Um bom western à americana tem que ter um xerife, essa figura que faz
cumprir a lei numa terra selvagem.
Portugal também tem o seu Oeste.
À boa maneira portuguesa, é uma terra bem mais ordeira e de costumes mais
brandos. Não há cactos, mas há pomares de pêra-rocha. Não há areias do deserto,
mas os areais costeiras das praias de Santa Cruz e do Baleal. Não há tendas de
índios nas colinas, mas moinhos de vento caiados de branco a perder de vista.
É neste Oeste à portuguesa que Zé
António começa a sua jornada no futebol. Inicia-se nas camadas jovens do Sport
Clube União Torreense, o clube da sua terra natal. Joga a médio defensivo,
posição onde o seu talento mais influi o rendimento da equipa, mas também faz
jogos a central. Aos 17 anos, é chamado à equipa principal do Torreense que
disputava a então chamada liga de honra.
A época não corre bem à equipa de Torres
Vedras e a despromoção é inevitável. Na segunda B, Zé António fixa-se em
definitivo no plantel principal do Torreense. A médio defensivo, lidera, dois
anos depois, o retorno à liga de honra. O regresso do Torreense à liga de honra
é curto. O Torrense volta a descer, mas Zé António não, pelo contrário. O
empenho em campo do médio defensivo chama demasiadas atenções. No fim da época,
há muita disputa pelo jovem de 21 anos. Quem levaria o imberbe xerife do Oeste?
O coração fala mais alto.
O chamamento do FC Porto é irresistível.
De Oeste para Norte, o jovem
médio tenta agarrar o seu lugar na equipa principal portista, mas o plantel
portista está servido com Paulinho Santos, Doriva e Chaínho. O FC Porto
redirecciona o seu jovem dragão para Leça. O Leça FC era um clube “abrigo” de
vários jovens talentos do FC Porto e disputava a liga de honra. Agarra a titularidade e volta a dar sinais de crescimento sustentável. Na época
seguinte, as oportunidades no plantel principal voltam a escassear. O seu destino
seria Alverca, próximo de casa e a disputar a primeira liga. Volta a ser
titular e a garantir uma oportunidade no FC Porto.
O ano seguinte, haveria uma
novidade no seu regresso à Invicta. O FC Porto tinha iniciado o seu projecto de
criação de uma equipa B. Zé António é integrado no projecto, com a
possibilidade de saltar para a equipa A a qualquer momento. Duas pesadas
limitações começaram a prejudicar o seu crescimento: o FC Porto B disputava a
segunda divisão B, duas divisões abaixo da que competira no ano
anterior; e as oportunidades na equipa A teimavam a rarear. Assim que possível,
o Alverca volta a acolhê-lo e completa a época 2000/2001 na localidade
ribatejana e já solidificado a posição de central. Volta a representar o
Alverca em 2001/2002 por empréstimo e no término da temporada, também chega ao
fim do contracto com o FC Porto.
O sonho de jogar pelo FC Porto
acabara.
A carreira continuou na Póvoa de
Varzim. No clube poveiro, assume a titularidade, até que, uma lesão o afasta durante
meia temporada. Pior, o Varzim é despromovido e Zé António volta a ter
que mudar o rumo à sua carreira. O seu próximo clube é a A. Académica de
Coimbra. Na Briosa cumpre duas épocas, é titularíssimo, chega a capitão e
torna-se figura incontornável do clube.
Uma liga estrangeira é o passo lógico a tomar
de seguida na sua carreira. É um clube histórico da Bundesliga o seu próximo
destino: Borussia VfL 1900 Mönchengladbach e. V.. No Borussia ganha rapidamente
a titularidade e a admiração de um dos públicos mais exigentes do futebol
alemão. Chega a capitão do Borussia e é homem de confiança de duas velhas
raposas do futebol germânico: Köppel e Heynckes.
É
com os galões de duas épocas de gabarito na Alemanha que entra nos
planos da selecção Portuguesa. Na disputa pela qualificação para o Euro 2008,
Zé António é chamado para a dupla jornada frente a Polónia e Azerbaijão em
Outubro de 2007. Não sai do banco e a assim perde a oportunidade de ser
internacional português.
No seu clube, a sua situação mudara. O Borussia é
despromovido e com a chegada de um novo técnico a Mönchengladbach é
relegado para o banco.
Pressionado pela possível presença no Euro 2008, Zé
António sai para representar por empréstimo o Manisaspor da liga Turca.
A
experiência na Turquia não corre bem e o sonho da selecção esfuma-se. O ciclo
em Mönchengladbach estava encerrado. Seguiu-se o futebol espanhol e o Racing de
Santander.
No “el Sardinero” nada correu bem. Em um ano e meio de Cantábria, jogou um par de jogos na taça do rei e
nada mais. Aos 32 anos o regresso a Portugal impunha-se. A U. Leiria seria a
sua porta de regresso. Aí volta a agarrar a titularidade, mas o
infortúnio não o abandona. Salários em atraso e uma lesão a meio da segunda
época na cidade do Lis fizeram com que tirasse um “ano sabático” na
época 2011/2012.
Uma carreira coroada a espinhos e
rosas. Titularidade absoluta ou bancada. Capitão ou quase marginalizado do
grupo. O massacre das despromoções e a glória das promoções. Ilusão e decepção
de braço dado. As cicatrizes e honrarias de combate fizeram este xerife do
Oeste ganhar a sua estrela. Nada no futebol é mais desconhecido.
A página do facebook do Torreense
exibe uma entrevista a um ex-director desportivo do clube. Eis o que diz:
Melhor
jogador com quem já trabalhaste directamente?
Tecnicamente foram muitos, mas
como profissional houve um jogador que me impressionou muito: Zé António. Foi,
sem dúvida, o mais profissional dos jogadores com quem trabalhei. O Zé António
tem tudo o que o profissional de futebol deve ter.
Só falta sublinhar que quem faz
esta afirmação já atravessou o nosso caminho. No ano passado, em Leiria, Antero
Henrique e este ex-director desportivo do Torreense tiveram um episódio. Como
prémio, o ex-director desportivo do Torreense (e U. Leiria) integra a estrutura
do lado vermelho da segunda circular em Lisboa. Se até eles…
Felizmente, a carreira de Zé
António tem mais um capítulo por escrever. Um jogador de carreira feita aceita
juntar a sua experiência ao talento emergente no FC Porto B. Numa equipa
selvagem em talento e cheia de ilusões, há quem garante orientação e um rumo. O
xerife do Oeste é exemplo, comando e conselho amigo.
Um líder dentro de campo e
no balneário.
À Dragão, como sempre foi!
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