Kralj, a música e Fernando Santos
Ivica Kralj vivia num andar mesmo por cima daquele que é(ra) habitado por Fernando Santos, bem perto do Estádio das Antas. O guarda-redes jugoslavo tinha manias muito próprias, nos relvados e fora deles. Era capaz, num treino, de fazer grandes defesas e, a partir de certa altura, alhear-se, dependendo também de quem estava a assistir. E gostava, também, de ouvir música com uns decibéis acima do normal. Um dia, já a horas pequenas em que se espera que os jogadores estejam a dormir, Fernando Santos teve que subir e bater à porta da casa de Kralj, para lhe pedir para baixara o som. Mesmo sabendo que o treinador vivia por baixo – e que se deitava cedo – Kralj não se importava.
O veto de Braga
Nessa mesma noite, alguns dos administradores Portistas encontraram-se num bar portuense e quem ouviu a conversa garante que Kralj deve ter ficado com as orelhas a arder. O guarda-redes jugoslavo nunca mais jogou e foi Rui Correia a ocupar a baliza até à 19ª jornada, altura em que Baía passou a vestir a camisola 99.
Sem dar cavaco
Kralj partiria dias depois para a Jugoslávia, praticamente sem dar cavaco a ninguém. José veiga ainda fez um telefonema a Pinto da Costa, a dar-lhe conta da necessidade da viagem, mas relações entre o empresário e o presidente Portista já há muito estavam azedas e a conversa não correu bem. E Kralj partiu mesmo, sem sequer avisar o seu vizinho treinador, que só deu pela falta dele no treino do dia seguinte. Ainda voltaria às Antas, mas já com guia de marcha passada, num negócio que permitiu recuperar praticamente todo o investimento.
A mulher de Doriva
Pinto da Costa já disse publicamente que tinha votado contra a saída de Doriva em Janeiro (1999), no final da primeira volta do campeonato, por causa das circunstâncias em que a transferência se tinha desenrolado. O que realmente se passou, porém, conta-se agora. “Tocado” pela Sampdoria já há meses, Doriva tinha a perspectiva de mais do que duplicar o contrato com o FC Porto. Por isso, queria ir. Um dia, no momento crucial das negociações, apareceu com a mulher na Torre das Antas e o protagonismo foi feminino. A mulher de Doriva foi clara e directa: o negócio tinha que se fazer e, se não se fizesse, ela arrancava para o Brasil. “E o meu marido vai atrás!”. Ao que o jogador assentia com a cabeça. O negócio fez-se, até porque se um escudo era um escudo, oito milhões de dólares eram oito milhões de dólares.
O puxão de orelhas
Foi muito comentada uma cena passada no final do Guimarães - FC Porto (derrota Portista por 3-2, no mesmo dia em que, à tarde, o Benfica perdera na Madeira). Até Vale e Azevedo se referiu a ela dizendo que Pinto da Costa chamara traidor a um dos seus jogadores.
Zahovic fora expulso por José Pratas, por ter gritado qualquer coisa aos ouvidos do árbitro, que acabara de apitar uma falta contra a sua equipa. Uns jogos antes, em Vila do Conde, já tinha ficado maldisposto por ter sido substituído. E por essa altura estava ao rubro a luta entre Pinto da Costa e o empresário José Veiga, representante de Zahovic. Ora, no fim do jogo de Guimarães, Pinto da Costa foi à cabine e disse, em tom irritado, mais ou menos isto; “Se algum jogador pensa que pode forçar a saída do FC Porto, está muito enganado!”. O destinatário toda a gente sabia quem era…
“Deixe lá ‘mister’…”
A história passou-se ainda e Viseu, onde o FC Porto fez a preparação da pré-temporada. As coisas não estavam a correr como Fernando Santos pretendia, faltava algum empenhamento nos treinos. O treinador, acabado de chegar ao clube, fazia sentir aos jogadores que não estava satisfeito com a forma como as coisas decorriam, tentava fazer passar a mensagem de que seria mais difícil este ano porque as outras equipas tinham cada vez menos reverência. A coisa começava a tornar-se incómoda, até que um dos jogadores lhe disse um dia: “Ó ‘mister’, deixe lá… Quando for no campeonato, nós damos dez pontos de avanço…”. Na altura, o treinador, não ficou demasiado tranquilo.
Fonte: Jornal "OJogo"
Por: Nirutam
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