Apoteose!
É este país pleno
De gente séria e isenta,
Que dele se comenta
No próprio inferno!
O próprio diabo
Vive no martírio,
Porque Portugal é um país sério,
Ao fim e ao cabo...
De tanta seriedade
Extradita milagres,
E o Diabo tem achaques
De incredulidade!
Não capta almas
Que sejam lusas,
Porque estão reclusas
Em gentes calmas...
Nos brandos costumes
Tão lusitanos,
Que tod'os cicranos
São sempre incólumes!
E nessa premissa
De país santo,
O papa quer tanto
Aqui dar uma missa!
E só escolheu
O 13 de Maio,
Porqu'o benfica tem ensaio
De jubileu!
Vai ser Tetra
No dia da Virgem,
E daí a nossa origem
Profética...
Um país beatificado
P'los três pastorinhos,
E milhões d'anjinhos
Trajados d'encarnado...
O manto vermelho
Que cobre o país,
É o retrato feliz
Dum país já velho...
A"outra senhora"
Também era uma santa,
E uma imagem branca
A quem ela ainda ora...
Uma "Avé Maria"
Tão cheia de graça,
Qu'o país não passa
Duma alegoria...
Este traço inefável
De beatitude,
E uma nação qu'alude
Ao Santo Condestável!?
Tanto milagre feito
Pr'a sermos independentes,
E ainda estarmos crentes
Que foi de pleno direito!
O canto d'Ourique
Por inspiração divina,
E a Portugal esta sina
Qu'o pecador abdique!
Esta providência
De país eleito por Deus,
E os Portugueses, que d'europeus
Têm ascendência!?
Pois quem aqui nos veja
A rezar a Eusébio,
Nos sabe em "sortilégio"
De tal "Igreja"!
Esta coincidência
Entr'o Estado e o benfica,
E a Igreja, que beatifica
Esta "inocência"...
Que quer o Diabo?
Aqui resgatar o espírito?
O benfica é o nosso mito
Meio acabado...
Este fatalismo
D'almas penadas!
E nisto abençoadas
Por populismo!
Não há almas de pecado
No nosso Portugal,
E o inferno aqui é igual
Em qualquer lado...
Se nem os nossos corpos
Nist'os salvamos,
As almas são de somenos
Depois de mortos...
A nossa mentalidade
É a "benfiquista",
E há alma que resista
A esta realidade?
De ver os Braz,
Os Guerra,
A clamar que na Terra
Fizeram a paz?!
As almas penadas
Dos Silva, dos Ventura,
Fingindo "ternura"
Quando não sentem nada?
É este o inferno
Da nossa realidade:
É tudo seriedade
No nosso hodierno!
Não há calabotes,
Nem filetes de polvo,
E o milagre é este povo
Não dar calotes!
Aos seiscentos milhões
Pr'a vingar a marca,
E a procissão que passa
Ao som dos carrilhões...
E comenta Lúcifer
Que não há direito!!
Qu'o dinheiro também lhe dava jeito
Para enriquerer...
E montar negócio
Na porta do cavalo,
E ao diretor culpá-lo
Se descobert'o por sócio!!
E criar um sistema
De grande branqueamento,
E garantir a cem por cento
A vitória plena!
Dando a impressão
Qu'os outros podem ganhar,
Mas mantendo a apitar
O resto da Associação!
Porqu'o bilhete é gratuito
Lá pr'o presidente,
E todo um acto inocente
Nem é muito...
Ter-se uma corja d'almas
Sempre ali na forja,
Qu'apitam na grande loja,
Nas calmas...
E queria Satanás
Aqui resgatar uma alminha!?
Nem na "Disciplina"
Onde se julgam as imanentemente "más"!
Essas qu'em "francês"
Gritam palavras impercetíveis,
Com piropos invísiveis
De malvadez!!
Não tens hipótese,
Ó Belzebu!
Aqui o rei vai nu
Na apoteose!!
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