sábado, 19 de julho de 2014

Zé António: O Xerife do Oeste. (Por Breogán)



 O homem e o seu percurso:


Um bom western à americana tem que ter um xerife, essa figura que faz cumprir a lei numa terra selvagem.

Portugal também tem o seu Oeste. À boa maneira portuguesa, é uma terra bem mais ordeira e de costumes mais brandos. Não há cactos, mas há pomares de pêra-rocha. Não há areias do deserto, mas os areais costeiras das praias de Santa Cruz e do Baleal. Não há tendas de índios nas colinas, mas moinhos de vento caiados de branco a perder de vista.

É neste Oeste à portuguesa que Zé António começa a sua jornada no futebol. Inicia-se nas camadas jovens do Sport Clube União Torreense, o clube da sua terra natal. Joga a médio defensivo, posição onde o seu talento mais influi o rendimento da equipa, mas também faz jogos a central. Aos 17 anos, é chamado à equipa principal do Torreense que disputava a então chamada liga de honra.

A época não corre bem à equipa de Torres Vedras e a despromoção é inevitável. Na segunda B, Zé António fixa-se em definitivo no plantel principal do Torreense. A médio defensivo, lidera, dois anos depois, o retorno à liga de honra. O regresso do Torreense à liga de honra é curto. O Torrense volta a descer, mas Zé António não, pelo contrário. O empenho em campo do médio defensivo chama demasiadas atenções. No fim da época, há muita disputa pelo jovem de 21 anos. Quem levaria o imberbe xerife do Oeste? O coração fala mais alto. 

O chamamento do FC Porto é irresistível.

De Oeste para Norte, o jovem médio tenta agarrar o seu lugar na equipa principal portista, mas o plantel portista está servido com Paulinho Santos, Doriva e Chaínho. O FC Porto redirecciona o seu jovem dragão para Leça. O Leça FC era um clube “abrigo” de vários jovens talentos do FC Porto e disputava a liga de honra. Agarra a titularidade e volta a dar sinais de crescimento sustentável. Na época seguinte, as oportunidades no plantel principal voltam a escassear. O seu destino seria Alverca, próximo de casa e a disputar a primeira liga. Volta a ser titular e a garantir uma oportunidade no FC Porto.



O ano seguinte, haveria uma novidade no seu regresso à Invicta. O FC Porto tinha iniciado o seu projecto de criação de uma equipa B. Zé António é integrado no projecto, com a possibilidade de saltar para a equipa A a qualquer momento. Duas pesadas limitações começaram a prejudicar o seu crescimento: o FC Porto B disputava a segunda divisão B, duas divisões abaixo da que competira no ano anterior; e as oportunidades na equipa A teimavam a rarear. Assim que possível, o Alverca volta a acolhê-lo e completa a época 2000/2001 na localidade ribatejana e já solidificado a posição de central. Volta a representar o Alverca em 2001/2002 por empréstimo e no término da temporada, também chega ao fim do contracto com o FC Porto.



O sonho de jogar pelo FC Porto acabara.


A carreira continuou na Póvoa de Varzim. No clube poveiro, assume a titularidade, até que, uma lesão o afasta durante meia temporada. Pior, o Varzim é despromovido e Zé António volta a ter que mudar o rumo à sua carreira. O seu próximo clube é a A. Académica de Coimbra. Na Briosa cumpre duas épocas, é titularíssimo, chega a capitão e torna-se figura incontornável do clube.






Uma liga estrangeira é o passo lógico a tomar de seguida na sua carreira. É um clube histórico da Bundesliga o seu próximo destino: Borussia VfL 1900 Mönchengladbach e. V.. No Borussia ganha rapidamente a titularidade e a admiração de um dos públicos mais exigentes do futebol alemão. Chega a capitão do Borussia e é homem de confiança de duas velhas raposas do futebol germânico: Köppel e Heynckes.





É com os galões de duas épocas de gabarito na Alemanha que entra nos planos da selecção Portuguesa. Na disputa pela qualificação para o Euro 2008, Zé António é chamado para a dupla jornada frente a Polónia e Azerbaijão em Outubro de 2007. Não sai do banco e a assim perde a oportunidade de ser internacional português. 

No seu clube, a sua situação mudara. O Borussia é despromovido e com a chegada de um novo técnico a Mönchengladbach é relegado para o banco. 

Pressionado pela possível presença no Euro 2008, Zé António sai para representar por empréstimo o Manisaspor da liga Turca.

 A experiência na Turquia não corre bem e o sonho da selecção esfuma-se. O ciclo em Mönchengladbach estava encerrado. Seguiu-se o futebol espanhol e o Racing de Santander.







No “el Sardinero” nada correu bem. Em um ano e meio de Cantábria, jogou um par de jogos na taça do rei e nada mais. Aos 32 anos o regresso a Portugal impunha-se. A U. Leiria seria a sua porta de regresso. Aí volta a agarrar a titularidade, mas o infortúnio não o abandona. Salários em atraso e uma lesão a meio da segunda época na cidade do Lis fizeram com que tirasse um “ano sabático” na época 2011/2012.





Uma carreira coroada a espinhos e rosas. Titularidade absoluta ou bancada. Capitão ou quase marginalizado do grupo. O massacre das despromoções e a glória das promoções. Ilusão e decepção de braço dado. As cicatrizes e honrarias de combate fizeram este xerife do Oeste ganhar a sua estrela. Nada no futebol é mais desconhecido.


A página do facebook do Torreense exibe uma entrevista a um ex-director desportivo do clube. Eis o que diz:

Melhor jogador com quem já trabalhaste directamente?

Tecnicamente foram muitos, mas como profissional houve um jogador que me impressionou muito: Zé António. Foi, sem dúvida, o mais profissional dos jogadores com quem trabalhei. O Zé António tem tudo o que o profissional de futebol deve ter.

Só falta sublinhar que quem faz esta afirmação já atravessou o nosso caminho. No ano passado, em Leiria, Antero Henrique e este ex-director desportivo do Torreense tiveram um episódio. Como prémio, o ex-director desportivo do Torreense (e U. Leiria) integra a estrutura do lado vermelho da segunda circular em Lisboa. Se até eles…

Felizmente, a carreira de Zé António tem mais um capítulo por escrever. Um jogador de carreira feita aceita juntar a sua experiência ao talento emergente no FC Porto B. Numa equipa selvagem em talento e cheia de ilusões, há quem garante orientação e um rumo. O xerife do Oeste é exemplo, comando e conselho amigo. 

Um líder dentro de campo e no balneário. 

À Dragão, como sempre foi!




 Por: Breogán

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