segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

GALLO, COLO, PACIÊNCIA.



TER GALLO. NÃO TER COLO. PERDER A PACIÊNCIA.
Há 3 razões que justificam a derrota que compromete de forma quase irremediável as possibilidades de conquistar o titulo.

A primeira foi a actuação das equipas de arbitragem na 1ª volta do campeonato.

A segunda foram os erros individuais de alguns jogadores e a terceira o facto de Lopetegui não ter sabido devolver à equipa aquilo que ela tinha perdido na 1ª volta por factores extrinsecos e no jogo de hoje por azelhice, incompetência e falta de sorte.

Lopetegui escolhe uma equipa aceitável por todos para o jogo dos Barreiros. Era por dentro que o Maritimo costumava implodir e não fazia sentido abusar do jogo exterior.

Nesse sentido alinha Quintero e ter bola, jogar mais por dentro e controlar o jogo no meio-campo adversário pareceu mais provável.

Escolheu Quaresma em vez de Tello e essa decisão também era aceitável porque se antevia um bloco baixo, condição em que ter bons pés é mais importante do que ter pernas velozes.

O jogo começa como pretendido. Domínio territorial e absoluto do Porto, Fabiano de férias na Madeira e Quintero a jogar por dentro.

A ala esquerda do Porto joga em triangulações com Alex, Oliver e Quaresma.

À ala direita do Porto falta um elemento: Danilo e Quintero.

Herrera joga à frente de Casemiro tentando fazer a conexão com Jackson.

Quaresma também parece ter a lição bem estudada e não se cola à linha.

O principal problema foi o de colar excessivamente Oliver à esquerda tirando-lhe jogo e tirando-o do jogo num relvado onde nenhum grande consegue jogar futebol com 0-0 no marcador.

Maicon de cabeça, Casemiro num remate à entrada da área, Quintero de longe e Quaresma num drible para dentro que acaba nas mãos de Salin comprovam o domínio da partida.

Entre a 1ª parte deste jogo e o da semana passada há algumas diferenças que merecem ser salientadas:

  • ·        O Porto domina mais o jogo que o Benfica na 1ª parte.
  • ·         O Maritimo joga com a defesa mais subida na semana passada do que hoje.
  • ·         O Maritimo chega mais vezes ao meio-campo adversário na semana passada do que hoje.
  • ·         Porto e Benfica têm escassas oportunidades de golo na 1ª parte do jogo.
  • ·         Ola John abre, Bauer estaciona e Salvio marca.
  • ·         João Diogo cruza, os centrais disputam a bola com Maazou aliviando-a para a frente onde Gallo tem tempo para preparar o pé antes que Maicon se aproxime rapidamente e se encolha infantilmente para o lance do golo.
  • ·         Talisca não é expulso.

Quem analisar as primeiras partes das 2 partidas percebe que também aqui a relevância do Colo e do Gallo se fazem sentir.

Na realidade o Porto estava a fazer uma boa circulação de bola mas falhava, até ao golo que vira tudo do avesso, no posicionamento de Oliver e dos laterais. Danilo e Alex Sandro precisavam de ser mais profundos porque o Maritimo jogava baixo e estava exclusivamente interessado em defender.

Para que isso acontecesse, seria necessário que o Porto tivesse um trinco que soubesse comportar-se no contexto de uma equipa grande.

Não tem. Casemiro joga sem responsabilidade. R-E-S-P-O-N-S-A-B-I-L-I-D-A-D-E.

Está em voga louvarem-se médios defensivos que saibam passar a bola e que sejam bons no início de construção, como se um bom 1º passe em zona defensiva  de uma equipa que joga em posse fosse decisivo. Não é.

Um bom 1ª passe numa equipa como o Porto é fundamental, apenas, para a equipa se salvaguardar da pressão alta adversária. Apenas serve para defender melhor porque quando o 1.º passe entra a equipa do Porto não acelera para a grande área adversária. Apenas se instala, sem pressas, no meio-campo adversário.

Numa equipa de posse que, teoricamente, mete muitos jogadores no meio-campo adversário seja em posse ou em pressão o que é necessário é ter um médio defensivo atento e responsável. Atento às zonas desocupadas pelas incursões dos laterais e atento às segundas bolas nos contra-ataques que passam a peneira da 1ª pressão.

O 1.º lance do Maritimo era perfeitamente inofensivo se o central do Porto tivesse metido o corpo à frente do pé do Gallo e/ou se tivesse um médio defensivo que não fosse o 6.º ou 7.º jogador a chegar à area e estivesse de frente para o lance e não de frente para Fabiano num sprint.

Em tese é o médio defensivo que compensa desposicionamentos estratégicos e naturais dos seus companheiros de equipa.

Neste lance foi o medroso Maicon que tentou compensar o desposicionamento do médio defensivo.
Casemiro vinha lá de baixo. Como de costume não estava lá.

Tivemos Gallo. A somar à irresponsabilidade e ao medo há também muito Gallo.

O jogo tinha só um sentido e a equipa tinha entrado com vontade de resolver o jogo cedo ao contrário de outras deslocações  (Barcelos, por exemplo).

Nesse momento em que o presente nos dá um estalo, o passado tira-nos do sério.

O passado é o Colo. Num jogo normal da 18ª jornada em que o Porto estivesse colado ao Benfica não se viveria o tumulto mental que se propagou em toda a nação portista.

Eu fiquei nervoso porque estávamos a 6 pontos e empatar era o fim.

A equipa intranquilizou-se mais do que seria esperado porque não podia perder pontos ali.

Havia 1 hora pela frente mas nas nossas cabeças o TIC-TAC tinha começado. Faltou capacidade mental para jogar aquele jogo como se isto não tivesse acontecido:



Nunca faltou atitude, nunca faltou vontade de correr atrás. O que faltou foi capacidade para ignorar que mesmo estando a 6 pontos não podiamos jogar com o TIC TAC na cabeça.

Nunca como neste jogo eu senti o peso do COLO que o Benfica teve na 1ª volta.

O video não pretende desculpabilizar erros próprios nem tapar o sol com a peneira.

O video pretende que ninguém se esqueça que para além das incidências da partida o contexto em que ela se desenrolou também teve relevância. Esquecer isso para sentenciar tudo e todos é viver na cultura do imediato e tapar o COLO com o GALLO.

Ao contrário da conferência de imprensa de Lopetegui em que ele afirmava que se tentava abstrair de coisas (arbitragem) que não conseguia controlar o que se viu nas acções frenéticas e epiléticas que vieram do banco é que não foi capaz de se abstrair das consequências do Colo da 1ª volta. Devia ter sido.

A pressão esteve nas cabeças dos adeptos, dos jogadores e também do treinador.

Eu não consegui ver o jogo sem pensar que podia estar a 1 hora do fim da luta porque esta era uma derrota provisória diferente de todas as outras. Compreensível.

Os jogadores não conseguiram esconder os nervos e o desânimo com a inglória luta que estavam a ter. Compreensível.

O treinador perdeu-se no meio da pressão. Tomou decisões a mais, pouco intervaladas. Incompreensível.

Ao minuto 46 abandonou a estratégia inicial. Pensou que dar largura ao jogo era melhor.

Decisão 1: Dois extremos abertos, Oliver mais no meio e vamos a eles.

Meu pensamento:  Não me parece que fosse esse o problema mas é normal que a primeira reacção seja voltar ao Porto-tipo dos últimos jogos.

Consequência: O Porto entra bem e em 10 minutos tem 2 oportunidades de golo soberanas.Bauer salva jogada de Quaresma com Oliver e Indi falha um golo fácil na pequena área na recarga a um remate de Casemiro. A Decisão 1 de Lopetegui parece estar a dar certo.

Decisão 2 aos 55 minutos: Sai Herrera e entra Gonçalo Paciência

Meu pensamento:  Se em 10 minutos a equipa reage bem porquê mudar a medicação de forma tão rápida? Se era para jogar 2 avançados em cunha é demasiado cedo para isso.

Se a ideia é para jogar Gonçalo à frente com Jackson atrás, seria preferível ter só gasto 1 substituição em vez de duas tirando Herrera e metendo Tello ao intervalo.

Isto porque Quintero a 10 é melhor que Jackson a 10 e porque Jackson a 9 é melhor que Gonçalo a 9.
Dois erros.  Demonstra impaciência no banco e incapacidade para ler o que o jogo estava a dar. Um treinador tem que ser o último a perder confiança e serenidade.

Consequência: A equipa demora a adaptar-se a esta alteração. Primeiro parece que é Gonçalo que fica atrás de Jackson para mais à frente trocarem de posição obrigando o colombiando a ser médio quando precisavamos do 9 TOP MUNDIAL na cara de Salin.

Decisão 3 aos 63 minutos: Sai Indi e entra Rúben Neves

Meu pensamento:  Não gosto de esgotar substituições a meia hora do fim. O ganho de tirar um amarelado é compensado com o risco de ficarmos descalços para qualquer lesão.

Gosto de substituições que fazem a leitura correcta do jogo (3 defesas) mas à priori esta parecia uma alteração para compensar o erro da 2ª.

Imagino o Lopetegui a pensar: “Fiz asneira há 4 minutos! Não tenho gente no meio-campo central”

Fez asneira porque nunca deixou a equipa acalmar depois do 0-1. Saímos bem do intervalo mas como não marcamos foi um Ai Jesus e toca a mexer.

Fez asneira porque na prática não ficamos a jogar com 3 defesas.

Como Indi a central é melhor que Casemiro a central o único beneficio prático foi termos um médio com melhor passe junto de Oliver porque quantitativamente o Porto continuou a ter apenas 2 médios-centro.

Consequência: A equipa esteve sempre sobressaltada. Logo a seguir surge o lance em que Jackson isola Tello, a bola vai ao poste e Salin defende recarga miraculosamente.

Depois disto foi tudo em sofreguidão e demasiada mobilidade posicional anárquica.

O Porto volta a estar perto do golo no fim do jogo (Ruben Neves e Tello) e no global tem oportunidades de golo suficientes para merecer outro resultado mas fica no ar que faltou qualquer coisa.

Faltou cabeça a Maicon para não ter medo ao minuto 32.

Faltou cabeça de Casemiro para ser responsável ao minuto 32 e estar no sítio.

Faltou paciência a Lopetegui que em escassos 18 minutos fez tudo e o seu contrário.

O Gallo do minuto 32 feriu-nos. Associado ao Colo da 1ª volta deixou-nos em estado comatoso. A falta de Paciência de Lopetegui deu a estocada final.


Análises Individuais.

Fabiano – Sem culpa no golo e sem trabalho no jogo. Incrível.

Danilo – Faltou que fosse o médio-ala que precisavamos. A equipa esteve quantitativamente tombada à esquerda na 1ª parte e isso limitou as incursões de Danilo.
Na 2ª parte tentou ser mais afoito no meio da anarquia mas acaba por não conseguir marcar a diferença como já fez noutros jogos.

Alex Sandro – O mesmo problema de Danilo com a agravante de revelar algum desleixo na saída de bola e a tradicional falta de inteligência quando o extremo ganha-cantos e ganha-livres tentava que Alex caísse na esparrela. Sempre que Edgar Costa tentou Alex caiu.

Maicon – Está marcado pelo lance do golo. Há uma diferença entre disputar uma bola com vigor importunando o aversário e fazer pénalti mas Maicon não a conhece e protegeu-se desprotegendo-nos.
Com bola vimos alguns balões despropositados e passes transviados.
 Just another day at the office.

Indi –  Pouco trabalho. Disputa a bola e incomoda Maazou no lance do golo, recebe um amarelo desnecessário e desaproveita todo o espaço que lhe era dado na saída de bola.
Hoje, os centrais do Porto podiam desde o ínicio do jogo entrar no meio-campo adversário a passo que não seriam importunados. Quando a partida nos dá algo de diferente ao esperado devemos aproveitar.

Casemiro – Disputa bolas com pé de ferro pela parcela de relvado que pisa e é dos poucos jogadores do Porto que tem feeling de golo nas botas e na cabeça.
É demasiado instintivo e pouco cerebral para ser o médio defensivo de uma equipa grande.
Basta ver onde está Casemiro na altura em que Gallo remata para perceber tudo.
 Assistir a essa cena é como ver um extremo do Porto a fintar dois adversários e a dar uma bola de golo que um ponta de lança falha por ainda não ter chegado à área.
Ele tem que lá estar. Pode falhar mas tem que lá estar.

Oliver – O jogador mais apagado na 1ª parte. Andou demasiado colado a Quaresma e a Alex Sandro e pouco ligado ao jogo e o Porto ressentiu-se disso.
Lopetegui fez bem em mantê-lo para a 2ª parte porque quando Oliver se soltou como médio-centro as oportunidades começaram a surgir de imediato. No meio da anarquia tactica da 2ª parte foi aparecendo e tentando dar linhas de passe para a equipa acalmar e respirar.

Herrera – Começa muito bem com os motores bem aquecidos sendo um dos principais responsáveis pelo Porto controlador e dominador da primeira meia-hora.  Quando o jogo está calmo o nervo de Herrera parece uma benção mas quando as coisas se agitam faz falta alguém com voz de comando e que dê ordem ao meio-campo.
Hoje, quando o jogo se enervou Herrera afundou.

Quintero – Estava a fazer o que era suposto e acaba por não merecer a substituição. Jogou mais a 10 do que a médio ala e as bases em que o jogo estava lançado perspectivavam que o seu génio pudesse surgir.
Continua a jogar em demasia com Jackson. Qualquer movimento que Jackson faça quando Quintero tem a bola parece cegar o pequeno 10. Não vê mais ninguém e a bola tem que ir para o Cha Cha Cha.

Quaresma – Dos melhores jogadores enquanto não incorporou que o jogo dificilmente seria ganho.  Criou perigo seja em jogadas individuais em que parte o defesa e tenta o golo como em combinações com Oliver.
Foi constante e sempre perigoso para a baliza do Marítimo. Como aspecto negativo a salientar está o excesso de bolas paradas que continua a marcar.

Jackson – Um jogo inglório. Não foi o ponta de lança que a equipa precisava mas a dada altura teve que ser o médio ofensivo que a equipa não tinha.
Jackson não tem o dom da ubiquidade e quem organiza a equipa deve dar-lhe condições para estar onde é letal. Não faz sentido ver Jackson a jogar na posição de Herrera quando o Porto está a perder.


Tello – Teve um impacto imediato na partida fazendo valer a sua velocidade para surgir na cara de Salin atirando ao poste. Em 45 minutos acaba por ser o jogador com o maior número de remates perigosos à baliza o que revela a avalanche ofensiva da 2ª parte.

Gonçalo Paciência -  A sua entrada confundiu mais a sua equipa do que o adversário.
Individualmente até esteve bem disputando bolas, usando o corpo e arrancando a expulsão de Raul Silva mas foi cedo demais para o relvado desestruturando a mecânica colectiva que vinha dos balneários e obrigando Jackson a pisar outros terrenos.

Rúben Neves – A lacuna apontada a Herrera é uma qualidade de Rúben. Quando os jogos se agitam é de jogadores serenos com bola que precisamos e essa é uma qualidade que tem e que pôs no jogo assim que entrou.
O grande defeito apontado a Casemiro é também uma qualidade de Rúben. Ele sabe que terrenos pisar e é responsável.

Sendo calmo e responsável não foi capaz de organizar sozinho o caos em que a equipa se tornou.

Ficha de jogo:

Marítimo 1 - 0 FC Porto
Primeira Liga, 18ª jornada
Domingo, 25 Janeiro 2015 - 18:00
Estádio: Estádio do Marítimo, Madeira

Árbitro: João Capela (Lisboa)
Assistentes: Ricardo Jorge Santos e Tiago Rocha
4º Árbitro: Ricardo Baixinho

MARITIMO: Salin, João Diogo, Raúl Silva, Bauer, Rúben Ferreira, Fernando Ferreira, Danilo Pereira, Bruno Gallo, Edgar Costa, António Xavier, Maazou.
Suplentes: José Sá, Briguel (90+5' Bruno Gallo), Alex Soares (85' Maazou), Theo Weeks, Fransérgio (66' António Xavier), Micolta, Ebinho.
Treinador: Leonel Pontes.

FC PORTO: Fabiano, Danilo, Maicon, Martins Indi, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Óliver Torres, Quaresma, Jackson Martínez, Quintero.
Suplentes: Helton, José Ángel, Ricardo, Marcano, Rúben Neves (63' Martins Indi), Tello (46' Quintero), Gonçalo Paciência (59' Herrera).
Treinador: Julen Lopetegui.

Ao intervalo: 1-0.
Marcadores: Bruno Gallo (32').
Disciplina: cartão amarelo a Raúl Silva (35'), Martins Indi (36'), Edgar Costa (75'), Danilo Pereira (77'), Danilo (83').Segundo amarelo e vermelho a Raúl Silva (77').


Por: Walter Casagrande

2 comentários:

Sérgio de Oliveira disse...

Excelente !


Abraço

Anónimo disse...

LER com atenção:

http://www.ojogo.pt/opiniao/Cronistas/josemanuelribeiro/interior.aspx?content_id=4364092

'Como perder este campeonato sem perder também os próximos é um dos problemas imediatos dos portistas. O outro é explicar isso aos adeptos.

O jogo que o FC Porto fez ontem na Madeira pôs-lhe em causa o campeonato. Os próximos podem pôr-lhe em causa as épocas que vêm, não exatamente por causa dos resultados, mas porque precisará de convencer os portistas a criarem essa coisa contranatura que se chama paciência. Desde 2011 que o repto, nos gabinetes do Dragão, tem um nome conhecido, embora irrelevante para o adepto comum: estabilidade. É um problema que não afeta o Benfica nem, em certo grau, o Sporting. Por força dos gastos, do potencial de alguns reforços e também do discurso, as expectativas sobre esta equipa escalaram, mas o FC Porto tinha, logo à partida, vários montes Evereste para superar: um plantel quase inteiramente novo, uma maioria absoluta de jogadores inexperientes e demasiado jovens, um treinador novo (estrangeiro) e ideias novas para atacar um campeão nacional que é o exato oposto em todos os itens. Se mantiver o ciclo de autodestruição que rebentou com Paulo Fonseca e, de certo modo, também com Vítor Pereira, essas múltiplas vantagens do Benfica nunca mais pararão de crescer. No Dragão sabem disso porque estiveram do outro lado da equação durante 30 anos. Dizer que o FC Porto nunca se rende é bonito, mas leva tempo a aprender que isso não significa gritar contra os árbitros e correr para onde calha.'

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