domingo, 24 de junho de 2012

O PENTA: A festa da Consagração vista pelo Jornal "O Jogo"



Trinta de Maio, a festa da consagração


A festa no estádio e as boas vibrações







No estádio a festa começou cedo, logo que os portões se abriram, às 14 horas. Junto à Torre das Antas o entusiasmo era o mesmo que se pode ver num qualquer concerto de rock, Com tudo, mas mesmo tudo, pintadinho de Azul e Branco e com o que era ícone do Penta a vender-se melhor que a Super Bock geladinha.





Lá dentro, a festa também estava preparada para cerca de 50 mil entusiastas. As jovens, maneantes e bonitas dançarinas, davam o mote ao som das músicas tecno… Penta. Entram em campo, primeiro, os elementos da equipa de karaté Portista. Pois é, as meninas das artes marciais também foram campeãs nacionais.
Na mesma onda oriental entrou em terreno o célebre dragão do Penta, um talismã que todos os anos sobe ao relvado nestas alturas. Os alunos da escola She-si, sita em Cedofeita, a freguesia de nascimento do presidente Pinto da Costa, deram vida à milenar dança do dragão.

A primeira «ola» é formada a 50 minutos do início do jogo e foi uma maré que nunca mais parou e que saudou também a entrada dos Pentacampeões em campo, para a foto tradicional e na companhia dos filhos e de outros familiares. Os jogadores Portistas, claro, mais uma vez não dispensaram as pinturas nos cabelos e no rosto.

Do céu caíram – passe a força da expressão – pára-quedistas enquanto se preparava o desfile de outros campeões: Basquetebol, Andebol, Hóquei em Patins, Boxe e Natação. Rui Reininho – com a sua pronúncia do Norte, cada vez mais longe de ser um prenúncio de morte – e o conhecido vira dos “Mamonas Assassinas”, aceleraram o ritmo de uma festa que começou no relvado sem Pinto da Costa. O presidente surgiu na tribuna VIP, oito minutos antes do apito inicial, na companhia do ministro Pina Moura e de Kundy Paihama, ministro da Defesa de Angola e também ele um conhecido Portista. Narciso Miranda, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Francisco Assis, líder do grupo parlamentar do PS, Fernando Gomes, presidente da Câmara Municipal do Porto, e Ludgero Marques, presidente da AIP, onde curiosamente, não se sentou José Guilherme Aguiar. O director-executivo da Liga viu o jogo, na companhia dos filhos, na tribuna de Imprensa…

Os últimos 90 minutos

FC Porto: Vítor Baía (Costinha, 80’); Nelson, Jorge Costa (cap.), Aloísio (João Manuel Pinto, 45’), Esquerdinha; Rui Barros (Carlos Manuel, 55’), Peixe, Zahovic; capucho, Jardel e Drulovic
Suplentes não utilizados: Chainho e Quinzinho

E. Amadora: Hilário; José Carlos, Rebelo (cap.), Raúl Oliveira, Kenedy; Pedro Simões, Lázaro, Jorge Andrade, Sérgio Marquês (Miguel, 64’); Stênio (Júlio, 79’) e Capitão (Fonseca, 73’)
Suplentes não utilizados: Luís Vasco e Rui Neves

Golos:
1-0 por Drulovic, aos 38 minutos. Isolou-se, driblou Hilário e rematou, descaído sobre a direita, para o fundo das malhas.
2-0 por Jardel, aos 65 minutos, que culminou uma jogada a três toques iniciada em Zahovic, que solicitou Capucho e este a servir o goleador Portista e europeu. Um golo do triangulo de ouro dos Dragões.


Melhor em campo: Emilio Peixe






Actuou, aliás como sempre tem acontecido, nos limites da dedicação, entregando-se ao jogo com grande entusiasmo, numa espécie de radar no meio campo, onde liquidou todas as iniciáticas do adversário. Grande raio de acção, pois claro, sentido de participação, absoluta generosidade para cumprir obrigações defensivas, Desta vez não foi tão efectivo no apoio ao ataque mas ainda assim soube criar lances embaraçosos no meio-campo estrelista.






Como actuaram os Dragões:

Vítor Baía – Uma exibição tranquila, num jogo sem problemas; sempre que foi convidado a participar fê-lo com toda a segurança e à vontade.

Nelson – Um regresso feliz à titularidade; foi competente na defesa da sua área e foi um dos bons animadores do ataque.

Jorge Costa – Impôs a sua autoridade com classe. Dirigiu a defesa e organizou-a com firmeza e dedicação, confirmando a sua boa forma.

Aloísio – Cumpriu sem um único erro, apostou na antecipação e ganhou, num jogo em que o seu adversário nunca foi ameaça por aí fora.

Esquerdinha – Foi elemento vivo e produtivo, saiu com coragem e energia para a frente e revelou absoluta serenidade quando foi obrigado a defender.

Rui Barros – Não começou mal, é um facto, mas o seu futebol foi oerdendo fulgor ao longo do tempo.

Zahovic – A bola nos seus pés moveu-se com alegria, de um lado para o outro, num ritmo certo, mas, desta vez, o esloveno foi só obrigado a recorrer a uma parte do seu grande repertório.

Capucho – Quando decide arrancar é como uma bala. Desta teve três sprints vigorosos e com este resultado final: assistiu Jardel no 2º golo e criou mais dois lances de golo que os seus colegas não souberam aproveitar.

Jardel – A inteligência sempre encontra uma saída – um novo golo, oportuno golo, e ofereceu outro a Drulovic.

Drulovic – Um excelente golo de um jogador com uma classe indiscutível. Acrescente-se mais dois ou três lances de qualidade na sua última exibição oficial da época.

João Manuel Pinto – Resolveu todos os pequenos problemas provocados pelo adversário, sem a mínima dificuldade.

Carlos Manuel – Escreveu o seu nome na lista dos campeões. Fica premiado o seu trabalho invisível ao longo da época.

Costinha – Tudo o que se disse sobre Carlos Manuel aplica-se a Costinha.


Devagarinho que a noite é longa

O Dragão fechou as portas. O título, esse, já estava no seu bolso há uma semana e era a altura de festejar em sua casa e com as suas gentes. Um estádio cheio, entusiástico, vestido de Azul e Branco, querendo ser também protagonista da festa. E foi bonita a festa do Penta, ainda que na despedida o jogo que opôs os portistas ao Estrela da Amadora, não tivesse sido um grande espectáculo de futebol o que, se calhar, nem era o mais importante. Mas, na hora do adeus à temporada e com semelhante desiderato, tudo se perdoa porque o objectivo foi amplamente cumprido.




Os Portista entraram… mascarados. Pintados de Azul. Demonstraram querer ganhar o jogo para fechar em beleza a época. Conseguiram-no, embora jogando devagarinho. Compreendeu-se isso mesmo. A noite iria ser longa, as comemorações desgastantes e, por via disso, nada de despender esforços excessivos que depois poderia haver… défice de forças. Seja como for, o jogo teve alguns momentos agradáveis. Mormente na etapa complementar do prélio, pois o FC Porto cresceu de produção, mostrou-se mais determinado e fundamentalmente, mas expedito. E também do lado amadorense há a registar uma intenção mais vincada, após o intervalo, porque os pupilos de Jorge Jesus não quiseram ter um papel passivo.






E surgiram algumas vezes nas imediações da área das redes de Baía, que teve uma aparatosa intervenção a remate de Lázaro e viu Pedro Simões atirar uma bola à barra.

Mas era dia de festa e o jogo não era mais do que cumprir calendário. Fernando Santos deu a todos os elementos do plantel a oportunidade de serem campeões. Carlos Manuel e Costinha tiveram o ensejo de inscrever o seu nome no galarim dos campeões.

A maior receita do ano

No dia 30 de Maio de 1999 estiveram no Estádio das Antas, 48.545 espectadores, para presenciarem o último desafio do Penta. O que originou a maior receita da temporada: perto de cem mil contos (500 mil €).
Estes números não contemplam, claro, as mais-valias conseguidas pelos candongueiros que marcaram presença nas imediações do estádio e que devem ter colhido também bons lucros, pois havia notícias de que alguns bilhetes teriam sido vendidos a 25 contos (125 €)!

De outros números falando, Angelino Ferreira, administrador da SAD, referiu no final do jogo que a transferência de Chippo para o Coventry rendeu 1,3 milhões de dólares, ou seja, cerca de 250 mil contos (1.250.000€). Ora como o marroquino tinha custado 700 mil dólares ao FC Porto, o clube aqui ganhou cerca de 130 mil contos (650.00€). Nada mal.


O dia em que o Douro galgou as suas margens

O conhecimento recíproco tornara-se absoluto, como nunca. Cada um revia-se um ser realizado, todos juntos eram milhares e milhares de corações esmagados pela felicidade. Muitos milhares. Dragões. Essa felicidade que ninguém precisou de inventar era total, o quadro que se estendeu por toda a cidade poderia traduzir-se talvez apenas nas mãos de um pintor: bastava que alguém fadado para perpetuar com firmeza ou no abstracto os sentimentos os sentimentos, se lembrasse de eliminar as margens do Douro e submergir a cidade pelas suas cores originais. Em todos os tons possíveis e imaginários. De Azul.





Nada os detinha, nada os inibia. Nas horas loucas dos sentidos, o gigantesco circo humano que coloriu a Cidade Invicta, concentrado desde as primeiras horas da tarde no parque central, vivia a embriaguez típica dos feitos raros. Por todo o Porto via-se um carrossel de loucura, circulando sem travão à volta do centro histórico, as Antas, nestes tempos o verdadeiro património mundial dos Portistas.
Ninguém pode dizer quando tudo começou, talvez há cinco anos, talvez há cinco semanas, eles e elas só sabiam agradecer o facto do Penta. Comendo, bebendo, urinando, arrotando, dançando, todo o gestual característico do humano em gozo, a festa era demasiada para corações pequenos.




Num dia como aquele os comportamentos teriam de ser desmesuradamente afectados, para irem de encontro ao fogo do vulcão do Penta. Não poderia tolerar-se comportamentos passivos ou bons comportamentos. Ardente, a cidade do FC Porto passava ao lado das Antas, convencida da proibição de entrar, invejosa de 50 mil felizardos, e caía, em vagas, na Avenida dos Aliados, onde a meio da tarde se ouviu o primeiro coro total: foi o 36º de Jardel, e o troféu que Zulmiro de Carvalho ergueu até aos 18 metros recebeu os primeiros beijos, as primeiras lágrimas.

A protecção policial não aguentou a s emoções mais fortes e na altura em que Pinto da Costa estava chegar aos Paços do Concelho já há muito se faziam poderosas rezas para os deuses do futebol Portista fazerem o milagre mais esperado depois do Penta: a continuação de Jardel.


A grande vaga final

E, como um Douro sem controlo, indiferentes ao som detestável dos que anunciavam as pilhas de nervos espalhadas por alguns estádios do País, as gentes começaram a tomar-se de febres incontroláveis ao fechar do 2-0 nas Antas. Perto e longe, por todos os acessos, deu-se a grande vaga final, a procura desesperada de um lugar no terraço da avenida. Lá, no fundo, as mãos cruzavam-se, impacientes, atrás dos restos de pilhas de símbolos do Dragão, sugadas na Loja Azul montada no fim da praça, onde se amontoavam as notas que pagaram o raro prazer de levar tudo o que consubstanciasse o Penta.

Consumada a rotura de stocks, afagava-se o desejo nos copos, nas farturas, em tudo o que testemunhava que S. João tinha sangue Azul. Olhava-se o topo e, sem portas à imaginação, destacava-se o cume da gigantesca obra do Penta, num aço prateado, brilhante, num contraste belo com a vegetação, a visão suprema, a visão suprema, algo que surgiria terrível aos credos suspensos pelo inimaginável Penta, essa conjugação de títulos que foi capaz de gerar os maiores desequilíbrios e que, pronunciando sobre a magnitude da praça, ganhara os contornos do mais angelical protector da ordem do Dragão. O prazer que se captava desses olhares lembrava a entrega dos cinco sentidos, um por cada título. E quando o cortejo dos campeões chegou qualquer coisa engoliu a capacidade descritiva. O jorro de emoções deixou de ter lugar nas páginas despretensiosas de um qualquer jornal…
Fonte: Jornal " O Jogo"



Por: Nirutam

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