terça-feira, 20 de outubro de 2015

A TAÇA ENSINA


O Porto apresentou-se na Póvoa para o verdadeiro jogo de festa da taça depois de travestidos para campo neutro os encontros dos dois grandes de Lisboa.

Da equipa inicial estiveram presentes apenas 2 habituais titulares mas as palavras de Lopetegui na antevisão foram levadas a sério pela grande maioria dos jogadores ao perceberem que, para além do apuramento, o rendimento de cada um poderia ter peso para os encontros seguintes.
O primeiro grande problema foi o meio-campo. 

Ter o Imbula a 6 é a mesma coisa que o Brahimi a 8. O pior que se pode fazer ao talento individual dos jogadores e o pior que se pode fazer ao rendimento colectivo da equipa.

O jogo fica preso, a defesa não fica segura e o adversário percebe que se forçar na pressão pode causar problemas.

Evandro veio dar uma mão e em vez do Imbula a 6 tivemos um duplo pivot. 

Ter o Imbula a duplo pivot é como ter o Brahimi a 10. Limita o talento individual e o rendimento colectivo só funciona a espaços.

A equipa não engrenou mas a superior qualidade individual dos jogadores acabou por descomplicar a resistência tenaz dos poveiros.

Num lance de pura classe Bueno esventra a defesa para Tello se enquadrar na cara da baliza e fazer o 1-0.
O talento individual e a quimica entre 2 jogadores de grande qualidade acabou por minorar o problema da organização do meio-campo da equipa. Hoje, ninguém se vai lembrar das dificuldades que o Porto teve na construção nem nas deficiências que a equipa revelou na hora de recuperar a bola.

O golo, momento supremo do futebol, esconde tudo. Apaga tudo e esquece tudo.  

A primeira parte foi assim aos solavancos com pingos de classe a limparem as dificuldades orgânicas do meio-campo.

Para este quadro em muito contribuiu o comportamento dos varzinistas que encararam a maratona dos 90 minutos com a energia de quem corre 5000 metros. Foram a todas, correram muito hoje porque o amanhã vinha longe.

O amanhã chega sempre. Na 2ª parte o estouro do lado de lá foi evidente. Menor capacidade de combate, o espaço livre de relvado a aumentar, deficit de pernas a pôr a nu o diferencial de talento entre Porto e Varzim e lesões resultantes do épico esforço da 1ª parte.

Mesmo com um meio-campo desestruturado o Porto conseguiu vincar a sua superioridade e as oportunidades de golo nos pés de Tello e Osvaldo sucederam-se. Quando Lopetegui coloca em campo o meio-campo Champions percebe-se quão importante são as rotinas e ter jogadores confortáveis nos papeis que ocupam.
 
O jogo da Taça, para além de formalidade, deu ensinamentos que devem ser aproveitados para futuro em jogos de maior grau de dificuldade.

O principal: Organização do meio-campo e saber o que fazer com Imbula.

O relevante: A sociedade Tello/Bueno que não pode ser desperdiçada.

O tranquilizante: Indi dá garantias de ser, pelo menos, tão eficaz como a dupla de centrais titulares.

 
ANÁLISES INDIVIDUAIS:
 
Helton – Continuou no ponto em que tinha terminado em 2014/15. Concentração, agilidade e segurança no pouco trabalho que teve.

Layun – Jogando do lado direito seria expectável que tivesse mais apetência para subir pelo flanco. Revelou-se tão cuidadoso com o Varzim como foi contra o Benfica e foi tão mais defesa e tão menos lateral jogando à direita como é quando joga à esquerda.

Lichnovski – Enquanto defesa que se tem que saber posicionar para efectuar cortes e recuperações esteve em bom nível. Enquanto transportador de bola caiu no engodo poveiro. Muitas vezes foi convidado a ser David Luiz e sair da sua zona em posse e quase sempre não resistiu à tentação de ser pôr em trabalhos e arriscar uma perda de bola em zona perigosa.
Tudo somado fica o conselho para tentar subir a escada dentro do plantel do Porto pela via da descrição e não da espectacularidade.

Indi – Patrão. Assertivo na disputa de bola e criterioso quando a tinha em seu poder. Nenhuma lesão chega em boa altura mas pelo que Indi joga merece ter oportunidade para ter uma sequência de partidas onde possa comprovar o que vale.

Cissokho – É um jogador demasiado fisico e nada cerebral. Entrega-se ao jogo mas muitas vezes parece não o perceber. Correr, cruzar, cortar, correr, cruzar, passar, correr, cruzar como se estivesse numa ilha e não numa cidade com mais 21 habitantes em que é preciso pensar o que fazer e saber que terrenos pisar.

Imbula – Enormes dificuldades quando foi o médio mais defensivo obrigando o 112 Evandro a vir em seu resgate. Prendeu muito a bola com ares de miúdo assustado num quarto escuro sem saber o que fazer. Quando Evandro baixa fazendo um quase duplo pivot Imbula acende a luz do candeeiro e começa a sair do marasmo exibicional.
Na 2ª parte vai melhorando atingindo uma bitola de qualidade elevada quando Danilo e André André lhe abriram as janelas para o relvado deixando entrar a claridade que Imbula tem no seu jogo quando actua em terrenos mais avançados.

Evandro – Foi o melhor jogador em campo nos primeiros 15 minutos numa altura em que foi preciso compensar o pânico de Imbula. Deu oxigénio à equipa, pegou na bola quase na defesa e fê-la chegar ao ataque seja pela via do passe como pela progressão.
A partir desse momento foi eficaz embora discreto. Na 2ª parte acusou fisicamente o esforço de ligar sectores queixando-se de câimbras até à substituição.

Bueno – Tem uma caracteristica de passe que o difere de todo o plantel. Procura a distribuição de jogo ofensivo rasgando por dentro em vez de fugir por fora. Via-o muito como um 2.º avançado com caracteristicas de puro finalizador mas o espanhol é bem mais do que isto.
Os passes que faz entre o lateral e o central são manteiga no pão para jogadores como Tello. Se o extremo foi o MVP da partida tem que agradecer a Bueno que entende na perfeição o que Tello precisa.
Se Bueno conseguir ser mais intenso na partida e mais cooperante defensivamente é titular de caras nesta equipa porque lhe dá muito golo para lá do 9 e dá-lhe um tipo de passe mortal de que a equipa foge.

Varela – Ausentou-se da partida quando Imbula e Evandro demoraram a casar. Nessa altura Varela não quis saber do provérbio e esperou sentado que a Montanha e Maomé fizessem as pazes.
A partir da meia-hora percebeu que ia jogar tanto como Brahimi sentado no banco se não resolvesse dar 2 passos atrás. Foi mais colectivo mas não deixou que o cinzentismo marcasse negativamente a sua exibição.

Tello – Grande jogo. Foi à trilogia Spoting-Braga-Nacional. Contundente sobre o lateral e sem perdas de tempo aquando da recepção. Letal sempre que havia alguém na equipa (leia-se Bueno) que entendia na perfeição como potenciar jogadores com as caracteristicas de Tello. Os passes devem atalhar terreno e pôr o avançado em rota de colisão com a baliza em vez de deixarem o extremo ainda com um defesa à perna.
MVP de longe e é de todo conveniente aproveitar a sociedade criada na Póvoa.

Osvaldo – Quem só olhar para o resumo dirá que Osvaldo não foi digno de ostentar a camisola dada a displicência com que se fez aos lances de finalização. Se com bola pareceu armar-se em Bola de Ouro nos segundinhos todos dos 90 minutos foi um verdadeiro mouro (dos bons!) de trabalho. Pressionando, dando linhas de passe e correndo até à exaustão foi o guerreiro que todo o portista gosta em contraponto com a postura de prima dona quando Ricardo estava pela frente.
A exibição de quem falha golos como falhou não pode ser boa mas as indicações de dedicação e comprometimento com a equipa são óptimas.

Danilo – Entrou à titular para pôr ordem no jogo e dar o comando definitivo à equipa. Com um Varzim já encostado às cordas a entrada de Danilo e a libertação consequente de Imbula só não foi a estocada final porque Osvaldo esteve em dia não.

André André – Entrou à titular e como se estivesse em Minsk ou em Pero Pinheiro. Fez faltas e sofreu faltas e lutou como se aquele campo nada lhe dissesse de especial. A forma como com o corpo transformou um passe para um cruzamento numa assistência para golo revela a inteligência deste jogador.
 

Ficha de Jogo:
Varzim 0-2 FC Porto
Taça Portugal, 3.ª eliminatória
Sábado, 17 Outubro 2015 - 20:15
Estádio: Varzim Sport Club, Póvoa de Varzim

Árbitro: Manuel Oliveira (Porto).
Assistentes: Pedro Ribeiro e Carlos Campos.
4º Árbitro: José Rodrigues.

VARZIM: Ricardo, Adilson, Sandro, Abel, João Carneiro, Pedro Sá, Rodrigo Dantas, Nelsinho, Elísio, Stanley, Rui Coentrão.
Suplentes: Pedro Soares, Tiago Lopes, Vítor Hugo (66' Elísio), Bruno Moraes, Pedro Santos (63' Abel), Sérgio Organista, Hernâni (73' Stanley).
Treinador: Quim Berto.

FC PORTO: Helton, Layún, Lichnovsky, Martins Indi, Cissokho, Imbula, Evandro, Bueno, Varela, Dani Osvaldo, Tello.
Suplentes: Casillas, Danilo Pereira (64' Varela), André André (78' Evandro), Herrera, Brahimi, Corona, Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.

Ao intervalo: 0-0.
Marcadores: Tello (20'), André André (90').
Disciplina: cartão amarelo a Layún (31'), Adilson (41').


Por: Walter Casagrande

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