O Homem e o seu percurso:
Com a baía de Guanabara como fronteira, São Gonçalo espreita para o Rio de Janeiro na margem errada. Tão perto e tão longe. É em São Gonçalo que Helton começa a botar os olhos para as belezas da baía de Guanabara e para a ponte Rio-Niterói como o cordão umbilical que liga os seus sonhos de menino ao futebol de gigantes do Rio de Janeiro.
Aos 6 anos, Helton começa a jogar futsal no bairro de Alcântara em São Gonçalo num clube chamado Marajoara. O ala direito não mostrava muita vontade para correr e o talento com o pé era suficiente, mas não deslumbrava. A solução que restava era testar as mãos, poderia ser que os membros superiores fossem mais abençoados. A baliza, para Helton, foi como violão afinado. Só podia sair bom samba.
Com 11 anos festejados, Helton começa a atravessar a ponte Rio-Niterói para perseguir o seu sonho de menino: tentar a sua sorte nos testes dos grandes clubes cariocas. Começa pelo clube das Laranjeiras. O teste do Fluminense é superado com distinção, mas o centro de treinos do Fluminense, em Xérem, era distante demais para as possibilidades económicas da família. Helton experimenta a crueza da sua condição. Adia o sonho, mas não desiste.
De “flu” para “fla”, Helton ruma a testes no Flamengo, que tem um CT mais próxima da sua residência. Mais uma vez, Helton é aprovado. O CT da Vargem Grande é mais acessível, mas o destino volta a fintar a perseverança de Helton. Num momento de lazer, Helton cai de uma árvore e forma um coágulo no cérebro. A única forma de recuperar é repouso absoluto, o que implica abdicar da oportunidade que tinha conseguido no Flamengo.
Recuperado de mais um tropeço da vida, Helton volta à luta. Desta vez, o alvo escolhido é mais modesto.
Helton tenta a sua sorte no São Cristóvão, um clube carioca situado logo na saída da ponte Rio-Niterói. É um clube com muita história na formação e Helton volta ao trilho do sucesso. Num jogo contra um dos gigantes do Rio, Helton brilha. No fim do jogo surge o convite desse clube: um teste no Vasco da Gama. Ao Vasco já tinham chegado as indicações de Dias, seu antigo colega de futsal, mas a exibição frente ao Vascão é decisiva. No clube de São Januário, Helton é, de novo, aprovado. À terceira seria de vez. Com a Cruz de Malta ao peito, Helton, aos 15 anos de idade, é integrado na equipa júnior de um dos gigantes do Rio de Janeiro. Finalmente, a baía de Guanabara já não é uma fronteira.
Helton continua a sua evolução no Vasco da Gama e em 1997 é convocado para representar a selecção brasileira no Mundial de Sub-20, onde foi suplente. A carreira de Helton já estava no trilho certo. Um ano depois, após uma brilhante campanha na Copa São Paulo (o mais prestigiado torneio Sub-20 interclubes brasileiros), onde leva o Vasco da Gama ao segundo posto, Helton é integrado em definitivo no plantel profissional.
Helton sobe ao escalão profissional do Vasco da Gama como quarta opção para a baliza. Debaixo do espectro de ser emprestado para ganhar tempo de competição, Helton vai aguentando-se no plantel do Vasco. O guarda-redes titular do Vasco – Carlos Germano – arrasta um problema contratual com a direcção do clube cruzmaltino e começa a ser afastado da equipa principal. As oportunidades dadas aos outros guarda-redes do plantel revelam-se desastrosas e Helton vai subindo na hierarquia. A meio da temporada, Helton que começara como quarta opção, era já suplente de Carlos Germano, que ainda mantinha o braço de ferro com a direcção vascaína. No fim da época e com o Mundial de Clubes da FIFA à porta, Carlos Germano é transferido para o Santos, abrindo a janela de oportunidade para Helton. Helton agarra a oportunidade e mostra personalidade e firmeza na baliza. Vasco é vice-campeão Mundial, mas ganha um guarda-redes.
Para enfrentar a temporada de 2000, já não existiam dúvidas de quem usaria a número um do Vasco. Na época de estreia com a responsabilidade da titularidade, Helton conquista a Brasileirão e a Copa Mercosul. Havia nascido um novo ídolo em São Januário! Como cereja no topo do bolo, Helton é convocado para os jogos Olímpicos e é titular.
Helton manteve a titularidade da baliza do Vasco por mais dois anos, até que, o não acordo de verbas na renovação do contracto levam-no a aventurar-se a atravessar o Atlântico. Helton chega a Leiria para representar o clube local. Na época de estreia, é peça fundamental na carreira do clube da cidade Lis na disputa da Taça de Portugal. A União de Leiria chega à final, onde enfrenta o FC Porto. Nem Helton parou os Dragões, mas o seu destino ficaria selado.
Manteve-se em Leiria por mais duas épocas, sempre em grande nível, até que, finalmente, chega ao Dragão para pegar no ceptro de Vítor Baía.
A transição é suave e progressiva. Helton e Baía coincidem no FC Porto por duas temporadas. Na primeira, Helton é mais suplente que titular, mas na segunda temporada já é ele o dono da baliza. Com a chegada ao FC Porto, Helton começa a ser convocado para selecção principal brasileira. Em 2007, é um dos guarda-redes escolhidos pela canarinha para a Copa América. O Brasil é campeão e Helton soma mais um título. Ainda assim, Helton não consegue sedimentar um lugar na baliza brasileira, onde há um corrupio de guarda-redes a tentarem firmarem-se nessa posição. À selecção só voltará nas eliminatórias para o Mundial de 2010, mas ficará de fora da convocatória final para o torneio na África do Sul. Ao todo, soma 13 internacionalizações pela Selecção Brasileira.
No FC Porto, Helton conta já oito temporadas e com a excepção da primeira, sempre manteve a titularidade. Em oito anos, soma seis Campeonatos, quatro Taças de Portugal e cinco Supertaças. O ponto alto é em Dublin, onde conquista a Liga Europa frente ao Braga. Hoje, Helton é um dos esteios do clube e capitão.
De violão na folia ou de luvas no ofício, sempre um sorriso do tamanho da baía de Guanabara.
A análise ao jogador:
Helton é um guarda-redes moderno. Hábil com a bola nos pés e incisivo na reposição da bola em jogo. Grande parte do destaque que ganhou quando subiu à titularidade no Vasco da Gama e no FC Porto deve-se à sua capacidade de lançar contra-ataques. Estas duas características tornam Helton um guarda-redes diferenciado dos demais e cativante para o espectador. É um guarda-redes que tem capacidade de participar nos momentos ofensivos da equipa. Uma raridade.
Autoritário quanto baste no jogo aéreo na sua área, Helton possui bons reflexos e uma técnica sólida. É raro vê-lo largar uma bola.
É um líder e sempre disponível para motivar e orientar a equipa. É um reflexo da pessoa alegre que é. Mas no outro lado da moeda, tem tendência a dispersar-se, o que já o levou a ter alguns dissabores em jogos decisivos, no FC Porto e na sua selecção.
Por: Breogán
4 comentários:
parabéns! pelo post.
desconhecia, em absoluto, as origens do nosso nr.1, até hoje.
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II
Gostei.
Um grande guarda-redes que ficará na historia do FCP
Comete de vez em quando o seu frango como todo o grande guarda redes.
O melhor em Portugal.
Fabiano e Bolat prometem mas falta a confirmação.E Helton é um valor seguro com influencia no balneário, tal como Lucho.
Um dos melhores guarda-redes que o FC Porto teve, conseguindo manter o nível durante anos a fio. É certo que na memória vão sempre ficar aqueles frangos que ele deu na Liga dos Campeões mas também ficarão defesas decisivas que porventura valeram títulos.
Numa altura em que já falavam no fim de ciclo de Helton, a direção faz uma jogada de mestre e renovou-lhe o contrato, mostrando que tem total confiança em Helton e que ele continuará a ser capitão e o dono das redes azuis e brancas.
Fabiano tem tudo para ser um sucessor à altura. Já Bolat não acredito, do que vi nos jogos da equipa B, o melhor é vendê-lo o quanto antes. Não tem categoria para este clube.
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