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Hora de balanço da época
desportiva da principal equipa do Futebol Clube do Porto.
Fá-lo-ei em 3 textos. No primeiro
será dada uma panorâmica geral do que foi este terrível ano.
No segundo partirei para uma
análise individual de cada um dos actores envolvidos neste drama que virou
tragédia. Jogadores, Dirigentes, Treinadores.
No terceiro tentarei pegar no
falhanço monumental deste ano e projectá-lo para o futuro.
O que se aprendeu, o que não se
pode voltar a repetir e que estratégia adoptar.
Comecemos, então, com o TITANIC.
A época pode dividir-se em 6 actos:
- DÚVIDA
Dúvida é a palavra que melhor
define o inicio da época do FC Porto. Uma relativamente boa pré-época e uma entrada que a nível de resultados estava ao nível do exigido. A par desse sucesso
relativo começa a crescer a dúvida.
O universo Porto que desprezava Vítor Pereira não ficaria saciado com pontos. Queria exibições e pontos. Qualidade e quantidade.
Com a 2ª parte do Porto – Gil
Vicente é instalado o embrião da dúvida. Cresce rapidamente com a série que
começa em Viena, faz escala no Estoril e aterra no Dragão na dupla
Guimarães/Atlético de Madrid.
Aí o que parece estar em causa
não é a qualidade do treinador/jogadores. A dúvida é saber se a qualidade que
têm é suficiente para conduzir o Titanic. O famoso jargão: “Terão unhas?”
Da dúvida à certeza é um tirinho.
Pequenos fogachos (1ª parte na Rússia e Sporting em casa) ainda ligam a dúvida às maquinas durante um tempo mas pelas 20.30 minutos do dia 26 de Novembro de
2013 é decretado o óbito da dúvida. Nasce a certeza.
- CERTEZA
Naquela tarde de dia 26 de
Novembro o Atlético de Madrid tinha arrancado um fundamental empate em
S.Petersburgo.
Pouco mais de uma hora volvida a
equipa de futebol comandada pelo treinador Paulo Fonseca mostrava e comprovava
que estava instalado o vírus que mata qualquer clube.
Querer e não saber como. Tentar à
toa. Substituições sem meritocracia. O caos com qualidade ultrapassado pela
organização mediana.
Com aquele empate ficou claro
para todos que tínhamos acabado de bater num iceberg.
Quando falo em todos refiro-me ao
portista que não faz parte da estrutura. Que não é jogador, treinador e
dirigente.
Não íamos a lado nenhum com Paulo
Fonseca. Tínhamos a certeza nós. Parecia que eles ainda estavam com o desfibrilador
na dúvida. CHARGING! CLEAR!
Como eles acertam mais vezes do
que nós – REMEMBER VITOR PEREIRA? – apesar de se ver que a equipa já não se
mexia, a esperança que a duvida fosse ressuscitada era o combustível que nos
alimentava.
Next Stop: Coimbra. Volta o desfibrilador.....
CHARGING! CLEAR!
2ª parte com o Braga. Será que a
culpa é da tripulação?
Termina o jogo em Madrid e uma
parte deles junta-se a nós. A flash de Fernando, Lucho e Jackson diz tudo sem
que fosse preciso dizer. Os jogadores confessam que para eles a dúvida também
já morreu.
Sobra o treinador e os
dirigentes.
- MÚSICA
Chega a hora da orquestra.
Pouco depois dos jogadores
enterrarem a dúvida o próprio treinador reconhece que não há nada que
ressuscite o morto.
Sobram os dirigentes que
consideram que depois do falhanço do CHARGING e do CLEAR talvez com a orquestra
seja possível evitar o pânico e disfarçar o que todo o mundo já viu.
Como no TITANIC, é dada ordem à
orquestra para dar música.
A cada desaire somam-se a
infelicidade das bolas no poste, os escandalosos erros arbitrais e o aqui ninguém vira à direita porque não há
ratos.
Renega-se tudo o que o Porto
nunca fez no Mercado de Inverno. Despacham-se líderes de balneário e de relvado
e à orquestra soma-se circo.
A ocupação intensiva da agenda mediática
com música e circo não disfarça um incómodo permanente: Domingo havia sempre
jogo. O navio metia cada vez mais água.
No jogo com o Estoril em casa e
Frankfurt fora a orquestra já toca debaixo de água.
Depois de nós e quase todos eles,
o odor do estado de putrefacção começa a invadir todos os sentidos. Nos ouvidos
não entra música. Nos olhos não se vê postes, arbitragens nem ratos.
Cheira mesmo muito mal e desta
vez não é à Lisboa.
Termina, por fim, a música. Nasce
o alívio.
- ALIVIO
Quando o despertador interrompe
um pesadelo há sempre uma sensação de alivio. Respiramos melhor e o sol brilha
lá fora. É um novo dia.
Foi assim quando Luis Castro
entrou. Primeira sensação foi a de enorme alivio. A segunda (depois de vermos um
meio-campo nos jogos com Nápoles e Benfica) foi a de voltar a respirar. Aí
entramos todos num delirio colectivo. Nós e eles. Todo o mal que tinhamos
vivido tinha ocorrido por causa do treinador. Com alguém sem crista à frente
dos olhos nem duplo pivot à frente dos centrais o Porto carburava. Afinal, tínhamos bons jogadores e a SAD “só” tinha escolhido mal o treinador.
Pura ilusão. Quando o sol se pôs
e a noite caiu no Sanchez Pizjuan e na Luz percebemos que o pesadelo ia voltar.
Era real.
- REALIDADE
Caímos na real. Um treinador é
muito importante mas não é a raíz de todos os males nem a causa de todos os
sucessos.
Escolhemos mal o treinador e
continuamos a facilitar na composição do plantel.
Fucile tem que sair? 2 laterais é
capaz de dar para fazer a época.
Bernard não pode vir? Licá é
capaz de resolver.
A aposta no etéreo e imaterial –
estrutura, balneário, mistica, cultura – acabou por menorizar aquilo que é
corpóreo.
Jogadores de qualidade,
treinadores competentes, plantel com opções.
O que cai depois da 2ª mão da
Taça na Luz é tudo isso. O que é imaterial pode potenciar o corpóreo. Jamais
conseguirá substitui-lo ou camuflar a sua deficiência.
Ao cairmos na real percebemos que
este navio ia mesmo ao fundo com todos lá dentro.
Ninguém se salvava e todos são
responsáveis. Ao contrário do Titanic aqui nem 1 bote há para separar quem
merece viver e quem deverá perecer.
Vem o último capitulo:
- DEPRESSÃO
Nesta fase a cada dia pensa-se
ter encontrado o fundo do poço. Tudo se desintegra, tudo o que tem 2 pernas e um
dragão no peito é um incapaz, incompetente, inapto e todos os outros i´s do
dicionário.
Tudo o que tem a braçadeira no
braço e se senta no banco tem esses i´s ao quadrado.
Tudo o que é dirigente e não tem
Pinto da Costa no nome tem esses i´s mais uns quantos adjectivos estilo
administradores do BPN.
Sucedem-se humilhações semanais. Taça da Liga, Olhão and so on and so
on.
Tivesse esta novela continuado
por Maio fora e o 7.º capítulo teria sido o da vergonha.
Felizmente a época acabou.
O sentimento que um portista vive
em Junho é um misto entre o desejo de vingança e o profundo embaraço. Queremos
dar a volta por cima mas temos medo de ter vergonha de o fazer.
Só se parte para o resgate em
full power quando internamente nos deixarmos de sentir embaraçados.
Embaraçados com a nossa
incompetência e o nosso laxismo. Resolva-se isso primeiro.
Haverá tempo para o resgate.
Por: Walter Casagrande
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