativos mas nunca como hoje se sentiu que o assobio era tão ordinariamente usado.
Assobio ordinário apanha todos os sinónimos da palavra.
É ordinário porque é frequente e normal e é ordinário porque é um assobio grosseiro e reles.

Porque deseduca, ajuda a que os jogadores pensem que a mística é uma ficção como o Pai Natal ou, sendo real, foi contemporânea do Tiranossauros Rex.

Jogar no Porto não é jogar num clube de adeptos e sócios que se comportam como autênticos novos-ricos aburguesados que caucionam o seu comportamento ordinário (com a tal dupla vertente) com a “cultura da exigência”.

Hoje o meu filho, que tem média de 19, chegou-me a casa com 15,5 e levou logo 2 lambadas.
Porquê? Para perceber a minha “cultura de exigência”!

Pelos adeptos somos, neste momento, o pior dos três grandes.
Os que mais merecem ser infelizes desportivamente.
Nem sei se por nós íamos à Champions. O que nos vale é que a equipa é relativamente melhor do que os adeptos que julgam que (des)apoiam um clube superior por direito divino e que, por consequência, tem que obrigatoriamente ganhar jogando bem e bonito.
Passamos a comer camarão e temos horror a quem cheire a sardinha.

Nestes últimos tempos só sinto a mística da bancada e o assobio como arma de destruição maciça ao serviço da equipa e não da ordinarice quando:

a)      Jogamos contra o Benfica;
b)      Somos roubados pelos árbitros

O jogo nos últimos anos onde a mística esteve mais presente foi quando ocorreram em simultâneo os 2 critérios.

Aí o portismo lembra-se da história Porto e do orgulho Porto.

Convido a quem ache que não somos veículos transmissores de mística e devemos ser 50000 Manuel Moura dos Santos a avaliar os Ídolos de Portugal a ver o jogo em que era suposto o Benfica festejar o título no nosso território.

O jogo em que para além das dificuldades naturais vimos um árbitro a expulsar o Fucile para cumprir o desiderato do regime.
Vejam como com 10 o estádio se levantou. O estádio se lembrou. Não passarão!!!

Como os jogadores perceberam o que estava em causa.
Belluschis, Farias, Guarins que sabiam lá o que era a mística. E como se agigantaram.
Naquele jogo, para além da vitória aprenderam mais do que isso. Um bocadinho do “SER PORTO”.

Terça-Feira temos dos jogos mais importantes dos últimos anos. Comandados por um treinador que não nos convence e com uma equipa que não nos inspira segurança.

É necessário criar um ambiente tremendamente hostil para a equipa de arbitragem. Contestar cada lançamento da linha lateral. Assobiar cada falta sofrida sem amarelo.
Vaiar cada amarelo assinalado a um dos nossos. Lançar o histerismo, à inglesa, sempre que ganhamos um canto.
Mandar o estádio abaixo sempre que o Hulk ou o James caiam ao chão dentro da grande área.

Se não fazemos isso e aos 10 minutos assobiamos uma finta falhada do Hulk merecemos levar 3 secos e ir para a Europa League para ser eliminados pelo Lokomotiv do Couceiro.
Mesmo sem bancos trocados.

Por: Walter Casagrande

13 comentários:

bibota disse...

Excelente cronica.

Vou la estar na terça para apoiar desde o primeiro minuto.

Se a equipa mantiver a atitude, alma e a vontade dos ultimos 2 jogos, conseguiremos a vitoria.

Aproveitam o "bonus" do FCP, qualquer sócio pode levar um amigo por 5€.

Manuel Castro disse...

Parabéns WALTER CASAGRANDE por mais um excelente cometário. Questiono apenas uma coisa: será que o aburguesamento dos adeptos não terá a ver com as constantes vitórias dos últimos anos?

Trafulha disse...

Eu qto aos assobios critico-os nos primeiros minutos " enquanto os jogadores não aquecem" depois dessa fase assobiar tem o mesmo impacto que aplaudir.
Se um jogador tem uma jogada de génio aplaude-se e galvaniza-se se erra sistematicamente, de a equipa não produz o assobio serve de reprimenda e alerta, significa que há massa critica e que é preciso fazer melhor.
Contrariamente à "moda" geral de criticar o adepto que assobia, eu acho que pagando bilhete tem-se legitimidade para mostrar indignação.
O meu caro diz e recorda bem o antigamente, Semedo, Bandeirinha, até o próprio Casagrande.
Semedo era o paradigma, não podia tocar na bola que era logo apupado. Mas eram épocas diferentes, o amor à camisola predominava, hoje não, hoje o vil metal é a paixão, como tal nos devemos ter estes meninos, em mtos casos mimados em sentido.

Rabah Madjer disse...

Caro Trafulha, já percebi que é um pouco exigente e um tanto velho do Restelo, relembro ao meu amigo que não estamos na presença de um qualquer espectáculo, mas numa actividade desportiva onde o que esta em causa é o clube do qual somos sócios ou simpatizantes e que queremos levar "ao colo" de vitoria em vitória, relembro o meu amigo que os adeptos têm um papel fundamental em criar um ambiente positivo e de confiança nos atletas para almejarmos vitorias, os adeptos estão mal habituados, é bom sinal, não deviam era ser um factor negativo para a equipa somando pressão extra.
Durante o jogo incentiva-se, aplaude-se, no fim mostra-se desagrado.
O Sr. dá alguns exemplos históricos no seguimento da crónica, esquece-se é que na sua maior parte foram casos de uma injustiça tremenda.
Temos é que fazer o nosso papel e apoiar, isso é SER PORTO, se assobiamos entregamos trunfos ao adversário.

Obrigado pelos seus comentários e volte mais vezes.

Trafulha disse...

Não se trata de ser velho do Restelo, novo já não sou, mas preferiria que me chamasse velho da Ribeira ou da Sé por exemplo,

Não é o que o Sr. diz que está em causa, o que digo é que não me compadeço com meninos mimados ou birrentos, para isso há o remédio na altura certa, e o remédio como não podemos entrar em campo e dar duas sapatadas a quem quer que seja, é o apupo como sinal de desagrado.

Mafalda disse...

Amanhã vou comprar um bilhete para ir ver o Bruce Springsteen ao Rock in Rio.

Se ele estiver demasiado rouco ou desafinar aqui e ali não vou assobiar.

Está tudo doido? Gastamos dinheiro porque queremos assistir a um espectaculo que contribua para a nossa felicidade.
A melhor forma de sermos felizes não é assobiar os actores que vamos assistir.

Voltamos ao tempo do Coliseu Romano?

Quem está frustrado que fique em casa aos socos no rádio ou na TV a descarregar.

Saudações

Rabah Madjer disse...

Nem mais cara Mafalda, se não somos nós a apoiar e a ajudar a equipa mais valia jogar sempre fora.

Não aceito nem concebo assobios aos nossos atletas, nos temos que somar e somar é criar ambiente para eles de sentirem amparados e protegidos.

Casagrande disse...

Manuel Castro,

Relativamente à pergunta colocada concordo consigo.
Aburguesados pelas vitórias. Claramente.

Na alusão ao "passamos a comer camarão" pretendo deixar essa ideia.
Não só são os jogadores que se vão aburguesando com vitórias. Eles querem ir ganhar para outro lado nós damos por adquirido algo que se conquista com suor. Sempre.

O Porto não é obrigado a ganhar. Tem é de criar a sensação que tudo faz para consegui-lo.

dragao vila pouca disse...

Amigo, é assim:
quem chega de novo e quer ter link no meu blog, primeiro tem que linkar o meu. Foi assim que eu fiz quando comecei nestas andanças.

Sobre os assobios, a minha posição é simples: só no final.

Abraço

Unknown disse...

Caro Dragão Vila Pouca, como apreciadores do seu Blogue linka-mo-lo desde inicio, ou então não estamos a perceber o conceito o que é natural visto ser-mos novos neste espaço, mas dê uma olhade-la por favor do lado direito nos "Espaços que seguimos"
Se ão for esse o conceito pedimos desculpa e agradecemos que nos elucide melhor, Obrigado.

dragao vila pouca disse...

Ok, só vi no perfil, nos blogs que estão a seguir e aí não está o Dragão até à morte.
Já estão linkados

Artur disse...

Pelos vistos vamos ter uma grande noite na Terça-Feira.

O estádio vai rebentar pelas costuras com as promoções e vendas a preço de saldo.
É estranho esta campanha num jogo que pela enorme importância deveria significar casa cheia.
Esperemos que não se ouçam assobios nem durante nem no fim.

Breogán disse...

A melhor parte do artigo está na desmistificação que faz do assobio.

Nem bom adepto é aquele que só assobia, nem aquele que só apoia. Tudo tem o seu momento e a sua dose.

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