sexta-feira, 17 de abril de 2015

JA, WIR KÖNNEN!


Vivemos na 4ª feira uma das noites mais épicas de que há memória.

Eu, já vi muito futebol e não me lembro de o Porto eliminar, em duas mãos, uma equipa que no papel lhe era tão superior.

Ainda não eliminou e sendo sincero está ainda a quilómetros de distância de o conseguir fazer. 

O Bayern era, até ontem, a equipa favorita a ganhar a Champions.

O Bayern é, e continuará a ser, a equipa de topo em que o treinador mais exponencia o colectivo conseguindo que o todo seja muito superior à soma das partes e é essa força colectiva que protege mais o Bayern da lesão de um craque do que um Barcelona ou um Real Madrid.

Foi essa força que combatemos. Foi essa equipa que conseguimos bater. É esse gigante que podemos eliminar.

O jogo do dia 15 para a EUROPA e para o MUNDO era a constelação de estrelas de Paris. Quem não fosse francês, espanhol, português (que não sejam catedráticos da bola) ou alemão queria era ver o PSG – Barcelona.

E dia 21 de Abril? Os olhos do mundo estarão onde? Por causa de quem?

O Porto respeitou o seu ADN. Jogou com a tactica do costume com a atitude do costume.

O Bayern respeitou o seu ADN. Jogou com a tactica do costume com a atitude do costume.

Estas 2 realidades tinham tudo para redundar num desfecho em que só os mais fortes ganham. Com armas iguais, estratégias iguais ganha quem é melhor.

Alguém dos que me lê pensa que o Atlético de Madrid conseguiria ter o recorde que tem contra o Real Madrid se jogasse na mesma tactica e com o mesmo espirito ofensivo?

Lopetegui é mais teimoso que uma mula. Vai ser À MINHA MANEIRA e vou provar que é possivel discutir uma eliminatória contra um colosso replicando-lhes a tactica.

Vou tentar perceber como foi possível que o milagre fazendo do relvado do Dragão um ringue de boxe e tentando analisar os 5 assaltos vividos com a ajuda do MESTRE DA CHICLETE.

1.       Avaliação da qualidade de cada equipa em ataque organizado
2.       Avaliação da qualidade de cada equipa na transição ofensiva
3.       Avaliação da qualidade de cada equipa em organização defensiva
4.       Avaliação da qualidade de cada equipa em transição defensiva
5.       Avaliação da qualidade de cada equipa na estratégia das bolas paradas.
Os 5 momentos que, como o mundo de futebol sabe, foram inventados por Jorge Jesus serão os 5 assaltos para analisar a partida de ontem.



  1. ATAQUE ORGANIZADO
O Bayern é muito melhor que o Porto em ataque organizado. É melhor do que qualquer equipa do Mundo. São criadas várias placas giratórias que vão fazendo o adversário correr da esquerda à direita e varios jogadores se movimentam entre linhas para espaços interiores criando o caos em qualquer defesa.
O Bayern é muito melhor do que o Porto e na 4ª feira provou que é melhor. Todo o período entre o 2-0 e os 45 minutos de jogo demonstra que com bola eles são melhores e mais capazes de chegar à grande área em construção desde a defesa.
O golo do Bayern é a prova provada da capacidade e confiança que eles têm no desmontar das equipas com bola. Passe, passe, passe, 4/5 homens na área e GOLO!
Tiveram 2 cantos seguidos e não conseguiram fazer a diferença. A bola parada para quem tem 5/6 jogadores com menos de 1,80m fica mais difícil.
A inteligência suprema de uma equipa muitíssimo bem treinada jogou com as 5 armas JESUSIANAS e foi rápida a decidir:
“Na bola parada não fazemos a diferença.
Somos fortes na organização ofensiva.
O Porto está muito forte na organização defensiva.

Fugimos da bola parada com um canto curto, apostamos na construção organizada e aproveitamos que a defesa do Porto está toda metida na grande área e despreparada posicionalmente para defender organizadamente.”

E assim foi. Herrera sai do sítio para tentar roubar uma bola que escapa in extremis, Danilo está mais à esquerda que à direita, Alex mais à direita que à esquerda e há o espaço para a bola cair em Boateng que rasga a área onde permanecem à espera vários jogadores do Bayern.

É certo que há aquela indecisão de Indi que trai Maicon mas a verdade é que sofremos um golo típico de quem enfrenta um colosso estratégico e inteligente.
Isso serve para perceber que mesmo quando o foco está a 1000%, o rigor a 2000% é complicadíssimo jogar contra estas equipas.

CONCLUSÃO: No item n.º 1 Bayern ganhou aos Pontos.



  1. TRANSIÇÃO OFENSIVA

A transição ofensiva não é uma arma de eleição destas equipas. Quem tem Robben, Ribery ou Tello pode dinamitar qualquer defesa em contra-ataque se quiser mas quem joga em posse e o que quer é ter bola, quando a recupera tem pânico de a perder rápido. 

É esse o modelo do Bayern de Guardiola e do Porto de Lopetegui.

Quem joga em posse obriga-se a ser mais rápido na recuperação da bola pós perda do que no ataque à baliza pós roubo.

Em princípio este seria um item do jogo irrelevante porque não é o recurso de eleição mas na 4ª feira foi decisivo ao nos dar aquele plus de ânimo e de confiança capaz de pôr o sonho à porta.

É também aqui que Lopetegui nos ganha o jogo. O Porto foi forte nas vertentes do jogo que normalmente passam ao lado de Porto e Bayern.

Lopetegui prepara a tactica para 14 jogadores. O que Danilo tem que fazer, o que Quaresma tem que fazer, o que Jackson tem que fazer,………, o que Dante vai fazer, o que Xabi Alonso julga que tem tempo para fazer e o que Boateng e Dante não esperam que uma equipa como o Porto faça.

Ligação directa ao “QUEREMOS TUDO”
.
O 3.º golo do Porto entra para o TOP dos golos da minha vida. Vou tentar descrever de forma exaustiva o lance vivido em segundos.
Quando Alex Sandro muda a velocidade eu aprovo mentalmente. 

Quando Alex Sandro resolve meter aquele passe longo eu aprovo mentalmente. É isto que temos que fazer quando temos um Ponta de Lança de TOP Mundial. Forçar, forçar.

Quando vejo que é Boateng e não Dante a perseguir Jackson desanimo. Este vai chegar à bola.

Não chega e o peito começa a insuflar-se de ar. Desanimo vira ténue esperança.

Jackson dá um pequeno toque bem à minha frente e a impressão que me fica é que a bola andou quilómetros em direcção a Neuer. A ténue esperança vira desilusão pela certa.

Parece que a bola andou quilómetros mas Jackson chega primeiro. O Peito está cheio de ar e já não há mais oxigénio para respirar. A desilusão leva uma chapada da esperança.

Jackson desvia a bola para o lado de fora e a minha cabeça doida vê a bola a ir furiosa para a linha de fundo. Penso: “NÃOOOOOOOO Jackson..Para aí já não tens ângulo para marcar”.

Quando vejo que a bola vai meiguinha para dentro da baliza é a descarga total. Não chega a kelvinizar-me mas os efeitos são similares. Uma descarga brutal que esvazia o peito em milésimos de segundo e concentra toda aquela energia nos olhos que ficam com mais talento para chamar as lágrimas do que a boca para mostrar os dentes.

O momento que devia ser de felicidade extrema para um adepto da bola é totalmente capturado pela comoção.

O estádio vem abaixo e do alto da minha bancada vejo pessoas a descerem ou a caírem 5 ou 6 filas. É incrível o que a bola faz com as pessoas. É incrível o que vivemos naquela noite.

Jamais me esquecerei do filme daquele lance.

O Porto foi a única equipa a utilizar este recurso. Transição ofensiva . Não utilizou na quantidade exigível para quem joga contra o Bayern mas a qualidade e a classe de Jackson aproximaram o QUEREMOS TUDO de Lopetegui da realidade. 

CONCLUSÃO: No item n.º 2 o Porto ganhou aos Pontos


  1. ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
Não há quem consiga ter a mínima chance contra equipas da casta de Real, Barcelona e Bayern se não for TOP na organização defensiva.

Este é o outro capítulo de jogo que é um recurso pouco utilizado e enfiado no fundo da gaveta de uma época.

Porto e Bayern costumam ter bola entre 60% e 70% do tempo. Quanto não a têm o normal é que a transição defensiva resolva ou mitigue o problema.

Quando vemos que o MUNDO dá ao Atlético de Madrid boas possibilidades de lutar com o Real e até de ganhar a Champions percebemos que as equipas competentes e rotinadas neste capítulo de jogo têm meio caminho andado para o sucesso.

Que equipa é que encostou o Porto de Lopetegui no seu meio-campo até ao jogo de ontem?

Braga na Taça da Liga e ……………….?

Que equipa no Mundo é capaz de encostar o Bayern de Guardiola bem lá atrás?

Defrontaram-se duas equipas com pouca rodagem e sem marcas de cordas nas costas.

Depois do 2-0 foi um grande Bayern que encostou o Porto às cordas. Passes interiores, deslocação de 3, 4 e 5 jogadores para as imediações de grande área, criação de espaços entre linhas que não acabavam mais.

Foi um sufoco ofensivo que transformou 35 minutos de jogo efectivos em 2 horas mentais.

O Porto foi brilhante, rigoroso, organizado, solidário e totalmente focado.

Casemiro foi o expoente máximo da solidariedade e do foco. Quando havia a mínima falha, aquelas pernas envolvidas em chamas e aquele coração que ultrapassava o peito resolveram tudo e comeram todas as entrelinhas do Mundo.

A única falha colectiva foi quando a equipa se organizou para uma coisa (Bola Parada) e o Bayern nos deu outra.

A equipa de Guardiola só foi realmente testada neste domínio nos primeiros 20 minutos da 2ª parte e mostrou que não se sente confortável a defender  e que a pele das costas de tão macia que é se irrita com qualquer tipo de cordas.

CONCLUSÃO: No item n.º 3 o Porto ganhou aos Pontos


  1. TRANSIÇÃO DEFENSIVA
As equipas de posse, de tiki taka baseiam 90% do seu futebol na organização ofensiva e na transição defensiva.

Atacam, Perdem, Aceleram, Recuperam, Acalmam, Atacam, , Perdem, Aceleram, Recuperam, Acalmam.

As equipas de Guardiola são as melhores do Mundo neste domínio. Não tenho dúvida nenhuma que o ponto forte (à parte do génio de Messi) daquele Barcelona que maravilhou o Mundo era este.

O Inter de Mourinho elimina o Barça de Guardiola quando se rende a essa evidência e percebe que tentar ter bola contra uma equipa que pressiona alto, posicionalmente perfeita e com muitos jogadores é um bilhete para a desgraça.

O Bayern da primeira parte foi muito, muito bom neste capítulo. O Porto não conseguiu ter bola e trocar a bola de forma tranquila e segura durante 1 segundo.

Eu via quase todos (à parte de Herrera e Brahimi) a tomarem ou a tentarem tomar boas decisões mas quando a bola chegava ao destinatário seguinte a recepção era sempre atormentada por 2 e 3 homens de preto.

A primeira parte do Bayern foi brilhante e um exemplo de como pressionar alto, em matilha e com muitos.

A sorte, ou melhor, a competência da maior parte dos jogadores do Porto permitiu que essa avalanche de homens de preto que procurava recuperar a bola apanhando-nos desorganizados não tivesse sucesso.

O Bayern foi uma equipa que pressionou pós-perda à Guardiola na 1ª parte.

O Porto foi uma equipa incomodadíssima por essa pressão, não foi capaz de passar por ela mas teve a responsabilidade e inteligência de ser vencido nos sítios certos e de ter sempre a ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA preparada para responder de forma rápida à perda.
Se o Bayern foi brilhante o Porto foi letal.

Os 2 golos são lances de compêndio. A pressão não é total à Bayern o que revela uma inteligência de Lopetegui que nos fez ganhar o jogo.

O Porto não tem capacidade física para pressionar alto sempre, com muitos homens e a importunar de forma constante cada jogador que recebe a bola.

Nem tem o Porto, nem teve o Bayern.

O Porto de Vitor Pereira fez isso contra o Barcelona de Guardiola e ficou de gatas na 2ª parte.
O Porto de Vitor Pereira fez isso contra o Malaga de Pellegrini e ficou de gatas na 2ª parte.
O Bayern de Guardiola fez isso contra o Porto de Lopetegui e na 2ª parte deu o estouro.

Quem pressiona muito e bem tem que ter a noção que o jogo tem 90 minutos. Um ciclista não ataca uma montanha de 1ª categoria se souber que ela coincide com a meta da mesma forma como a atacaria se ainda faltassem 150 Km pela frente.
O Porto de Lopetegui foi cirúrgico.

Enquanto o Bayern pressionava tudo e todos, o Porto de Lopetegui pressionava mais as linhas de saída de passe do que o portador.
A ideia que transmitia ao Bayern no início de construção era: “Vou dar-te sossego com bola mas vais ficar sem alternativas a seguir.”

Esta falsa sensação de segurança que um lado pensou que tinha (o Bayern) e o outro sabia que nunca teria (o Porto) acaba por decidir os destinos do jogo.

Tal como o Bayern nos enganou quando troca a Bola Parada pela Construção nós também os enganamos com essa manha de “Vais ter tempo para pensar mas não terás alternativas.”

Engana porque os jogadores do Bayern respiravam na recepção e só se preocupavam na fase posterior. Antes da preocupação havia sempre o conforto porque: “ O Porto não pressiona como nós.

É verdade. Vocês não nos deram um segundo de sossego. Por isso obrigamo-nos a estar sempre alerta.

Em contrapartida o Xabi Alonso não sonhava que seria atacado daquela forma selvagem pela pantera colombiana.
Então? Afinal nem receber podemos?

Caíram os queixos a Dante quando o bafo do cigano lhe pôs os cabelos em pé.

O Porto foi imprevisível, constante e duradouro na pressão.

Jackson, Quaresma, Oliver, Herrera foram brilhantes nesse domínio. Brilhantes porque alternaram o “Recebe à vontade” com o “Já aqui estou”.

Brilhantes porque Lopetegui percebeu que se o “Já aqui estou” fosse dominante perdíamos o efeito surpresa, dávamos tempo a que Guardiola acertasse agulhas e não acabaríamos o jogo de PÉ.

Este pressão imprevisível e concertada nos alvos certos deu possibilidade a que o Porto conseguisse ter na 2ª parte mais “Já aqui estou” do que o Bayern.

Se Guardiola sabe que tem jogadores que regressam de lesões prolongadas como Lahm e Thiago é culpado de não antecipar que uma equipa que “está sempre” na 1ª parte pode desaparecer na 2ª.

CONCLUSÃO: No item n.º 4 o Bayern foi brilhante em 45 minutos, o Porto foi inteligente nos 90 e ganhou por KO.


  1. BOLA PARADA
Jorge Jesus tem razão. Nos dias de hoje a estratégia para as bolas paradas é tão determinante como qualquer outro capítulo do jogo.
O Porto perde em casa com o Benfica por causa disso.

O Bayern é eliminado da Champions sem conseguir lutar à conta disto.

Como neste domínio nem o Porto nem o Bayern são equipas de TOP não foi por aqui que o jogo se resolveu.

O Bayern marcou pontos ao enganar o Porto na primeira meia hora com 2 a 3 marcações de livres de forma rápida e o Porto empatou com lances como o de Casemiro na 1ª parte que sinalizavam as vulnerabilidade que os alemães têm e que podem ajudar a decidir a eliminatória.

CONCLUSÃO: No item n.º 5 regista-se um EMPATE TÉCNICO.


Analisando estes 5 assaltos podemos tentar retirar algum sumo deste combate.

  • O Melhor colectivo do Mundo esteve em patamares altíssimos nos dois capítulos mais importantes do modelo tiki taka e……PERDEU
  • Uma equipa perfeita com bola defrontou uma equipa perfeita sem ela e……PERDEU
  •  
  • Uma equipa sem medo de perder a bola defrontou uma equipa com medo de a perder e…….PERDEU.
  • Uma equipa que se centrou naquilo que sabe fazer bem defrontou uma equipa que se preocupou em fazer bem aquilo que não costuma fazer e………..PERDEU.
  • Uma equipa que QUER TUDO e não se centra em 2 assaltos para ganhar o combate pode lutar com colossos.
  • Uma equipa que sabe que tem que DURAR o tempo todo pode lutar com colossos.

O PORTO conquistou uma vitória épica SEM BOLA, com INTELIGÊNCIA e com CINISMO.

Tirando a trivela do Quaresma, o passe do Alex e o génio de Jackson não foram pelas acções COM BOLA que o Porto ganha o jogo.
Oliver, Herrera, Casemiro, Danilo e todos os outros foram enormes e fizeram grandes jogos sem que essa avaliação se suporte nos magníficos passes, fintas, remates ou cruzamentos.

Tudo isto porque o futebol está mudado. 

O jogo de 4ª feira pode entrar para a história da modalidade como as eliminatórias do Inter-Barcelona, Bayern-Barcelona e Real Madrid-Dortmund.

Eu não acredito que nós estamos metidos nisto. Nós, Porto, estamos METIDOS NISTO.

O Mundo do futebol interrogava-se se Chelsea, City, PSG ou Atlético poderiam beliscar Bayern, Barça e Real.

Em circunstâncias normais mesmo para esses seria impossível sequer sonhar com isso.

Nós, de um escalão bem mais abaixo, estamos mais perto de conseguir (embora esteja ainda longe) a qualificação mais improvável e épica do FCP numa eliminatória a duas mãos.

O Bayern era o favorito à Champions. Que sonho, MEU DEUS. 

Que me perdoem todos mas eu não me importo de arriscar o campeonato e poupar toda a equipa titular para 3ª feira se isso me der mais 4 a 5 % de hipóteses de eliminarmos o Bayern e chegarmos às meias.        

O que vimos na 4ª feira e o que vivemos na 4ª feira merece que se FAÇA ABSOLUTAMENTE TUDO para tentar passar esta eliminatória.           
Com 0-0, 1-1 ou até 2-1 eu ponderava. Assim, na minha cabeça e depois do que fizemos e vivemos, merecemos dar prioridade ao sonho.    

Já seria uma montanha duríssima de escalar com Danilo e Alex.

Sem 2 dos nossos 4 insubstituíveis (estou a meter o BULLDOZER MIRO no meio) fica muito mais complicado. 

Se levarmos para lá Casemiro, Jackson, Herrera, Oliver, Quaresma& friends sem estarem o mais frescos possível não vamos respeitar o que sofremos, o que fizemos e o que vivemos na 4ªfeira.

Podemos ficar na história do futebol moderno. Traçar um caminho, mostrar que não há impossíveis.
O Ruben, o Hernâni, o Evandro, o Aboubakar e todos os outros têm que dar no sábado a sua contribuição para o sonho.               

Dia 16, Dia 17, Dia 18 (com intervalo entre as 18.00 e as 20.00), Dia 19, Dia 20 e Dia 21 a prioridade é tentar que o dia 15 fique na nossa história.

Isto é mais difícil que ganhar a Liga Europa, MESMO.

FAZER TUDO POR TUDO. 

Só nós podemos conseguir. Vão 4000 daqui.
Está tudo maluco com isto e vão passar mais 10 anos até voltarmos a ter uma oportunidade destas.

O Mundo acha que o Bayern vai dar a volta e quer ver se aqueles malucos de azul e branco conseguem o inimaginável.
Os malucos de azul e branco SOMOS NÓS.




Análises Individuais:

Fabiano – No jogo mais difícil da época não teve muito trabalho porque a organização defensiva da equipa foi fazendo o trabalho sujo.
Quando chamado disse presente com uma defesa a remate de Rode e a fazer a mancha a Lewandowski após a marcação de um fora de jogo.

Danilo – Monstruosa exibição. Conhece os timings perfeitos de quando subir ou ficar, quando passar curto e longo. Está formidável fisicamente e o tempo de aprendizagem a jogar numa equipa de Topo Europeu que faz da posse uma regra deram-lhe uma complementaridade que nenhum defesa tem.
A falta que Danilo faz na 2ª mão vai bem para além da marcação ao ala esquerdo do Bayern e ao estica a perna para evitar cruzamentos.
Onde Ricardo está a léguas é na capacidade de tomar decisão com bola e acima de tudo na capacidade de ser um 3.º central e um 4.º médio quando o jogo pede.
Na 1ª parte há um lance bem demonstrativo dessa realidade quando Danilo se coloca à frente de Lewandowski, ganha uma falta e impede que ele fique isolado na cara de Fabiano.

Maicon – Responsável e agressivo. Estas 2 caracteristicas foram o bastante para brilhar mesmo com alguns erros na construção. Na realidade, errar na construção contra o Bayern não é grave porque é comum.
O que não se pode fazer é não saber errar na construção. Nada contra uma bola perdida na linha lateral porque neste contexto de pressão é um erro aceitável.

Indi – Responsável, agressivo e manhoso. Não salta mas não deixa ninguém saltar, não chega mas morde, arranha e incomoda para que ninguém chegue também. Isto é Indi que tem cultura e manha de veterano num corpo de jovem.
Com bola tem a calma que precisamos e quando a solta tem a qualidade que necessitamos.

Alex Sandro – Fenomenal. No pior período do Porto em que o Bayern acampou no nosso meio-campo o melhor jogador com bola foi sempre Alex. Sempre que era acossado  arrancava com sentido e passava com precisão.
No melhor período do Porto voltou a ser ele a empurrar e a forçar a equipa a avançar com arrancadas com bola, desmarcações sem bola e passes que transformaram a realidade em sonho.
Este Homem tem lugar em qualquer equipa do mundo. Este Homem com a atitude de 4ª feira é titular em qualquer equipa do mundo.
Renovem com ele, POR FAVOR!

Casemiro – MIP. MOST IMPORTANT PLAYER.
Fez um jogo verdadeiramente espectacular. Este Casemiro mete medo ao João vilela do Gil Vicente ou ao Philip Lahm do Bayern. É um bloco de cimento que se move para todo o lado em fúria e com uma agressividade aterrorizante.
Não deixa espaço algum para os adversários pensarem que tipo de abordagem devem ter com ele. Não há conversas. Tenho a certeza que ninguém o quer ter por perto porque ele aleija a sério. Quando ele mete o pé parece que tem o peso de 250 KG. Quando ele mete o pé fá-lo com a velocidade de quem é um peso-pluma.
O Bayern não faz o 1-1 porque o Bloco de Cimento malucóide vem a correr para se encostar no Muller e para o entortar antes do cabeceamento para Lewandowski.
Ele sabe que não chega mas não se importa. Vou lá de qualquer maneira e entorto o Muller de tal forma que ele jamais conseguirá marcar.
Fez 345 dobras após-perda. Na bola parada é alto e espesso. Papa todo o espaço entre-linhas com pernas, corpo, saliva, chuteiras, toladas e sangue.
Eu estou rendido. Absolutamente rendido.

Oliver Torres – A União Ciclista Internacional tem andado a investigar o novo fenómeno de doping mecânico em que existe um minimotor a dar andamento à bicicleta.
Começo a duvidar se Oliver Torres tem um minimotor incorporado e anda a transferir do ciclismo para o futebol esse tipo de doping.
Foi o primeiro a ser substituído mas ainda consegue aparecer no TOP dos que mais correram e a média de andamento do seu minimotor apontava para números ao estilo do melhor Borussia de Dortmund (13 KM).
Costumo tentar compará-lo com Xavi pela capacidade que tem em circular a bola, passar, não a perder e encontrar sempre o melhor caminho.
Ontem, Oliver Torres teve que ser tudo menos aquilo que é. Na 1ª parte foi sufocado sempre que a bola lhe chegava aos pés mas tratou de sufocar tudo e todos com o seu minimotor.
Convido  todos a observarem o lance do 2.º golo do Porto olhando apenas para o Oliver. O Xavi não faz isto e se o Simeone viu aquilo BYE BYE.
Oliver Torres foi o jogador que Simeone gosta de ter mas que julga que Oliver não é.
Oliver provou-nos que tanto pode ser o cérebro Xavi como o motor Vidal ou Pogba.
Como a partida foi complicadíssima para o seu lado Xavi incorporou o motor Vidal.
BRAVO! 

Herrera – Este era um jogo mais para as suas características do que para as de Oliver.
Cumpriu na perfeição a parte da pressão ao ser um dos 3 homens (com Quaresma e Jackson) que do nada saltava para o JÁ AQUI ESTOU que tirava o sossego ao portador da bola do Bayern.
Em posse teve as dificuldades da era Paulo Fonseca mas isso já era expectável tamanho o muro que tinha pela frente. Não foi o único a tremer nesse capítulo do jogo.
Ficou um pouco aquém do que seria previsto na questão abordada por Guardiola. O do falso-lento que arranca e rasga.
Essa característica do Mexicano será fundamental para repartir o jogo, ganhar terreno e conquistar livres perigosos como conseguiu fazer na segunda parte.
Um bom jogo com esforço no limite.

Brahimi – Cumpriu na pressão à distância a Rafinha e teve uma ou duas oportunidades para brilhar na 2ª parte quando recebe e parte para cima no último terço.
Em todo o resto da partida foi um peixe fora de água. Se o Porto é encostado atrás Brahimi prejudica mais do que ajuda.
Não morde na pressão, recebe a bola muito atrás e envolve-se em fintas e piruetas onde quer que esteja. Casemiro, Alex e Indi tinham que ter o mesmo cuidado quando a bola estava em Muller do que quando estava com Brahimi.
Não vale a pena ter Brahimi em campo assim.

Quaresma – Fabuloso. Parecia um médio à Dortmund estilo Lucas Piszczek a correr, a pressionar e a morder a sério. Tudo isto no corpo do Quaresma com o talento de sempre.
Vou hierarquizar por ordem crescente os 4 momentos mais importantes da extraordinária performance de ontem.
Em 4.º lugar o penalti. Foi marcado com responsabilidade e classe. Todos nós sabemos o que nos tem custado esta dificuldade de ter quem marque com segurança os penaltis.
Quaresma devolveu-nos isso. Não havendo Evandro a sua titularidade dá-nos mais alegria do que desconfiança quando o árbitro aponta para a marca dos 11 metros.
Em 3.º lugar a trivela. O destino tem coisas tramadas e às vezes põe o comboio a passar 2 vezes na mesma estação. Não há portista que se esqueça daquele duelo Quaresma-Neuer do Schalke que nos ajudou a atirar para a eliminação.
Agora outra vez Ricardo. Agora é o Grande Neuer e tu já perdeste a oportunidade se ser o Grande Quaresma que na altura pensavas que te estava destinado.
Agora outra vez Ricardo. Agora é o Grande Bayern e o teu Porto não tem argumentos para se bater de igual para igual como contra aquele Schalke.
Estás sozinho Ricardo. E agora?
Que alegria Ricardo. Que TRIVELA!
Em 2.º lugar a Dantização ao sprint. Eu já sabia que o Jackson era capaz de fazer aquilo ao Xabi Alonso. Eu pensava que o Quaresma não tinha a inteligência e a predisposição para atacar o Dante daquela forma assassina.
O golo é colectivo mas Quaresma apostou a sério no “JÁ AQUI ESTOU!” com um sprint sem bola que para mim fica para a história.
Em 1.º lugar o pedido de substituição. Só se ganham jogos destes se o comprometimento com o colectivo matar qualquer ambição pessoal.
Eu treinador valorizaria qualquer jogador meu que me ajudasse a ler o jogo. Fazer das tripas coração e ir para lá dos limites são tudo gestos muito heroicos mas podem prejudicar a equipa.
Se a equipa pode fazer substituições e um jogador sente que já não pode cumprir com os mínimos só tem que fazer o que o Quaresma fez.
TIRA-ME LOPES. Eu já não consigo ajudar mais a equipa. O Quaresma a dizer isto!


Jackson – Não tenho palavras para o MVP. ÉPICO é pouco para ver o que um jogador faz num jogo de intensidade máxima após mais um mês de paragem.
Guião de cinema. No Fuga para a Vitória o Pelé ganha de braço ao peito.
Na 4ª feira Jackson Martinez fez o melhor e mais importante jogo que o vi fazer.
Não há melhor 9 do Mundo para encaixar nesta equipa.
Pé esquerdo, pé direito, cabeça, recepções à contorcionista, pressão com a inteligência de Lucho ou Moutinho, sprint à alucinado quando vê Brahimi a enganar Alex, perder a bola e deixar o corredor órfão.
Há muitos lances em que o bloco de cimento Casemiro já vem a lavrar para resolver mas tem que parar quando percebe que a Pantera veio cá atrás tratar do assunto.
Ataca os adversários como se fosse um selvagem mas olhamos para a forma como se movimenta, como anda, como recebe a bola e a desvia dos adversários e tudo é classe e elegância.
Vai para um safari na selva de smoking. E ganha-nos o jogo sendo avançado, médio, defesa, extremo, capitão, líder espiritual, tudo.
Jackson foi Jackson, foi Luis Suarez, foi Lucho Gonzalez, foi Gary Medel, foi tudo.
 Com ele JA, WIR KÖNNEN!
Podemos tudo com ele.


Ruben Neves - Sinto-o mais forte e mais preparado para o choque. Isso rouba-lhe velocidade de reacção mas dá-lhe argumentos para jogar contra matulões que encostem o cabedal.
Entrou para o lugar de Oliver Torres e cumpriu defensivamente numa altura em que o Bayern tentava mas o jogo estava mais mortiço. 

Hernâni – Neste menino eu vejo grande parte das nossas possibilidades de chegar às meias.
Jogar contra o Bayern com espaço nas costas é o perfil de jogo ideal para Hernâni. Só tem que correr e tentar finalizar que as oportunidades aparecerão.
Na 4ª feira entrou a tempo de provar o meu presságio mas só pode fazer um sprint que não deu em nada por ter corrido para um lado e o Casemiro passado para o outro.

Evandro – Estávamos no lavar dos cestos e a sua cultura táctica foi chamada a liça. Pouco tempo em campo não permite uma avaliação do seu rendimento para lá do tradicional “cumpriu”.


Ficha de jogo:

FC Porto 3 - 1 Bayern Munique UEFA Champions League, 1/4 final, 1ª mão
Quarta-feira, 15 Abril 2015 - 19:45
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 50.092

Árbitro: Carlos Velasco Carballo (Espanha)
Assistentes: Roberto Alonso e Juan Yuste; Carlos Del Cerro e Jesús Gil Manzano
4º Árbitro: Raúl Cabanero

FC Porto: Fabiano, Danilo, Maicon, Martins Indi, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Óliver Torres, Quaresma, Jackson Martínez, Brahimi. Suplentes: Helton, Quintero, Reyes, Evandro (84' Quaresma), Hernâni (79' Brahimi), Rúben Neves (75' Óliver Torres), Aboubakar. Treinador: Julen Lopetegui.
Bayern Munique:  Neuer, Rafinha, Boateng, Dante, Bernat, Xabi Alonso, Lahm, Thiago Alcântara, Müller, Lewandowski, Götze. Suplentes: Pepe Reina, Pizarro, Gaudino, Rode (56' Götze), Badstuber (74' Xabi Alonso), Weiser, Lucic. Treinador: Pepe Guardiola.
Ao intervalo: 2-1. Marcadores: Quaresma (3' pen), Quaresma (10'), Thiago Alcântara (28'), Jackson Martínez (65'). Disciplina: cartão amarelo a Neuer (2'), Bernat (16'), Casemiro (31'), Alex Sandro (37'), Lahm (38'), Rode (71'), Danilo (83').


Por: Walter Casagrande

8 comentários:

Drac Blau disse...

Sem dúvida, a crónica que este jogo memorável merecia.

Unknown disse...

Você escreve as melhores crônicas aos jogos do Porto, que conheço...e leio muitas. Parabéns !

Miguel Amador disse...

Discordo apenas na análise da transição defensiva. O segredo da vitória do Porto foi a forma como reagia às perdas de bolas, conjugadas com a estratégia de organização defensiva, colocava o autocarro no meio campo do Bayern. Foi graças a isso que a variação entre deixar os defesas pouco criativos à vontade para jogar, e uma pressão supreendente, permitiu recuperar duas bolas que deixaram os jogadores do Porto isolados para o golo. Após o 2-0 e a 2ª parte, o Porto não conseguiu manter a zona de pressão tão alta, ainda que o Lopetegui estivesse sempre a pedir isso, e passamos pelos piores dissabores, já que o Dante jogava bem para além do meio campo. Na segunda parte essa situação foi corrigida, e acabamos a controlar o jogo como queríamos, longe do nosso meio campo, e aproveitando os espaços no meio campo adversário. Concordo plenamente com a gestão da pressão, já foi for em termos físicos que o Porto ganhou este jogo, não tanto por uma melhor gestão dos momentos de pressão, mas por estarmos muito melhor fisicamente do que o Bayern (o único condicionado e limitado seria o Jackson e nada mostrou tal). Ganhamos ao usar a única táctica para combater o tike-taka que é a pressão alta, evitando que a falta de posse de bola ocorra na procura de espaços junto da nossa área. E ganhamos porque essa pressão, usada de forma inteligente, mais do que raçuda, permite condicionar a saída de bola aos jogadores que queremos, e dos quais podemos explorar melhor os erros. O próximo jogo será essencialmente uma disputa da resistência física e mental dos jogadores, já que o que o Porto fez foi o que o Mourinho aprendeu a fazer no Real para equilibar a balança com o Barcelona, e o Guardiola sabe melhor do que ninguém as debilidades que tem, só não sabe como as ultrapassar.

Anónimo disse...

De excelência,a melhor crónica da bluesfera.
Rocha

Hugo Valente disse...

Como sempre, esta cronica é mais um tratado...

Ja agora... qual o lateral direito que achas que devemos usar? Ricardo? Reyes?

Anónimo disse...

Tiro o meu chapéu a uma crónica de eleição para um jogo que para sempre ficará gravado na nossa memória! Parabéns! E muitas felicidades e sorte para o nosso FC Porto, eu acredito que estaremos nas meias finais, com sofrimento, talento, inteligência e sorte!

Domingos Moreira disse...

Excelente crónica! Parabéns!!!!

Rui Rodrigues disse...

Grande crónica como é hábito. Leio-as todas, sempre com um sorriso na cara.

As minhas partes preferidas são quase sempre as do Casemiro.

Saudações Portistas.

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