sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Reboque

REBOQUE

É a palavra que melhor define o Porto actual.

Quais os “veículos” que estão em causa? Quatro.

     ·  Treinador
     ·   Estrutura (representada no Presidente)
     ·   Jogadores
     ·   Sócios e adeptos

Quem reboca e quem é rebocado?



Comecemos pelo mais importante neste momento. Treinador.

Mobiliza rebocando ou está sujeito a vontades alheias sendo rebocado?

A simples análise dos dois últimos jogos poderá atenuar a culpa de Vitor Pereira. É impossível que uma equipa jogue tão mal num dia e recupere a fibra e a garra inexistente de um momento para o outro.

Quando os jogadores não querem não há treinador que resista dirão muitos. A prova que o Vítor Pereira não é O culpado foi a transformação de um 0-3 contra uma equipa mediana para um 2-0 frente a um adversário de nível Champions.

Desvalorizando o facto de, qualitativamente, o jogo da Ucrânia não ter sido nada de extraordinário parece intuitivo perceber que a mudança não foi táctica mas sim de atitude perante o jogo.


Se é de atitude interessa saber qual o veículo que rebocou a atitude. Foi o Presidente que deu 2 berros? Foram os portistas que mandaram 2 tochas? Foi o treinador que fez 2 alterações? Ou foram os jogadores que ganharam 2 dedos de testa?

Se os jogadores tentam jogar e correm num jogo e passam pelo jogo sem correr muito noutro é óbvio que são eles o reboque. O Vitor Pereira é, então, o rebocado.
Inocenta-se, assim, o réu dado o alibi? Não.

Um treinador pode ter erros tácticos (N substituições do Fernando, 2ª parte contra o Feirense) e não estar sujeito a julgamentos definitivos. Se assim fosse o Aloisio a defesa esquerdo teria feito do Bobby Robson um treinador mediano e o Jorge Jesus já não estaria onde está à conta do sagaz posicionamento do David Luiz nos 5-0.

O que um treinador não pode é ser rebocado pelos seus comandados. Não pode dormir na véspera sabendo que a sua competência será escrutinada em função dos apetites dos seus comandados.  O talento pode não surgir mas a atitude não pode faltar.

Porque se assim é deixamos de falar no líder do grupo de trabalho e passa a ser o indivíduo que dá os treinos, escolhe a táctica, define os jogadores mas não lidera.

E de nada vale discutir se jogamos com ou sem Ponta de Lança, com ou sem Fernando e se as opções devem ser umas e não outras.

Esse só é um objecto de discussão pertinente para um treinador que lidere. Um treinador rebocado que dependa de estados de espírito e não de competências profissionais dos seus comandados está mais do que a prazo.

Um treinador reboque preocupa-se se os seus comandados podem com o desafio que está entre mãos. O querem é certo.

 Um treinador rebocado está aterrorizado com o querem.

 Preparar o podem fica para segundo plano quando não sabe com o que conta.

Será que querem?

Se não comanda e é rebocado é porque no processo algo correu mal. Não sabemos o que é porque esses pormenores escapam aos 90 minutos que vemos no relvado ou na TV.

São os pormenores que levavam o rebocado Kleber a abraçar o reboque VP em jeito de gratidão quando marca o golo ao Shakthar.

Vemos esse tipo de atitudes regularmente que muitas vezes tresandam a graxa ao “mister”.
Vejo agora que a graxa é bom sinal. Quem passa graxa fá-lo a quem sente que é líder e tem poder. Aqui não interessa discutir a artificialidade do gesto.

Importa o reconhecimento de liderança.

O que vimos no fim de jogo de 4ª feira foi a dupla Pereira e Quinta a procurar os braços de Hulk e companhia.
A gratidão do Kleber invertida. “Obrigado a todos vós” foi a aparência verbal do gesto.

A confissão do “ser rebocado” do comando técnico da nossa equipa.

O que sinto hoje é que no jogo com o Braga o Vítor Pereira vai definir a táctica e os jogadores.
A alma, garra e vontade com que eles entram em campo não sabe. Vai ter a mesma influência que eu tenho. Vai ser rebocado. Como um portista de bancada que tem o lenço branco no bolso pronto a ser rebocado por um empate ou derrota.

Um mestre da táctica rebocado não serve. Porque o mérito táctico só se vê quando o reboque quiser, se quiser.
Um presidente que perpetue a esperança de vida de um rebocado é também rebocado pelo seu próprio orgulho e sobranceria .

“O treinador nunca se sentiu afectado, perturbado e nunca teve o lugar em risco. Se tem a minha confiança? Naturalmente. No dia em que não tiver, não estará cá”
Um presidente reboque, certo ou errado, diz esta frase na noite do jogo com o Apoel, Olhanense ou Académica.

Um presidente rebocado pelos acontecimentos só o consegue fazer em cima de uma vitória.
E nós? Os sócios e adeptos. Tirando o dia de jogos onde devemos procurar rebocar a equipa nascemos para ser rebocados.

No dia em que o Presidente despeça um treinador por pressão popular ou um treinador faça uma substituição suportado nos berros da bancada mal vai um clube.

O Porto de domingo entra em campo com 1 reboque e 3 rebocados. Os jogadores decidirão se querem mesmo ou se é “mais um jogo” nas suas carreiras.

Treinador, Presidente e adeptos presos ao que eles decidirem. Não foi sempre assim?

Não. Nas épocas em que o Porto foi grande aquele Paulo Ferreira, aquele Maniche, aquele Derlei, aquele Guarin, aquele João Moutinho e aquele Rolando eram rebocados por um comandante que os fazia acreditar numa qualidade que aparentavam não ter.

Aqueles, entre muitos outros, não decidiam quando jogar, quando correr, qual o jogo.

Aqueles não se sentiam no direito de defraudar o comandante aqui e ali.

Eram continuamente rebocados. Sem hiatos.

Estes percebem que quando fazem a sua obrigação tem um comovido chefe a seus pés.

Este Porto rebocado pode ganhar jogos mas não ganhará títulos. É urgente mudar.

Rebocar.

Por: Walter Casagrande

16 comentários:

Anónimo disse...

Comentário digno de o presidente Pinto da Costa reflectir sobre o momento da equipa e do clube. Está na hora Sr.Presidente de uma atitude para os interesses superiores da equipa e do clube.
Bem hajam walter`s casgrandes`s.

Anónimo disse...

Parabéns pela cronica que está fantastica.
Concordo com tudo.
Domingo veremos se os jogadores têm vontade de correr.

Anónimo disse...

Mas que bela tradução sobre a realidade actual do nosso clube, começo em cheio, com vigor e com a verdade! Que venha para ficar!!

João disse...

A crónica ignora a descida ao balneário do Pinto da Costa.

Para mim os 2 berros são o reboque da mudança e puseram o balneário em sentido.

reis disse...

Bela cronica.
De facto o vitor pereira foi um erro de casting do presidente que tarda em assumi-lo.
Quanto mais o demorar a fazer mais depressa fica a estrutura com a responsabilidade.

Anónimo disse...

O texto de facto está um assombro, a questão que eu deixo é a seguinte, poderá de alguma maneira a credibilidade desta SAD tb ser "rebocada" pela teimosia de manter esta equipa técnica e não me foco só no treinador mas na sua entourage...

Filipe disse...

A credibilidade não digo mas também me parece que nas horas más é mais dificil fazer certos negócios....

Anónimo disse...

Texto magnífico. Não acho é que as questões tácticas e opções técnicas sejam um detalhe. Sobretudo porque foram (e algumas ainda são) repetidas e repisadas jogos a fio.

Anónimo disse...

Excelente crónica, digna de um golo de Casagrande (pena que no Porto tenha marcado poucos...) como já aqui li as opções tácticas não podem ser um somenos, ou um detalhe, porque muitas têm sido autênticos tiros nos pés do treinador. Alias creio que no começo da invenção começou o castelo a ruir e a credibilidade do treinador a ficar irremediavelmente beliscada.

Anónimo disse...

Desejo a permanencia do Vpereira e do adjunto de bigode.
Mais facil fica para o SLB.

APQB disse...

Esta crónica coloca de uma forma bem clara e concisa o dedo na ferida. Merece palmas.

APQB disse...

Nós sabemos que para o slb, a comunicação social manipulada a fazer propaganda e o CA controlado não chega. O que é preciso mesmo é um Porto em baixo. Mas também sabemos que esta situação é uma questão de tempo e voltará tudo há normalidade.

Penta disse...

muitos parabéns! pelo post e Fortuna! para o futuro deste espaço de discussão pública que também já acolhi.

somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todos vós! ;)

Miguel | Tomo II

bibota disse...

Parabéns pela cronica.

João disse...

Exactamento como eu tinha dito.
A descida ao balneário do Presidente foi o reboque da mudança.
É ver como os jogadores se esfalfam agora....

Anónimo disse...

Parece que a equipa soube-se rebocar a ela própria, ou alavancar vá

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