Os 2 jogadores do Porto com maior
cartel internacional chamam-se Jackson Martinez e Yacine Brahimi. São os
cabeças de cartaz da equipa.
Ontem jogamos mancos. O
Colombiano passou 78 minutos a tentar colaborar de forma eRrática. O argelino
passou 56 minutos escondido do jogo. Nem errático esteve. Simplesmente não
esteve.
A boa notícia é que o Porto
conseguiu fazer um bom jogo sem as suas estrelas.
Nas últimas semanas e com a
inclusão de Oliver numa linha próxima de Casemiro a equipa sai a jogar de forma
menos insegura.
Nas últimas semanas, com a
sedimentação de Oliver como parceiro de Herrera vimos o mexicano a pegar na
equipa ao colo e a fazer, com fulgor físico, o IO-IO entre a defesa e o ataque
que compatibiliza segurança defensiva com preenchimento numérico da área
ofensiva. Defendemos melhor e chegamos com mais gente lá à frente.
Essa melhoria de processos
defensivos e a rotina de movimentos no meio-campo (onde tudo se decide)
permitiu que a equipa arrancasse para uns excelentes 20 minutos.
Com a Herrera a fazer de MVP em
part time, com Oliver a fazer um trabalho de Lucho e Danilo, Alex e Tello a dar
asas à equipa percebemos que mesmo mancos de estrelas podemos ter equipa.
Num dia em que Jackson se resolva
travestir de Martin Pringle e Brahimi se arme em Fabio Paim de meia tigela estamos vivos.
Estamos vivos porque há mais vida
para além dos craques e estamos vivos porque a equipa está a adquirir rotinas
que lhe permite estar menos dependente dos craques.
Há motivo para preocupação quando
sentimos que no Jogo A ou B só ganhamos porque Jackson ou porque Brahimi....
Quando o individual disfarça lacunas estruturais do colectivo.
Quando sucede o contrário estamos
no bom caminho.
Após os 20 minutos em que faltou
finalizar as jogadas construídas pelas asas do avião FCP a equipa foi
levantando o pé do acelerador. É nessa altura que o mexicano se começa a
desgastar e o Rio Ave ganha confiança por ter sobrevivido ao vendaval inicial.
Na 2ª parte a sorte paga a divida
da primeira parte. O golo madrugador que surge após deslize de Marcelo permite
que a equipa se tranquilize e Lopetegui faça o que era preciso ser feito sem
pressão das bancadas.
Com Tello já sem o fulgor gasto
em sprints diabólicos na 1ª parte e Pringle e Paim a não acertar a nota o peso
da equipa ficava todo nos ombros do meio-campo que não podia deixar de picar o
ponto no ataque, órfão dos ausentes Jackson e Brahimi.
Casemiro devia, mas já não podia
ser tão agressivo porque já estava amarelado. Oliver é um excelente
condicionador do jogo ofensivo adversário porque pressiona com inteligência,
ocupa bem os espaços e sabe ganhar o tempo que a equipa precisa para a
transição defensiva.
Se é um excelente condicionador
não se destaca pela agressividade na luta pela posse. Em choque de canelas,
chuteiras e o que for preciso na disputa de bola centímetro a centímetro.
Herrera condiciona pior mas
agride melhor. Sucede que ele e Tello eram os que mais acusavam o esforço que
acarretou levar a equipa manca ao colo na 1ª parte.
Neste contexto o Porto sofre.
Sofre, porque quem devia pôr em sentido a defesa do Rio Ave meteu férias o que ajuda
a empurrar o jogo para a baliza de Fabiano.
Lopetegui percebe que dar 1 passo
atrás é fundamental e com a abençoada capa de protecção do 1-0 tira um jogador a
menos no ataque para introduzir um jogador a mais no meio-campo.
O público compreende a retirada
da sua estrela. Reage, dando razão aos olhos em vez do coração emocional que só
quer talento no relvado.
O efeito é imediato. Rúben, por
si só, não faz a equipa atacar melhor mas impede que o Rio Ave continue a
invadir a grande área portista o que era um excelente 1.º passo.
Rúben continua com a classe dos
passes mas entra como se fosse o Bobó do Boavista da década de 90. É hora de
aquecer umas canelas adversárias para mostrar quem manda.
O passo atrás fundamental tinha
sido dado. Reganhar o controle do jogo.
Cumprido esse desiderato havia
margem de manobra para ir em busca daqueles 20 minutos da 1ª parte. Hora dos 2
passos em frente.
Na minha cabeça estava na hora de
sair o Pringle. Se sem Paím tínhamos melhorado com o Aboubakar iriamos voar.
Lopetegui faz a distinção entre
quem nem tentou errar (Brahimi) e quem ia errando (Jackson) e age em
conformidade. A estrela fica e quem sai é Herrera.
Magia lá para dentro. Quintero
não entra tão bem como Rúben mas a equipa parece dar continuidade à ideia de
Lopetegui.
Marcano e Casemiro cheiram o golo
e ao bater dos 78 minutos Pringle desincorpora do corpo de Jackson Martinez que
tem uma jogada digna dos eleitos. Lopetegui tinha razão.
2-0, jogo fechado e os 2 passos
em frente dar-nos-iam os 3 pontos necessários.
Acaba a luta tactica com o
adversário externo e começa o desafio com o amigo interno.
Alex Brilha, Oliver carimba e
Danilo fica possuído pelo DEMO.
O resultado é enganador e
tremendamente injusto para o Rio Ave mas é filho duma equipa que se sabe
segurar melhor, duma equipa menos dependente dos craques e dum treinador que
soube ler o jogo por entre Paims, Pringles e Bobós.
Análises individuais:
Fabiano – Confiança.
Ele está cada vez mais confiante e nós confiamos nele cada vez mais. É um
círculo virtuoso que espero nunca venha a ser quebrado.
Danilo – Escrevam
comigo: JOGADOR À PORTO, JOGADOR À PORTO, JOGADOR À PORTO.
Sempre defendeu melhor que Daniel
Alves. Agora ataca melhor que Daniel Alves. É um verdadeiro galgo possuído pelo
demónio que inferniza a vida ao lateral sem que o médio-ala adversário perceba
quando e como é que o galgo passou por ele.
Foi assim na 1ª parte de forma
regular e na 2ª esporadicamente.
O lance dos 93 minutos é de
alguém que joga sem saber o resultado. De alguém que acorda às 8.20 quando tem
viagem de avião marcada para as 8.35.
Que horas são? Chiça! Abre!
Danilo ao minuto 92.30
esqueceu-se que estava 4-0 e correu para apanhar o avião.
Revejam o lance, por favor. O
ataque em sprint para se antecipar ao adversário e ganhar a bola. Recupera a
bola já em 6ª velocidade e mete a 7ª velocidade em direcção ao aeroporto.
O Carro chia por todos os lados.
Sem abrandar e com o avião a partir não há tempo para esperar pela perna
direita. Vai com a esquerda. Quero lá saber.
Quando era puto via resumos do
futebol alemão no Domingo Desportivo e ficava maravilhado com golos de outra
galáxia. Ontem vi a outra galáxia.
Alex Sandro– A
dupla de laterais do Porto é melhor do que qualquer candidato a vencer a
Champions. Real Madrid, Barça, Bayern e Chelsea. Não há pai.
Alex Sandro fez um jogo competente cumprindo com o que era
suposto e ainda o trabalho de quem tinha metido férias. Está a recuperar a
forma e mereceu a sorte daquele ressalto.
Martins Indi – Não
há dúvida que é o melhor central do Porto. É a antítese de Mangala. Este faz
jogos bons mas sentimos que o melhor Martins Indi não será muito melhor do que
vemos. Mangala fazia vários jogos sofriveis mas deixava sempre a ideia de poder
tocar o céu.
Dado o actual plantel de centrais do clube, ter um tecto
mais baixo mas que nos proteja da chuva é mais importante.
Marcano – O Pé
direito parece ser para subir o autocarro. Enquanto Lopetegui não olha a sério
para Reyes está numa luta titânica com Maicon para a titularidade. Marcano tem
menos potencial mas é mais rato e tem menos paragens cerebrais. Maicon tem tudo
o que é preciso mas mostra aquilo que sabemos. Quem ganhará?
Avaliando as últimas exibições de ambos Marcano está à
frente. Por pouco, mas à frente.
Casemiro – Posicionalmente
está muito melhor. A rotina da posição 6 e a rotina dum formato de meio-campo
estabilizado sem experimentalismos de duplos pivot´s fazem-lhe bem. Ontem
voltou a revelar a tendência para a agressividade disparatada que lhe roubam
balas para a luta. Na fase complicada do jogo precisávamos de agressividade e
Casemiro não podia porque andou a brincar às tesouras na 1ª parte.
Oliver – Pêndulo. É o jogador mais importante para o Porto de hoje
estar mais seguro colectivamente e para jogadores como Casemiro e Herrera
estarem a crescer individualmente.
Durante os 90 minutos ele está
próximo e troca passes com todos. Tanto o vemos perto de Indi como de Jackson.
Dá apoio e linha de passe a toda a gente. Não sprinta mas nunca para.
Falta-lhe remate, falta-lhe a
chegada à área de Herrera mas é um jogador de Lucho. Os portistas percebem a
importãncia de artigos luchuosos.
Herrera – Hoje é indiscutivel na equipa. Varre o campo todo e é um
dos focos desestabilizadores para qualquer equipa porque tanto arranca em
velocidade, como remata.
Tudo isto é feito sem que os
terrenos que o mexicano pisa sejam previsiveis. Não é um 10 mas aparece na
posição 10 quando lhe dá. Não é um 9,5 mas anda por lá quando lhe dá na gana.
Vagabundeia por ali sem deixar de ser 8 e sem deixar de ajudar Oliver e
Casemiro.
Puro sangue. A irracionalidade e
as lacunas que tem começam a ser café pequeno para o que tem dado à equipa.
Brahimi – Fábio Paim. Estava a espera de criticar o Brahimi por se
agarrar muito à bola, por falhar drible após drible. Não imaginava fazê-lo
porque teve uma atitude em campo como se
estivesse com limitações fisicas, como se não lhe apetecesse correr, como se
estivesse a pensar noutras coisas.
Conquistou crédito suficiente para não fazer de um Paím um caso mas
preferia vê-lo a jogar mal do que a não jogar.
Tello – O único do ataque ligado e competente. Começou com o gás
todo e a deixar os adversários a milhas sempre que ligava o turbo. Por ele o
Porto não tinha demorado 47 minutos para fazer 1-0. Foi por ele que o Porto não
demorou mais de 47 minutos para marcar.
Mostrou que merece ser titular. É
único e com o tempo saberá aprimorar a finalização.
Jackson – Ou chegava atrasado, ou falhava as tabelas, ou falhava a
recepção ajudando a lançar o contra-ataque adversário. Um pouquinho do grande
Jackson de 2014/15 teria bastado para evitar o sofrimento da 2ª parte. Não se
pode dizer que tenha forte corpo mole porque o colombiano errou por não deixar
de tentar mas é verdade que fica mais dificil nos dias em que Pringle desce ao
Dragão. Ao minuto 78 biqueirada na bola e nas pringueladas que o assaltaram
durante mais de uma hora. Ponta de Lança de Champions de regresso.
Rúben Neves – Surpreendente. Tem amargado no banco há vários jogos
o que poderia levá-lo a desmoralizar face à quebra do sonho.
Jogo dificil com o Porto a perder
a mão. Lopetegui chama-o e traça-lhe uma missão. Rúben entra à Bobó e não
deixando de fazer do relvado uma mesa de bilhar com os passes teleguiados
cumpre com 17 anos e corpo de menino o que nós imaginavamos ser tarefa para os
Diakhités desta vida. Morder canelas,
entradas de sola, pé no tornozelo.
Rúben não deixou de ser Neves mas
deu ao Porto o Bobó que precisávamos.
Quintero – Teve
um ou outro pormenor de classe (4.º golo) mas não se pode dizer que a sua
entrada tenha sido a que fez saltar o marcador de 1-0 para 5-0. Cumpriu sem
grandes brilhantismos ajudando a equipa a dar os passos em frente necessários.
Quaresma – Pouco
tempo em campo. Suficiente para ver de perto o que faz o Demónio quando baixa
na pele de um profissionalão da bola.
Ficha de jogo:
FC Porto 5-0 Rio Ave
Primeira Liga, 11ª jornada
Domingo, 30 Novembro 2014 - 20:15
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 30.328
Árbitro: Olegário Benquerença (Leiria).
Assistentes: Bertino Miranda e Luís Marcelino.
Quarto Árbitro: Pedro Vilaça.
FC Porto: Fabiano, Danilo, Martins Indi, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Óliver Torres, Brahimi, Jackson Martínez, Tello.
Suplentes: Andrés Fernández, Maicon, Quaresma (83' Tello), Quintero (70' Herrera), Adrián López, Rúben Neves (56' Brahimi), Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.
Rio Ave: Cássio, Lionn, Marcelo, Prince, Tiago Pinto, Wakaso, Pedro Moreira, Diego, Ukra, Esmael, Marvin Zeegelaar.
Suplentes: Ederson, Luís Gustavo (78' Pedro Moreira), Hassan (62' Marvin Zeegelaar), Boateng, André Vilas Boas, Roderick, Del Valle (69' Esmael).
Treinador: Pedro Martins.
Ao intervalo: 0-0.
Marcadores: Tello (47'), Jackson Martínez (78'), Alex Sandro (89'), Óliver Torres (90+1'), Danilo (90+3').
Disciplina: amarelo a Esmael (28'), Lionn (29'), Casemiro (38'), Wakaso (44'), Martins Indi (67'), Luís Gustavo (86'.
Por: Walter Casagrande
2 comentários:
Parabéns ao Tribuna Portista pelos excelentes comentarios que fazem aos nossos jogos.
E sem qualquer desprimor pelos varios portistas que cá deixam as suas otimas análises, vale a pena destacar que as análises do Walter Casagrande e do Breogan (este anda desaparecido?) são absolutamente impares!
Não parem nunca.
Walter Casagrande deixa-se levar pela emoção. Como demos 5-0, mesmo sem fazer uma exibição ao nível do resultado, elogia muito os jogadores, se tivessemos empatado seria uma chuva de críticas
Breogan é mais frio e mais certeiro.
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