quarta-feira, 15 de abril de 2015

CONTRA VENTOS, COLOS E MARÉS




O Porto prepara-se para abordar um dos mais entusiasmantes desafios que jogadores, treinadores e grupo de trabalho almejam viver.
O grande Bayern do grande Guardiola estavam ao virar da esquina. Antes disso tinhamos um jogo com grau de risco elevado, margem de erro abaixo de zero contra uma equipa que há pouco tempo tinha provado ser capaz de fazer tremer as melhores equipas do campeonato.

O vento costuma ser outro problema para quem joga no Estádio dos Arcos. Quem é da casa adapta-se melhor a essas singularidades do tempo e quem começa a partida a favor do vento tem meio caminho andado.

Jogamos contra o vento, contra o Rio Ave e contra o COLINHO. A familia benfiquista é de tal forma alargada que sobra sempre quem carregue e levante uma bandeirinha roubando um golo limpo e dando COLINHO ao reservado.

O Golo invalidado à Brahimi entra para os anais dos Roubos de Igreja e é o postal deste campeonato Limpinho, Limpinho, Limpinho.
O Porto responde ao vento e ao colo com mais vontade de resolver a partida e começam-se a multiplicar as oportunidades de golo, chegando ao ponto de conseguir 2 e 3 oportunidades em apenas uma incursão pelo ataque.

Numa dessas recargas de fé e vontade Quaresma faz tremer a barra e o capitão força a barra e arranca o penalti que nos abriu o horizonte dos 3 pontos.

Desta vez não há pasmaceira porque mais vale o vento das Caxinas do que o nevoeiro da Choupana. O Porto continua a acelerar rumo à vitória não permitindo que ninguém pensasse que havia ali a minima poupança de energia para noites de Champions.

Ataca Brahimi, ataca Quaresma, ataca Alex e também ataca Danilo. Todos forçavam a barra para evitar uma 2ª parte de aflição.

Essa proactividade deu frutos quando Danilo resolveu ser o médio que nunca lhe deixaram ser e Alex revelou ser o extremo que é capaz de incorporar.

O desequilibrador Alex serve numa bandeja de prata o Box-to-box Danilo para um remate colocado, com técnica aos montes e força Q.B.

2-0 e não há vento, nem colo que livrasse o Rio Ave da nossa pressão alta e roubasse o sonho de jogar com o Bayern de cabeça limpa e com o campeonato no horizonte.

Na 2ª parte o jogo parece estar sempre controlado e o volume de jogo ofensivo do Porto embora seja menor é suficiente para construir oportunidades que faziam com que o 3-0 fosse previsivel e o 2-1 uma miragem.

O controle da partida foi total e o trio de ataque do Rio Ave não tinha hipóteses sequer de tocar na bola.

Pedro Martins apercebe-se disso e retira Del Valle, introduz Bressan e o Rio Ave ganha um membro para o meio-campo e a possibilidade de regatear mais a posse da bola.

Como as mudanças não são imediatas o Porto vai-se deixando anestesiar pelas melhorias do Rio Ave. Apesar de tudo, o jogo estava controlado.

De repente Marvin faz o imprevisivel e deixa Danilo e Maicon KO´s dando a Tarantini a possibilidade de fazer o costume contra o FCP: molhar a sopa.

Já tinhamos respondido ao vento, já tinhamos esbofeteado o colinho da familia benfiquista e era hora de resistir à maré. Aqueles 5 minutos pós 2-1 foram o contrário da história dos 90 minutos com um Rio Ave afirmativo e um Porto a tremer de medo de perder o título antes de virar a esquina.

Se Pedro Martins tinha ajudado o seu Rio Ave a reentrar no jogo, Lopetegui responde na mesma moeda e ajuda o seu Porto a fechar a porta na cara do Rio Ave.

Entra Ruben Neves e aumenta a capacidade de roubar bolas altas e diminui o caudal ofensivo do Rio Ave. Pouco depois é reconquistado o controle da partida e a capacidade de pressionar e /ou interceptar linhas de passe de construção vilacondense.
O deslize adversário é forçado e conseguido. Bola em Aboubakar que dá uma cor no cinzentismo da sua exibição para que Hernâni fizesse o 3-1 e garantido a vitória.

PROVA SUPERADA!

Agora, é hora de gozar as férias do campeonato e viver o sonho único de estar nos Quartos de Final da Champions.
Competir. Com Paixão. Com Ilusão. Contra ventos, colos e marés foi possível e contra o poderoso Bayern também será!  


Análises Individuais:

Fabiano Freitas – Jogo tranquilo. Defendeu o que era para defender, sofreu um golo praticamente indefensável e os 90 minutos passaram sem que Fabiano molestasse fisicamente nenhum dos seus defesas.
Danilo – Seria o MVP de goleada se não tivesse sido ultrapassado por Marvin Zeegelaar no lance do 2-1. É o jogador do Porto com mais pedal e com maior velocidade de ponta. É dos melhores a tabelar. Tem melhor meia distância do que qualquer dos seus companheiros, é um lider e tem cara de lider.
O Golo é de classe e o penalti sacado de guerrilheiro. 

Maicon – Interrompeu a linha ascendente que vinha revelando nas últimas partidas voltando a ficar na retina alguns passes transviados e a incapacidade de fazer travagens e mudanças de direcção que protejam a baliza ao invés de abrir uma via verde para os adversários.
Se Danilo é responsável pelo ressuscitar do Rio Ave, Maicon tem direito a partilhar os “louros”.
Marcano – A classe do costume. O Aloisio branco dá estabilidade à defesa. Sempre discreto sem deixar de ser agressivo e de intimidar os avançados contrários.

Alex Sandro – Excelente jogo do brasileiro que em parceria com Danilo foram os jogadores mais constantes a invadir as faixas laterais dos vilacondenses.
Os extremos são quem tem a responsabilidade de fazer as despesas ofensivas mas o Porto tem a felicidade de ter laterais que sao capazes de fazer de defesas, de serem médios à Oliver e extremos à Quaresma.
Alex Sandro é uma pérola que urge renovar.

Casemiro -  Foi o principal responsável do descanso que a dupla de centrais foi tendo. Continua a demonstrar que é uma peça essencial na mecânica da equipa e estancou praticamente todas as iniciativas que ousavam passar-lhe por perto.
Para a boa exibição em muito contribui as melhorias na forma fisica que tem revelado nos últimos 2 meses. 

Herrera – Continua numa fase menos fulgurante. Teve variadissimas perdas de bola em fase de construção que deram oxigénio a um Rio Ave que nem a favor do vento beliscava o último reduto do Porto.
Oliver -  O meio-campo do Porto foi capaz de tomar conta do Rio Ave contra o vento e Oliver foi capaz de contra o vento e com um Herrera errante mostrar as qualidades de sempre.
Ligado à corrente, acelerando a intensidade de jogo da equipa e limpando o relvado dos Arcos com a qualidade de passe habitual.

Quaresma – Não teve a sorte de estar envolvido em 4 golos mas manteve a bitola exibicional da partida contra o Estoril. Parece focado e a aproveitar a onda boa infernizando os laterais e o guarda-redes alheio com fintas, cruzamentos e remates.
Saiu cedo mas a avaliação da sua exibição só pode ser muito positiva.

Brahimi – Alterna bons momentos em que consegue concentrar ao seu redor 3 e 4 adversários, com tentativas inuteis e egocêntricas de caixinhas e fintas que penalizam o ataque da equipa travando ataques rápidos e acelerando o tempo para o Rio Ave se organizar defensivamente.
Não há ninguém que confie em Brahimi quando o argelino tem a bola na defesa porque não se vê qualquer laivo de responsabilidade na tomada de decisões. 

Aboubakar – Parece um corpo estranho na equipa. Passam os jogos, acumulam-se os minutos mas não se denotam ganhos de entrosamento com os colegas.
Para além desse pormenor continua a ter comportamentos sem bola esquisitos. Se os extremos atacam o lateral, Aboubakar fica a olhar a jogada sem se sentir na obrigação de atacar a grande área ou o redes.
Se os extremos temporizam, aí já se vê o camaronês a movimentar-se para receber a bola...qual médio!.
Tem pormenores (como o do 3-1) mas há algo que está a falhar na comunicação com equipa técnica porque ou não percebe o que tem que fazer ou não lhe explicam.

Hernâni – Boa entrada na partida. Hernâni é o tipo de jogador que deixa sempre marca no jogo pela velocidade que imprime e por ter a noção que o sprint é o seu ponto forte que tem que ser utilizado sem moderação.
Vai para cima, não tem medo e desta vez nem o nervosismo o impediu de marcar um golo e de arrumar com o Rio Ave.

Rúben Neves – Foi o bombeiro de serviço. Na pior fase do Porto, Lopetegui teve a clarividência de colocar o gelo do costume na partida. Com a entrada de Rúben Neves estancou o Rio Ave e atirou para longe o receio do 2-2 dando o espaço e o tempo necessários para que a dupla Aboubakar/Hernâni confirmasse a conquista dos 3 pontos.

Evandro – Pouco tempo em campo sem possibilidades de mostrar serviço.

 
 Ficha de Jogo:

 Rio Ave-FC PORTO, 1-3 Primeira Liga, 28ª jornada
Sábado, 11 Abril 2015 - 18:00
Estádio: Estádio do Rio Ave, Vila do Conde
Assistência: 5.543 espectadores

Árbitro: Vasco Santos (Porto). Assistentes: Bruno Trindade e Sérgio Jesus. 4º Árbitro: Jorge Tavares.
RIO AVE: Ederson, Lionn, Prince, Nélson Monte, Marvin Zeegelaar, Wakaso, Tarantini, Diego Lopes, Ukra, Jebor, Del Valle. Suplentes: Cássio, Pape Sow, Luís Gustavo, Bressan (61' Del Valle), Boateng, Pedro Moreira (77' Wakaso), Abalo. Treinador: Fabiano Soares.
FC PORTO: Fabiano, Danilo, Maicon, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Óliver Torres, Quaresma, Aboubakar, Brahimi. Suplentes: Helton, Reyes, Evandro (86' Herrera), Hernâni (63' Quaresma), Ricardo, Rúben Neves (73' Brahimi), Gonçalo Paciência. Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 0-2. Marcadores: Quaresma (25' pen), Danilo (45+2'), Tarantini, (71'), Hernâni (83'). Disciplina: -.

Por: Walter Casagrande

sábado, 11 de abril de 2015

FC PORTO B-TROFENSE, 3-2

O Porto B recebeu e venceu, na tarde deste Sábado,  o Trofense por 3 bolas a 2.
(Imagem www.fcporto.pt)
No onze portista destaque para a titularidade de Ricardo Nunes na baliza e de Campana no meio campo, ambos cedidos pela equipa principal. Também foram novidades o recuo de Tomás para a posição de central, o regresso do médio criativo Pavlovski e a permanência do avançado Anderson, que já tinha sido titular a meio da semana na International Cup.

Quanto ao jogo, registou-se uma primeira parte animada com 4 golos.

A equipa portista não entrou propriamente bem em jogo, permitindo que o Trofense tivesse ascendente a meio campo e chegasse bastante cedo ao golo, através de uma bola parada.

No entanto, a reacção do Porto B foi óptima. O meio campo acordou sob o comando de Leandro e conseguiu inverter a situação. O Porto B começou a controlar o jogo e a criar perigo e acaba por chegar ao golo naturalmente numa grande jogada colectiva. Uma jogada que começa num passe magistral de Pavlovski, passa por Campana e é finalizada por Fred.

Por esta altura já se percebia que Leandro era claramente o médio mais recuado e era Campana, juntamente com Pavlovski, quem tinha maior liberdade para chegar à frente.

O segundo golo portista é apenas uma questão de tempo. Desta vez numa jogada rápida de contra ataque, David Bruno recupera a bola e abre para Fred que rapidamente encontra André Silva. O ponta de lança não perdoa e descaído sobre a direita marca e dá vantagem ao Porto B.

A equipa portista assumia de vez o jogo e o meio campo funcionava na perfeição, a permitir que Anderson, André Silva e Fred jogassem soltos na frente.

A toada do jogo tinha claramente mudado e foi contra a corrente que o Trofense faz o empate num contra ataque rápido, com muitas facilidades a serem dadas pelos centrais do Porto, especialmente por Tomás.

O jogo chegava assim ao intervalo com um empate que castigava alguma infantilidade do Porto.

Na segunda parte o jogo foi diferente. Mais lento e previsível de parte a parte.

Ainda assim, o Porto entra muito bem e faz cedo o golo. Mais uma grande jogada colectiva a envolver André Silva e Fred pela direita e a terminar em Campana que remata já dentro da área. Belo golo.

O jogo entra depois numa toada mais monótona, mas ainda assim pertencem ao Porto B as melhores oportunidades com uma bola ao poste de Campana e dois remates perigosos de Leandro e Pité.

O resultado acaba por ser justo, visto que o Porto B teve as melhores oportunidades na partida.
Análise individual:

Ricardo: Seguro.

David Bruno: Excelente jogo quer a nível defensivo como no apoio ao ataque.

Lichnovski: Algo trapalhão e com algumas faltas desnecessárias.

Tomás: Está directamente ligado aos 2 golos do trofense. Tarde infeliz.

Rafa: Bom jogo do lateral esquerdino. Na defesa cumpriu e ainda subiu bastante na ajuda ao ataque.

Leandro: Cada vez mais se assume como o motor da equipa. Essencial.

Campana: Surpreendeu numa posição mais avançada do terreno. Esteve muito bem no capítulo do passe e envolvido em 2 golos, primeiro a assistir, depois a marcar.

Pavlovski: Na primeira parte espalhou magia e criatividade. Um passe magistral no primeiro golo. Apagou-se na segunda parte e acabou por sair.

Fred: Melhor em campo. Num momento de forma incrível. Voltou a marcar, mas acima de tudo a desconcertar a defesa do Trofense com um leque de recursos impressionante.

Anderson: Algo tímido, embora com bons pormenores técnicos. Saiu ao intervalo.

André Silva: Marca o segundo golo e está também envolvido no terceiro. Correu muito e lutou mais ainda.


Roniel: Entrou ao intervalo, mas não foi muito feliz. Ganhou bastantes lances em velocidade mas o critério de passe e remate não foi o melhor.

Graça: Sem grande registo.

Pité: Quase marcava num grande remate de longe.


FICHA DE JOGO

FC PORTO B-TROFENSE, 3-2
Segunda Liga, 38.ª jornada
11 de Abril de 2015
Estádio Luís Filipe Menezes, em Olival, Vila Nova de Gaia

Árbitro: Rui Costa (Porto)
Assistentes: Tiago Costa e João Silva
Quarto árbitro: Bruno Nunes

FC PORTO B: Ricardo Nunes (g.r.); David Bruno (cap.), Igor Lichnovsky, Tomás Podstwaski e Rafa; Campaña, Pavlovski e Leandro Silva; Frédéric, Anderson e André Silva
Substituições: Roniel por Anderson (46m), João Graça por Pavlovski (73m), Pité por Campaña (75m)
Não utilizados: Ricardo Nunes (g.r.), Clever, Víctor García
Treinador: Luís Castro

TROFENSE: Diogo Freire (g.r.); Jairo, Tiago Martins, Nani, André Teixeira, Serginho, Micael Babo, Tiago (cap.), Hélder Sousa, Stanly e Dario
Substituições: Simãozinho por Dario (67m), Rafael Silveira por Stanly (74m), Mateus Fonseca por Tiago Martins (81m)
Não utilizados: Rui Santos (g.r.), Eduardo Henrique, André Rateira, João Pedro
Treinador: Vítor Campelos

Ao intervalo: 2-2

Marcadores
: Stanly (6m e 34m), Frédéric (12m), André Silva (25m), Campaña (48m)
Disciplina: cartão amarelo a Lichnovsky (42m)


Por: Prodígio 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

QUARESMA E O TERCEIRO TOQUE.




Finalmente deu para ver 90 minutos de bola de forma relaxada.

Nos últimos meses tem sido sempre uma luta para ir somando os 3 pontos seja pela dificuldade do adversário como pelas vicissitudes dos jogos contra equipas mais fracas como o Boavista e o Arouca.

Com os recursos disponíveis Lopetegui respeita o onze-tipo do Porto que tem feito a época substituindo as peças ausentes pelos directos suplentes.

Não há Maicon, Tello e Jackson avançam Indi, Quaresma e Aboubakar e toca a tentar apanhar a melhor dinâmica do FCP.

O Estoril parecia ter a estratégia correcta para abordar esta equipa do Porto. Jogadores rápidos na frente, pouca pressa em mexer o bloco baixo e paciência para assistir à troca de passes habitual do Porto.

A estratégia parecia boa mas ressuscitar o episódio David Luiz que Jorge Jesus protagonizou acabou por ser um rastilho para o que veio a suceder.

Emídio Rafael ficou no banco e Quaresma acabou por ter como marcador directo  Ruben Fenandes com quem podia pedir meças em velocidade.

O Porto entra como habitual. Parece faltar chispa a esta equipa e algo que a acenda de imediato e dispense o ram-ram habitual que gasta tempo próprio e poupa energias ao adversário.

Contudo, o erro de uma equipa que perdeu rasgo no banco e agora parece nem alma ter ajudou a disfarçar a falta de chispa do Porto.
Ter um jogador como o Quaresma em campo, que vive em permanente pensamento que é craque, que é injustiçado e que merecia jogar sempre também ajudou.

Oliver entrou bem, Brahimi benzinho e Casemiro estava a lavrar mas a ideia que os minutos iniciais transmitiram para os adeptos é que isso não chegaria e íamos ter mais uma daquelas noites longas, de sofrimento e de coração nas mãos.
A falta de alma canária e a chispa Quaresma acabou por nos roubar o conhecimento do final desse filme.
E foi por aí que o jogo se desatou. Quaresma recebia a bola e, como sempre, achava-se no direito de resolver.
Partia para cima do lateral que se limitava a defender com os olhos e a não meter o pé e depois de uma ou duas danças de anca cruzava.
Cruzava mal. Uma, duas, três vezes..

Mal mas cruzava. Quando não cruzava mal a equipa permanecia viciada naquele jogo de troca de passes em que toda a gente se posiciona para receber (inclusive Aboubakar) e quase ninguém para finalizar. 

A dada altura o Porto parece uma equipa de voleibol com distribuidores infinitos. Estamos sempre no 2.º toque e a adulterar o limite dos 3 toques até ao infinito.

O Estoril mansinho, mansinho estava confortável com a ausência de chispa colectiva, com a luta inglória de Quaresma e com os distribuidores infinitos vestidos de azul e branco.

De tanto partir para cima Quaresma fez questão de cruzar, cruzar e cruzar tentando convencer a equipa que isto pode ser voleibol e que ter 10 distribuidores é o caminho mais curto para ter uma mão cheia de nada.

Conseguiu. Distribuiu 2 cruzamentos bem juntinhos à rede (leia-se linha de fundo) obrigando Oliver e Aboubakar a dar corda aos calcantes para chegar a uma bola que era impossível de ser redistribuída. 

A partir daí a chispa colectiva saiu da hibernação e começamos a ver Danilo a galopar, Aboubakar a participar, Brahimi a mobilizar adversários o que perante uns amarelinhos sem rasgo e sem alma nos deu o descanso necessário.

A 2ª parte deu para tudo. Quaresma que já era herói pensou que podia marcar uma posição forte e foi à luta. Eu é que marco o penalti e deixa-me dar um encosto a este e uma chicuelina ao Wagner.

Pelo meio Lopetegui foi poupando os jogadores que parecem acusar maior desgaste físico e foi possível assistir à obra de arte que foi o golo de Danilo após brilhante triangulação com Hernâni e Aboubakar.

Toda a vitória é positiva mas esta não nos traz grandes ensinamentos. A ausência de chispa colectiva com que costumamos entrar em jogo parece estar para ficar.

O contributo de Quaresma pode ser repetível na atitude mas dificilmente encontrará um defesa tão pouco preparado para marcar um extremo seja na velocidade como no conceito de preenchimento de espaço que um lateral deve ter presente.


Análises Individuais

Fabiano – O wrestler de serviço que varre toda a área com cotovelos, joelhos e ombros.
Esteve bem enquanto guarda-redes que defende bolas mas preocupa cada vez mais enquanto wrestler que leva ao tapete qualquer jogador que lhe apareça pela frente.

 Danilo – Grande jogo. Percebe que o peso do precoce anúncio de venda lhe dá mais responsabilidade. Isto, em cima de uma braçadeira de capitão que ele sabe ser outro sinal de comprometimento acrescido.
Jogou como sempre. Sprints pela linha só para dar uma alternativa adicional a Quaresma, carrinhos no limiar da agressividade e do risco para a sua própria integridade física e pormenores de classe e inteligentes que fazem de Danilo o mais completo defesa-direito do mercado. Pode não ser o melhor mas é o mais completo e será, porventura, dos mais sérios jogadores de futebol. Estoril ou Bayern? É-me igual! 

Indi – Como já não se sente titular nota-se que percebe a valia dos minutos que lhe são disponibilizados e faz por mostrar que é competente e merece o lugar.
Fez um óptimo jogo nunca se escondendo e dando o ar de ser o mais interessado em varrer qualquer mancha amarela que se aproximasse.

Marcano – Arrisco a dizer que a nível de projecto, de análise custo/rendimento foi a melhor contratação “espanhola” do Porto.
Um defesa-central deste nível, desta sobriedade e deste profissionalismo devia custar muito mais. Não há portista que não lamente aquela confusão no jogo com o Basileia porque já ninguém desvaloriza a relevância que tem para a segurança defensiva do Porto e do nosso sossego.
Foi derrubado pelo Fabiano Kung Fu e esteve no limiar do KO. Aí mais um pormenor delicioso.
Com o resultado feito, o corpo amassado e os ossos feitos num oito Marcano reentra em campo para fazer um sprint aparentemente desnecessário pela ala direita. A bola parecia que estaria controladapor Danilo mas Marcano mete a 6ª velocidade, vê adversário e Danilo pelo retrovisor e a bola será minha.
A recontagem dos ossos pode esperar.

Alex Sandro – Um jogo discreto mas sem sombras de um jogador que precisa de recarregar baterias para o que se avizinha. O Porto precisa de um Alex Sandro com gás para passar este terrível mês de Abril.

Casemiro – Depois do período fulgurante nos jogos com Sporting, Basileia e Braga que guindou a equipa para vitórias importantíssimas já se suspeitava que Casemiro era mais importante do que o que parecia visível.
Se a sua presença trouxe esses pensamentos a sua ausência na 2ª parte do jogo da Choupana deu certezas.
Este portento físico que morde, lavra e tem tanto de incultura tactica como de vontade indomável é fundamental no modelo de Lopetegui.
No castelo de cartas construído o brasileiro é um Ás que não pode ser mexido porque expõe as fragilidades físicas do resto da equipa.
Contra o Estoril vimos a melhor versão de Casemiro quer no Modo Tractor que no disparo de passes travestidos de misseis que chegavam ao destino com maior acerto do que o habitual.

Herrera – Está numa má fase. Este é o típico jogador que mais se ressente de maratonas de jogos ultra-competitivos porque se envolve muito, porque tenta defender, criar, finalizar e fazer tudo.
A poupança que Lopetegui fez do mexicano tem todo o sentido porque no meio dos 13 Kms de 4 em 4 dias e dos milhares de quilómetros em viagens de avião é preciso preservar o jogador mais vulnerável de todos.

Oliver - Bom jogo. Foi obrigado por Quaresma a dar o 3.º toque que desbloqueia o jogo mas já antes tinha tentado fazer a equipa respirar melhor com passes limpos e dar uma intensidade de jogo ofensivo sempre com o seu motorzinho a bombar.
Continuo a pensar que tem bola de menos no processo ofensivo e criativo do Porto. Deve jogar mais ao centro e ter mais bola porque tem olhos, cérebro e pés para dar sentido ao ataque do Porto.

Quaresma - Pelo que fez na 1ª parte merece o MVP de goleada. Sozinho derrotou a estratégia canarinha e praticamente sozinho obrigou os seus companheiros a perceberem o jogo de voleibol e a largarem o vício da distribuição infinita com aqueles passes para cima da rede que deram os golos decisivos.
Partiu para cima, cruzou, pressionou e mostrou que, por vezes, um indisciplinado tactico pode corrigir os defeitos de uma equipa.
A partir do 1-0 toda a equipa começou a jogar melhor. Distribuíram sempre mas o esforço do n.º 7 lembrou-os que há vida para lá do passe. Há baliza.

Brahimi – O argelino será tão mais importante quanto melhor a equipa o conhecer e souber jogar com ele.
Se a equipa souber quais os terrenos em que ele pode e não pode receber a bola e perceber que o seu perfil é mais desequilibrador do que de organizador vai forçar Brahimi a regressar aos patamares exibicionais do início do época.
O argelino é o outro lado da moeda de Oliver. Não tem que ter tanta bola e precisa de a ter mais à frente.
Não tem que estar no jogo pelo centro e deve envolver-se mais em movimentações pela faixa que transformem cada lance num factor de perigo para o adversário. Apenas para o adversário.
Este foi um jogo em que Brahimi não esteve em grande nível mas em que o seu rendimento beneficiou com o facto de a equipa o empurrar para o seu lugar. Mais à frente, mais descaído e com melhores condições para tentar o 1 vs 1. 

Aboubakar – Fez uma excelente partida. Começou mal dentro da linha do Quaresma + 9 distribuidores. Não faz sentido ter Brahimi e Alex a forçarem a ala esquerda e não ter Aboubakar na área. Não faz sentido ter um ponta de lança mais preocupado em dar uma linha de passe curto interior em vez de se posicionar para finalizar.
Quando esses 20/30 minutos de confusão foram quebrados vimos um Aboubakar a comportar-se como um 9 na área e como um Jackson fora dela. O Porto fez uma boa aquisição e tenho para mim que quando o camaronês for aposta e se sentir importante no 11 inicial teremos uma máquina de fazer golos e sempre candidato ao título de melhor marcador.


Rúben Neves – Entra quando o jogo está resolvido e tenta cumprir o papel que lhe estava destinado por Lopetegui.
A exibição é manchada por uma perda de bola que isola Leo Bonatini na cara de Fabiano.

Hernâni – A atitude de quem entra é a ideal porque o objectivo é o de não deixar morrer a chama da iniciativa e do ataque.
Nesse aspecto de atitude perante a competição e desejo de espremer cada jogada a nota é positiva porque a entrada de Hernâni não se dissolve no mar calmo do “Deixa Andar até ao minuto 90” .
Depois falta somar discernimento, classe e sangue-frio ao positivismo de quem entra e quer fazer. Aí falhou.
Quintero – Não transmite boas sensações. 

Está pesado e é verdade que parece tentar correr e demonstrar o contrário mas a ideia que fica é a de ver sempre uma formiga rechonchuda num jogo de elefantes.



Ficha do Jogo:
 
FC Porto-Estoril, 5-0
Primeira Liga, 27ª jornada
Segunda-feira, 6 Abril 2015 - 20:00
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 29.230


Árbitro: Bruno Esteves (Setúbal).
Assistentes: Venâncio Tomé e Mário Dionísio.
4º Árbitro: Hugo Pacheco.

FC Porto: Fabiano, Danilo, Martins Indi, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Óliver Torres, Herrera, Quaresma, Aboubakar, Brahimi.
Suplentes: Helton, Quintero (72' Óliver Torres), Reyes, Evandro, Hernâni (62' Brahimi), Rúben Neves (53' Herrera), Gonçalo Paciência.
Treinador: Julen Lopetegui.

Estoril: Vagner, Anderson Luís, Yohan Tavares, Rúben Fernandes, Bruno Miguel, Afonso Taira, Filipe Gonçalves, Diogo Amado, Sebá, Fernandinho, Balboa.
Suplentes: Kieszek, Mano, Matías Cabrera, Emídio Rafael, Mattheus (75' Filipe Gonçalves), Tozé (75' Fernandinho), Léo Bonatini (56' Afonso Taira).
Treinador: Fabiano Soares.

Ao intervalo: 0-1.
Marcadores: Óliver Torres (33'), Aboubakar (45+1'), Quaresma (52' pen), Danilo (70'), Quaresma (77').
Disciplina: Cartão amarelo a Rúben Fernandes (31'), Herrera (44'), Filipe Gonçalves (51'), Mattheus (78'), Rúben Neves (88').


Por: Walter Casagrande
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