O Porto
apresentou-se na Póvoa para o verdadeiro jogo de festa da taça depois de
travestidos para campo neutro os encontros dos dois grandes de Lisboa.
Da equipa
inicial estiveram presentes apenas 2 habituais titulares mas as palavras de Lopetegui
na antevisão foram levadas a sério pela grande maioria dos jogadores ao
perceberem que, para além do apuramento, o rendimento de cada um poderia ter
peso para os encontros seguintes.
O primeiro
grande problema foi o meio-campo.
Ter o Imbula a 6 é a mesma coisa que
o Brahimi a 8. O pior que
se pode fazer ao talento individual dos jogadores e o pior que se pode fazer ao
rendimento colectivo da equipa.
O jogo fica
preso, a defesa não fica segura e o adversário percebe que se forçar na pressão
pode causar problemas.
Evandro
veio dar uma mão e em vez do Imbula a 6 tivemos um duplo pivot.
Ter o Imbula a duplo pivot é como ter
o Brahimi a 10. Limita o talento individual e o rendimento
colectivo só funciona a espaços.
A equipa
não engrenou mas a superior qualidade individual dos jogadores acabou por
descomplicar a resistência tenaz dos poveiros.
Num lance
de pura classe Bueno esventra a defesa para Tello se enquadrar na cara da
baliza e fazer o 1-0.
O talento
individual e a quimica entre 2 jogadores de grande qualidade acabou por minorar
o problema da organização do meio-campo da equipa. Hoje, ninguém se vai lembrar
das dificuldades que o Porto teve na construção nem nas deficiências que a
equipa revelou na hora de recuperar a bola.
O golo,
momento supremo do futebol, esconde tudo. Apaga tudo e esquece tudo.
A primeira
parte foi assim aos solavancos com pingos de classe a limparem as dificuldades
orgânicas do meio-campo.
Para este
quadro em muito contribuiu o comportamento dos varzinistas que encararam a maratona
dos 90 minutos com a energia de quem corre 5000 metros. Foram a todas, correram
muito hoje porque o amanhã vinha longe.
O amanhã
chega sempre. Na 2ª parte o estouro do lado de lá foi evidente. Menor capacidade
de combate, o espaço livre de relvado a aumentar, deficit de pernas a pôr a nu
o diferencial de talento entre Porto e Varzim e lesões resultantes do épico
esforço da 1ª parte.
Mesmo com
um meio-campo desestruturado o Porto conseguiu vincar a sua superioridade e as
oportunidades de golo nos pés de Tello e Osvaldo sucederam-se. Quando Lopetegui
coloca em campo o meio-campo Champions percebe-se quão importante são as
rotinas e ter jogadores confortáveis nos papeis que ocupam.
O jogo da
Taça, para além de formalidade, deu ensinamentos que devem ser aproveitados
para futuro em jogos de maior grau de dificuldade.
O principal: Organização do meio-campo e
saber o que fazer com Imbula.
O relevante: A sociedade Tello/Bueno que
não pode ser desperdiçada.
O tranquilizante: Indi dá garantias de ser,
pelo menos, tão eficaz como a dupla de centrais titulares.
ANÁLISES INDIVIDUAIS:
Helton – Continuou no ponto em que tinha terminado em
2014/15. Concentração, agilidade e segurança no pouco trabalho que teve.
Layun – Jogando do lado direito seria expectável que
tivesse mais apetência para subir pelo flanco. Revelou-se tão cuidadoso com o
Varzim como foi contra o Benfica e foi tão mais defesa e tão menos lateral
jogando à direita como é quando joga à esquerda.
Lichnovski – Enquanto
defesa que se tem que saber posicionar para efectuar cortes e recuperações
esteve em bom nível. Enquanto transportador de bola caiu no engodo poveiro.
Muitas vezes foi convidado a ser David Luiz e sair da sua zona em posse e quase
sempre não resistiu à tentação de ser pôr em trabalhos e arriscar uma perda de
bola em zona perigosa.
Tudo somado
fica o conselho para tentar subir a escada dentro do plantel do Porto pela via
da descrição e não da espectacularidade.
Indi – Patrão.
Assertivo na disputa de bola e criterioso quando a tinha em seu poder. Nenhuma
lesão chega em boa altura mas pelo que Indi joga merece ter oportunidade para
ter uma sequência de partidas onde possa comprovar o que vale.
Cissokho – É um
jogador demasiado fisico e nada cerebral. Entrega-se ao jogo mas muitas vezes
parece não o perceber. Correr, cruzar, cortar, correr, cruzar, passar, correr,
cruzar como se estivesse numa ilha e não numa cidade com mais 21 habitantes em
que é preciso pensar o que fazer e saber que terrenos pisar.
Imbula – Enormes
dificuldades quando foi o médio mais defensivo obrigando o 112 Evandro a vir em
seu resgate. Prendeu muito a bola com ares de miúdo assustado num quarto escuro
sem saber o que fazer. Quando Evandro baixa fazendo um quase duplo pivot Imbula
acende a luz do candeeiro e começa a sair do marasmo exibicional.
Na 2ª parte
vai melhorando atingindo uma bitola de qualidade elevada quando Danilo e André
André lhe abriram as janelas para o relvado deixando entrar a claridade que
Imbula tem no seu jogo quando actua em terrenos mais avançados.
Evandro – Foi o
melhor jogador em campo nos primeiros 15 minutos numa altura em que foi preciso
compensar o pânico de Imbula. Deu oxigénio à equipa, pegou na bola quase na
defesa e fê-la chegar ao ataque seja pela via do passe como pela progressão.
A partir
desse momento foi eficaz embora discreto. Na 2ª parte acusou fisicamente o
esforço de ligar sectores queixando-se de câimbras até à substituição.
Bueno – Tem uma
caracteristica de passe que o difere de todo o plantel. Procura a distribuição
de jogo ofensivo rasgando por dentro em vez de fugir por fora. Via-o muito como
um 2.º avançado com caracteristicas de puro finalizador mas o espanhol é bem
mais do que isto.
Os passes
que faz entre o lateral e o central são manteiga no pão para jogadores como
Tello. Se o extremo foi o MVP da partida tem que agradecer a Bueno que entende
na perfeição o que Tello precisa.
Se Bueno
conseguir ser mais intenso na partida e mais cooperante defensivamente é
titular de caras nesta equipa porque lhe dá muito golo para lá do 9 e dá-lhe um
tipo de passe mortal de que a equipa foge.
Varela – Ausentou-se
da partida quando Imbula e Evandro demoraram a casar. Nessa altura Varela não
quis saber do provérbio e esperou sentado que a Montanha e Maomé fizessem as
pazes.
A partir da
meia-hora percebeu que ia jogar tanto como Brahimi sentado no banco se não
resolvesse dar 2 passos atrás. Foi mais colectivo mas não deixou que o
cinzentismo marcasse negativamente a sua exibição.
Tello – Grande
jogo. Foi à trilogia Spoting-Braga-Nacional. Contundente sobre o lateral e sem
perdas de tempo aquando da recepção. Letal sempre que havia alguém na equipa
(leia-se Bueno) que entendia na perfeição como potenciar jogadores com as
caracteristicas de Tello. Os passes devem atalhar terreno e pôr o avançado em
rota de colisão com a baliza em vez de deixarem o extremo ainda com um defesa à
perna.
MVP de
longe e é de todo conveniente aproveitar a sociedade criada na Póvoa.
Osvaldo – Quem só
olhar para o resumo dirá que Osvaldo não foi digno de ostentar a camisola dada
a displicência com que se fez aos lances de finalização. Se com bola pareceu
armar-se em Bola de Ouro nos segundinhos todos dos 90 minutos foi um verdadeiro
mouro (dos bons!) de trabalho. Pressionando, dando linhas de passe e correndo
até à exaustão foi o guerreiro que todo o portista gosta em contraponto com a
postura de prima dona quando Ricardo estava pela frente.
A exibição
de quem falha golos como falhou não pode ser boa mas as indicações de dedicação
e comprometimento com a equipa são óptimas.
Danilo – Entrou à
titular para pôr ordem no jogo e dar o comando definitivo à equipa. Com um
Varzim já encostado às cordas a entrada de Danilo e a libertação consequente de
Imbula só não foi a estocada final porque Osvaldo esteve em dia não.
André André – Entrou à
titular e como se estivesse em Minsk ou em Pero Pinheiro. Fez faltas e sofreu
faltas e lutou como se aquele campo nada lhe dissesse de especial. A forma como
com o corpo transformou um passe para um cruzamento numa assistência para golo
revela a inteligência deste jogador.
Ficha de Jogo:
Varzim 0-2 FC Porto
Taça Portugal, 3.ª eliminatória
Sábado, 17 Outubro 2015 - 20:15
Estádio: Varzim Sport Club, Póvoa de Varzim
Árbitro: Manuel Oliveira (Porto).
Assistentes: Pedro Ribeiro e Carlos Campos.
4º Árbitro: José Rodrigues.
VARZIM: Ricardo, Adilson, Sandro, Abel, João Carneiro, Pedro Sá, Rodrigo Dantas, Nelsinho, Elísio, Stanley, Rui Coentrão.
Suplentes: Pedro Soares, Tiago Lopes, Vítor Hugo (66' Elísio), Bruno Moraes, Pedro Santos (63' Abel), Sérgio Organista, Hernâni (73' Stanley).
Treinador: Quim Berto.
FC PORTO: Helton, Layún, Lichnovsky, Martins Indi, Cissokho, Imbula, Evandro, Bueno, Varela, Dani Osvaldo, Tello.
Suplentes: Casillas, Danilo Pereira (64' Varela), André André (78' Evandro), Herrera, Brahimi, Corona, Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 0-0.
Marcadores: Tello (20'), André André (90').
Disciplina: cartão amarelo a Layún (31'), Adilson (41').
Sábado, 17 Outubro 2015 - 20:15
Estádio: Varzim Sport Club, Póvoa de Varzim
Árbitro: Manuel Oliveira (Porto).
Assistentes: Pedro Ribeiro e Carlos Campos.
4º Árbitro: José Rodrigues.
VARZIM: Ricardo, Adilson, Sandro, Abel, João Carneiro, Pedro Sá, Rodrigo Dantas, Nelsinho, Elísio, Stanley, Rui Coentrão.
Suplentes: Pedro Soares, Tiago Lopes, Vítor Hugo (66' Elísio), Bruno Moraes, Pedro Santos (63' Abel), Sérgio Organista, Hernâni (73' Stanley).
Treinador: Quim Berto.
FC PORTO: Helton, Layún, Lichnovsky, Martins Indi, Cissokho, Imbula, Evandro, Bueno, Varela, Dani Osvaldo, Tello.
Suplentes: Casillas, Danilo Pereira (64' Varela), André André (78' Evandro), Herrera, Brahimi, Corona, Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 0-0.
Marcadores: Tello (20'), André André (90').
Disciplina: cartão amarelo a Layún (31'), Adilson (41').
Por: Walter Casagrande
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