sexta-feira, 10 de abril de 2015

QUARESMA E O TERCEIRO TOQUE.




Finalmente deu para ver 90 minutos de bola de forma relaxada.

Nos últimos meses tem sido sempre uma luta para ir somando os 3 pontos seja pela dificuldade do adversário como pelas vicissitudes dos jogos contra equipas mais fracas como o Boavista e o Arouca.

Com os recursos disponíveis Lopetegui respeita o onze-tipo do Porto que tem feito a época substituindo as peças ausentes pelos directos suplentes.

Não há Maicon, Tello e Jackson avançam Indi, Quaresma e Aboubakar e toca a tentar apanhar a melhor dinâmica do FCP.

O Estoril parecia ter a estratégia correcta para abordar esta equipa do Porto. Jogadores rápidos na frente, pouca pressa em mexer o bloco baixo e paciência para assistir à troca de passes habitual do Porto.

A estratégia parecia boa mas ressuscitar o episódio David Luiz que Jorge Jesus protagonizou acabou por ser um rastilho para o que veio a suceder.

Emídio Rafael ficou no banco e Quaresma acabou por ter como marcador directo  Ruben Fenandes com quem podia pedir meças em velocidade.

O Porto entra como habitual. Parece faltar chispa a esta equipa e algo que a acenda de imediato e dispense o ram-ram habitual que gasta tempo próprio e poupa energias ao adversário.

Contudo, o erro de uma equipa que perdeu rasgo no banco e agora parece nem alma ter ajudou a disfarçar a falta de chispa do Porto.
Ter um jogador como o Quaresma em campo, que vive em permanente pensamento que é craque, que é injustiçado e que merecia jogar sempre também ajudou.

Oliver entrou bem, Brahimi benzinho e Casemiro estava a lavrar mas a ideia que os minutos iniciais transmitiram para os adeptos é que isso não chegaria e íamos ter mais uma daquelas noites longas, de sofrimento e de coração nas mãos.
A falta de alma canária e a chispa Quaresma acabou por nos roubar o conhecimento do final desse filme.
E foi por aí que o jogo se desatou. Quaresma recebia a bola e, como sempre, achava-se no direito de resolver.
Partia para cima do lateral que se limitava a defender com os olhos e a não meter o pé e depois de uma ou duas danças de anca cruzava.
Cruzava mal. Uma, duas, três vezes..

Mal mas cruzava. Quando não cruzava mal a equipa permanecia viciada naquele jogo de troca de passes em que toda a gente se posiciona para receber (inclusive Aboubakar) e quase ninguém para finalizar. 

A dada altura o Porto parece uma equipa de voleibol com distribuidores infinitos. Estamos sempre no 2.º toque e a adulterar o limite dos 3 toques até ao infinito.

O Estoril mansinho, mansinho estava confortável com a ausência de chispa colectiva, com a luta inglória de Quaresma e com os distribuidores infinitos vestidos de azul e branco.

De tanto partir para cima Quaresma fez questão de cruzar, cruzar e cruzar tentando convencer a equipa que isto pode ser voleibol e que ter 10 distribuidores é o caminho mais curto para ter uma mão cheia de nada.

Conseguiu. Distribuiu 2 cruzamentos bem juntinhos à rede (leia-se linha de fundo) obrigando Oliver e Aboubakar a dar corda aos calcantes para chegar a uma bola que era impossível de ser redistribuída. 

A partir daí a chispa colectiva saiu da hibernação e começamos a ver Danilo a galopar, Aboubakar a participar, Brahimi a mobilizar adversários o que perante uns amarelinhos sem rasgo e sem alma nos deu o descanso necessário.

A 2ª parte deu para tudo. Quaresma que já era herói pensou que podia marcar uma posição forte e foi à luta. Eu é que marco o penalti e deixa-me dar um encosto a este e uma chicuelina ao Wagner.

Pelo meio Lopetegui foi poupando os jogadores que parecem acusar maior desgaste físico e foi possível assistir à obra de arte que foi o golo de Danilo após brilhante triangulação com Hernâni e Aboubakar.

Toda a vitória é positiva mas esta não nos traz grandes ensinamentos. A ausência de chispa colectiva com que costumamos entrar em jogo parece estar para ficar.

O contributo de Quaresma pode ser repetível na atitude mas dificilmente encontrará um defesa tão pouco preparado para marcar um extremo seja na velocidade como no conceito de preenchimento de espaço que um lateral deve ter presente.


Análises Individuais

Fabiano – O wrestler de serviço que varre toda a área com cotovelos, joelhos e ombros.
Esteve bem enquanto guarda-redes que defende bolas mas preocupa cada vez mais enquanto wrestler que leva ao tapete qualquer jogador que lhe apareça pela frente.

 Danilo – Grande jogo. Percebe que o peso do precoce anúncio de venda lhe dá mais responsabilidade. Isto, em cima de uma braçadeira de capitão que ele sabe ser outro sinal de comprometimento acrescido.
Jogou como sempre. Sprints pela linha só para dar uma alternativa adicional a Quaresma, carrinhos no limiar da agressividade e do risco para a sua própria integridade física e pormenores de classe e inteligentes que fazem de Danilo o mais completo defesa-direito do mercado. Pode não ser o melhor mas é o mais completo e será, porventura, dos mais sérios jogadores de futebol. Estoril ou Bayern? É-me igual! 

Indi – Como já não se sente titular nota-se que percebe a valia dos minutos que lhe são disponibilizados e faz por mostrar que é competente e merece o lugar.
Fez um óptimo jogo nunca se escondendo e dando o ar de ser o mais interessado em varrer qualquer mancha amarela que se aproximasse.

Marcano – Arrisco a dizer que a nível de projecto, de análise custo/rendimento foi a melhor contratação “espanhola” do Porto.
Um defesa-central deste nível, desta sobriedade e deste profissionalismo devia custar muito mais. Não há portista que não lamente aquela confusão no jogo com o Basileia porque já ninguém desvaloriza a relevância que tem para a segurança defensiva do Porto e do nosso sossego.
Foi derrubado pelo Fabiano Kung Fu e esteve no limiar do KO. Aí mais um pormenor delicioso.
Com o resultado feito, o corpo amassado e os ossos feitos num oito Marcano reentra em campo para fazer um sprint aparentemente desnecessário pela ala direita. A bola parecia que estaria controladapor Danilo mas Marcano mete a 6ª velocidade, vê adversário e Danilo pelo retrovisor e a bola será minha.
A recontagem dos ossos pode esperar.

Alex Sandro – Um jogo discreto mas sem sombras de um jogador que precisa de recarregar baterias para o que se avizinha. O Porto precisa de um Alex Sandro com gás para passar este terrível mês de Abril.

Casemiro – Depois do período fulgurante nos jogos com Sporting, Basileia e Braga que guindou a equipa para vitórias importantíssimas já se suspeitava que Casemiro era mais importante do que o que parecia visível.
Se a sua presença trouxe esses pensamentos a sua ausência na 2ª parte do jogo da Choupana deu certezas.
Este portento físico que morde, lavra e tem tanto de incultura tactica como de vontade indomável é fundamental no modelo de Lopetegui.
No castelo de cartas construído o brasileiro é um Ás que não pode ser mexido porque expõe as fragilidades físicas do resto da equipa.
Contra o Estoril vimos a melhor versão de Casemiro quer no Modo Tractor que no disparo de passes travestidos de misseis que chegavam ao destino com maior acerto do que o habitual.

Herrera – Está numa má fase. Este é o típico jogador que mais se ressente de maratonas de jogos ultra-competitivos porque se envolve muito, porque tenta defender, criar, finalizar e fazer tudo.
A poupança que Lopetegui fez do mexicano tem todo o sentido porque no meio dos 13 Kms de 4 em 4 dias e dos milhares de quilómetros em viagens de avião é preciso preservar o jogador mais vulnerável de todos.

Oliver - Bom jogo. Foi obrigado por Quaresma a dar o 3.º toque que desbloqueia o jogo mas já antes tinha tentado fazer a equipa respirar melhor com passes limpos e dar uma intensidade de jogo ofensivo sempre com o seu motorzinho a bombar.
Continuo a pensar que tem bola de menos no processo ofensivo e criativo do Porto. Deve jogar mais ao centro e ter mais bola porque tem olhos, cérebro e pés para dar sentido ao ataque do Porto.

Quaresma - Pelo que fez na 1ª parte merece o MVP de goleada. Sozinho derrotou a estratégia canarinha e praticamente sozinho obrigou os seus companheiros a perceberem o jogo de voleibol e a largarem o vício da distribuição infinita com aqueles passes para cima da rede que deram os golos decisivos.
Partiu para cima, cruzou, pressionou e mostrou que, por vezes, um indisciplinado tactico pode corrigir os defeitos de uma equipa.
A partir do 1-0 toda a equipa começou a jogar melhor. Distribuíram sempre mas o esforço do n.º 7 lembrou-os que há vida para lá do passe. Há baliza.

Brahimi – O argelino será tão mais importante quanto melhor a equipa o conhecer e souber jogar com ele.
Se a equipa souber quais os terrenos em que ele pode e não pode receber a bola e perceber que o seu perfil é mais desequilibrador do que de organizador vai forçar Brahimi a regressar aos patamares exibicionais do início do época.
O argelino é o outro lado da moeda de Oliver. Não tem que ter tanta bola e precisa de a ter mais à frente.
Não tem que estar no jogo pelo centro e deve envolver-se mais em movimentações pela faixa que transformem cada lance num factor de perigo para o adversário. Apenas para o adversário.
Este foi um jogo em que Brahimi não esteve em grande nível mas em que o seu rendimento beneficiou com o facto de a equipa o empurrar para o seu lugar. Mais à frente, mais descaído e com melhores condições para tentar o 1 vs 1. 

Aboubakar – Fez uma excelente partida. Começou mal dentro da linha do Quaresma + 9 distribuidores. Não faz sentido ter Brahimi e Alex a forçarem a ala esquerda e não ter Aboubakar na área. Não faz sentido ter um ponta de lança mais preocupado em dar uma linha de passe curto interior em vez de se posicionar para finalizar.
Quando esses 20/30 minutos de confusão foram quebrados vimos um Aboubakar a comportar-se como um 9 na área e como um Jackson fora dela. O Porto fez uma boa aquisição e tenho para mim que quando o camaronês for aposta e se sentir importante no 11 inicial teremos uma máquina de fazer golos e sempre candidato ao título de melhor marcador.


Rúben Neves – Entra quando o jogo está resolvido e tenta cumprir o papel que lhe estava destinado por Lopetegui.
A exibição é manchada por uma perda de bola que isola Leo Bonatini na cara de Fabiano.

Hernâni – A atitude de quem entra é a ideal porque o objectivo é o de não deixar morrer a chama da iniciativa e do ataque.
Nesse aspecto de atitude perante a competição e desejo de espremer cada jogada a nota é positiva porque a entrada de Hernâni não se dissolve no mar calmo do “Deixa Andar até ao minuto 90” .
Depois falta somar discernimento, classe e sangue-frio ao positivismo de quem entra e quer fazer. Aí falhou.
Quintero – Não transmite boas sensações. 

Está pesado e é verdade que parece tentar correr e demonstrar o contrário mas a ideia que fica é a de ver sempre uma formiga rechonchuda num jogo de elefantes.



Ficha do Jogo:
 
FC Porto-Estoril, 5-0
Primeira Liga, 27ª jornada
Segunda-feira, 6 Abril 2015 - 20:00
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 29.230


Árbitro: Bruno Esteves (Setúbal).
Assistentes: Venâncio Tomé e Mário Dionísio.
4º Árbitro: Hugo Pacheco.

FC Porto: Fabiano, Danilo, Martins Indi, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Óliver Torres, Herrera, Quaresma, Aboubakar, Brahimi.
Suplentes: Helton, Quintero (72' Óliver Torres), Reyes, Evandro, Hernâni (62' Brahimi), Rúben Neves (53' Herrera), Gonçalo Paciência.
Treinador: Julen Lopetegui.

Estoril: Vagner, Anderson Luís, Yohan Tavares, Rúben Fernandes, Bruno Miguel, Afonso Taira, Filipe Gonçalves, Diogo Amado, Sebá, Fernandinho, Balboa.
Suplentes: Kieszek, Mano, Matías Cabrera, Emídio Rafael, Mattheus (75' Filipe Gonçalves), Tozé (75' Fernandinho), Léo Bonatini (56' Afonso Taira).
Treinador: Fabiano Soares.

Ao intervalo: 0-1.
Marcadores: Óliver Torres (33'), Aboubakar (45+1'), Quaresma (52' pen), Danilo (70'), Quaresma (77').
Disciplina: Cartão amarelo a Rúben Fernandes (31'), Herrera (44'), Filipe Gonçalves (51'), Mattheus (78'), Rúben Neves (88').


Por: Walter Casagrande

Os critérios e as nomeações dos árbitros



Sempre que falamos individualmente como cidadãos comuns, ou se discute em grupo sobre o futebol indígena nos meios de comunicação social, um dos principais problemas que se colocam nesta modalidade desportiva tão querida do povo português, é sem sombra de dúvida a controversa que está sempre subjacente às decisões da arbitragem durante um determinado jogo, às próprias nomeações dos árbitros para determinados jogos pelo organismo competente, e do que delas representa ou pode vir a representar no escalonamento das equipas na tabela classificativa.

Se por um lado a opção das nomeações diretas dos árbitros poder parecer a priori coerente e positiva, por visar preferencialmente a escolha do melhor árbitro que melhor se perfile para um determinado jogo, mesmo tendo em conta a ótica sempre subjetiva do organismo competente, esta opção por muito que seja argumentada e condicionada não colhe sempre as preferências ou a concordância dos clubes, o que pode levantar logo por si só, uma suspeita elegível na forma e no conteúdo das escolhas de cada árbitro para cada jogo.

Por outro lado, na eventualidade de se optar por um sorteio puro dos árbitros, esta opção poderia trazer à modalidade uma maior credibilidade do processo de atribuição dos árbitros para os jogos em disputa, pese embora, em termos estritamente qualitativos, eventualmente, não termos os árbitros melhor classificados nos jogos de maior interesse ou importância, embora fosse recomendável que houvesse um maior equilíbrio de qualidade entre os árbitros de primeira linha.

Há também aqui a considerar que em termos da concepção e filosofia do apuramento dos melhores árbitros em exercício num determinado ano, como os relatórios dos observadores dos mesmos não são tornados públicos para análise da opinião pública, há sempre a possibilidade de se poder adulterar, manipular e operar no sentido que mais beneficie o clube A em detrimento do clube B, razão pela qual todos os anos assistimos a situações de enorme controvérsia por parte dos árbitros no escalonamento das suas classificações finais.

Por último, e não menos importante e polémico do que as razões acima expostas, serão certamente os vários critérios que os árbitros usam e abusam na análise dos lances que têm de ajuizar, que na minha opinião não deveria ter uma componente técnica individualizada, árbitro a árbitro e de escolha pessoal no julgamento dos lances dos jogos, mas ao contrário desta opção a que estamos habituados a ver nos campos de futebol, os árbitros deveriam reger-se sob regras rígidas previamente estabelecidas e definidas pelo organismo competente, passando assim a não haver vários juízos diferentes para lances perfeitamente iguais, onde podemos destacar os que têm a ver com árbitros mais rigorosos na aplicação dos cartões de disciplina, se forem mostrados logo no primeiro lance ou noutro período do jogo, se são mais afeitos a deixarem jogar mais em vez de apitarem com maior frequência, ou até, no relacionamento direto dos árbitros com os próprios intervenientes do jogo, visto que na minha ótica, só deveria existir um único conceito ou filosofia de processos na arbitragem, sendo que aos árbitros só lhes competiria cumprir com as regras estipuladas, tornando-se assim muito mais fácil e visível o seu julgamento por quem de direito.

Desta forma, as regras de arbitragem seriam mais evidentes, objetivas e mais lógicas, se os juízes do apito fossem obrigados a ter um único critério para aplicar na apreciação dos principais lances, menos controlo no apuramento do resultado final que sempre me pareceu exagerado e uma ação mais centralizada na verdade desportiva, que nunca mais chega aos campos de futebol para gáudio de uma determinada elite instalada por conveniência própria no panorama desportivo.
   
Por: Natachas.


sábado, 4 de abril de 2015

TOCA TOCA SEM PLANO B




Esta foi a semana em que Lopetegui se desdobrou em entrevistas. Numa delas, o jornal MARCA escrevia erradamente que o basco tinha chegado ao Porto com o intuito de mudar o modelo que o Porto tinha instituido desde José Mourinho. Aquele em que uma equipa se suportava no erro do adversário, na garra e na manhosice o único modo de vida.

Na realidade o Porto já tenta jogar desta forma aproximada à do Barça desde Vitor Pereira. E os adeptos que viveram esses anos e estão a viver este sabem melhor do que ninguém o que é que este modelo nos dá (capacidade de controlar o jogo e de o jogar quase em exclusivo no meio-campo adversário) e aquilo que ele nos tira (incapacidade de invadir a grande área adversária em quantidade e de criar oportunidades perante equipas em bloco baixo).

Nas entrevistas dadas quando lhe perguntaram pelo modelo de jogo Lopetegui repetiu o que gosta sempre de dizer: “QUEREMOS TUDO”

Na realidade, nós adeptos sabemos que este modelo dos últimos 4 anos (intercalado com o Titanic Paulo Fonseca) não tem plano B.
Quem QUER TUDO tem que ter PLANO A, PLANO B, PLANO C, PLANO...Z.

Nós paramos no PLANO A que se limita ao TOCA TOCA e TOCA. Mesmo quando Lopetegui mexe estruturalmente na equipa, fazendo pensar o mundo que mudando a tactica e o perfil de jogadores em campo o Porto jogará diferente, o que se vê é que a filosofia treinada e colada no ADN do TOCA TOCA não deixa mudar nada.

Joga com 3 defesas e 2 pontas de lança mas a equipa sai a jogar como de costume. Plantam-se jogadores na área e os extremos continuam a não os procurar e apenas TOCAM.

Lopetegui fez as poupanças que seriam esperadas e talvez compreendidas dado o arrastão fisico que nos liquidou na Choupana e o calendário que se avizinha.

O perfil do jogo é estranho até ao minuto 10. O Maritimo salta na pressão alta e parece convencido e a convencer-nos que pode jogar de igual para igual com o Porto.

Como de costume o Porto entra no jogo de forma amorfa sem tomar conta dele e a apalpar terreno.

A partir do minuto 10 acontece o rotineiro embora com menos intensidade face ao habitual: O Porto toma conta sem dominar de forma ampla e Hernâni com os seus safanões e Oliver ligado à corrente começam a dar mando a quem é melhor.

Quaresma entra na festa com uma visita de médico e em 2 boas combinações com Oliver o Porto cheira o 1-0.

Até que o pezinhos de lã Evandro vê uma bola cair-lhe no pé e mete chumbo grosso na baliza de Salin. Seria de esperar que o Porto pudesse aproveitar a vantagem para se acomodar e aproveitar a velocidade de Hernâni no contra-ataque.

Não deu tempo. Ricardo comportou-se na grande área defensiva como se fosse um avançado excitado, entregou o 1-1 ao Maritimo e voltou a lançar o jogo nas bases do terror vivido para o campeonato.

Depois de duas ameaças o 2-1 nasce da passividade no jogo aéreo defensivo e do mau posicionamento de Oliver no 2.º poste a aí estava de volta o pesadelo do campeonato sem Jackson, Danilo, Alex, Tello e Herrera.

Ao contrário do jogo do campeonato desta vez Lopetegui mexeu bem. Experimentou alargar a frente de ataque em criatividade (Brahimi nas costas de Aboubakar) e em potência/altura (Gonçalo + Aboubakar) mas sempre sem esventrar o meio-campo. Manteve inteligentemente a base para ter um suporte estável para estancar o Maritimo e se lançar em busca do empate.

Ao contrário do jogo do campeonato desta vez a equipa nunca teve chispa nem conseguiu transmitir a ideias que o empate poderia estar próximo.

Lopetegui mexeu bem no banco mas o trabalho estrutural que tem feito desde o inicio da época foi mais forte e a equipa seguiu “intentando” sempre da mesma maneira, sempre com a cultura do passe em vez do cruzamento/remate, sempre com a cultura da bola em vez da cultura do espaço, sempre com a cultura da paciência em vez da cultura da urgência.

O Maritimo comportou-se como qualquer equipa que nos estude e nos seja inferior deve fazer. Bloco baixo e não desmobilizar a defesa que o adversário gastará 90% do tempo a tentar encontrar uma agulha no palheiro.

O tempo útil em que o Porto procura de facto o empate é muito reduzido. Eu percebo as vantagens do controle e do domínio e já tive a oportunidade de viver as alegrias de grandes exibições do Porto com base “NA BOLA É NOSSA”.

O que não entendo é esta forma como o Porto enfrenta problemas distintos sempre com base no livro teórico. Não tentamos chuveiro, não cruzamos bolas, não se vê no comportamento dos jogadores nada que indicie que há diferenças entre estarmos a 5 minutos do fim ou a 50 minutos do fim do jogo.

Não se vê urgência nem se consegue perceber se estamos a perder 2-1 ou a ganhar 3-0.

Aqui não é uma questão de atitude porque se olharmos bem para o jogo é por excesso de vontade e de movimentação fisica que o Ricardo vai e não espera e o Oliver sai e não fica.

É uma questão de QUERER TUDO e  de não limitar a equipa a uma única forma de jogar que a impede de mudar de estratégia ainda que se altere a tactica e que não a permite responder adequadamente conforme a especificidade de cada problema.  




Análises Individuais:

Helton – Uma partida sem grande trabalho. Não passou por ele o segurar a vitória, impedir a derrota ou algo similar. Defendeu o que tinha que defender e teve a qualidade habitual a jogar com os pés.

Ricardo – Começou no defesa direito a nossa eliminação da Taça da Liga. Um lance absolutamente banal é transformado no 1-1 com 2 erros básicos que um defesa não pode ter.
Primeiro que tudo um defesa só salta e só se faz ao lance se é para intervir. Se corta, se chega ao lance, se desvia a trajectoria e corta o perigo. Aqui funciona um pouco como um guarda-redes quando resolve abandonar a baliza na saída a um cruzamento.
Há um defesa na 1ª liga eximio nessas decisões. Chama-se Luisão. Só salta quando ganha.
Muitas vezes não salta porque tem medo de não ganhar mas a certeza que se ficar cá em baixo pode encostar, beliscar, fazer cócegas e qualquer coisa de útil para a sua equipa.
Ricardo com voluntarismo e pouca cultura de defesa faz-se a todos os lances como se não houvesse amanhã. Salta sempre e faz-se à bola sempre.
Não chegou à bola e logo a seguir acertou no adversário.
Atitude a mais e inteligência defensiva a menos.
No ataque não se conseguiu soltar. Maicon em 10 minutos foi mais profundo que Ricardo em todo o tempo de jogo.

Maicon – Está a voltar ao estilo Beckenbauer do inicio da época. Sente-se mais confiante, mais patrão e as pernas parecem mais soltas.
Como aspecto negativo partilha com Marcano a incapacidade de controlar os lances aereos que na 1ª parte criaram sempre perigo perto da baliza de Helton.
No ataque, foi o jogador na 2ª parte que conseguiu ser mais profundo e o unico que parecia ter conhecimentos teóricos sobre a importância de atacar o espaço vazio em detrimento do vazio de 45 minutos de bola de pé para pé.

Marcano – Tem qualidade para ir mais além do que o mero deposito da bola no médio mais próximo quando em construção.
Na 2ª parte os avançados do Maritimo davam espaço para Marcano subir com bola e era essencial que o espanhol tivesse comido esses metros para obrigar a que o autocarro madeirense se tivesse que desmobilizar com os defesas deixando médios e avançados com mais espaço.
Defensivamente esteve na linha do habitual partilhando com Maicon os pecados do não dominio da grande área nas bolas paradas.

José Angel – Uma boa primeira parte enquanto as diagonais de Hernani lhe deram campo para correr. Sabe sempre o que fazer com a bola e tem pés para dar corpo ao que decide fazer.
Com Quaresma e Brahimi como parceiros e com a defesa a 3 imposta por Lopetegui ,José Angel deixou de ter campo para correr e limitou-se a ser mais um jogador a passar e receber a bola no pé sem qualquer ideia ou tentativa de desequilibrio.

Casemiro – Cumpriu com os minimos de agressividade e intensidade que se exigem no meio-campo. Esteve no limiar de marcar um golo candidato ao Premio Puskas mas não foi capaz de ter qualquer intervenção capaz de tirar a equipa do deserto de ideias e da absoluta incapacidade e vontade de tentar um plano B.

Evandro – Tem uma caracteristica comum a todos os jogos que tem feito no Porto. Raramente decide mal e raramente executa mal. Decidir bem e executar bem deveriam ser um cartão de visita suficiente para ser titular indiscutivel do Porto.
Não são. Evandro precisa de se dar mais ao jogo, de se mostrar mais e de se achar mais porque tem qualidade e inteligência para isso.
É o médio mais completo do Porto porque passa bem, decide bem, consegue arrancar com bola, tem meia distância (que Golão!) e defende com inteligência tactica.
Se não se achar e continuar a correr pelo relvado à espera que se lembrem dele ou à espera que lhe caia uma bola para fulminar o redes adversário vai deixar de ser titular e passar ao lado de uma carreira que tem tudo para ser positiva e marcante no FC Porto.

Oliver – Ao contrário de Evandro é raro haver jogo em que Oliver não se dê e mostre a toda a hora. Quer sempre bola, “obriga” os seus companheiros a procurá-lo e está sempre de pilhas carregadas de forma irrequieta procurando protagonismo.
Na minha opinião Oliver é um jogador modelo para o tipo de jogo que equipas como o Porto quer praticar mas deveria ser mais central e um pouco mais cerebral à semelhança do que o melhor Xavi fez no Barcelona.
Deveria ser o maestro com 5 linhas de passe sempre abertas potenciando o que ele tem de melhor (para além da capacidade de se desenvencilhar da pressão e de esconder a bola).
A linha directa para o 9, as 2 diagonais curtas e longas para os médios, extremos e laterais.
Infelizmente vejo-o muito colado a um dos lados e demasiado ligado a apenas 2 jogadores (o lateral e o extremo da sua ala) quando toda a equipa devia ser colada por ele.
Fez um jogo esforçado sem grande brilhantismo, foi prejudicado pela sua postura pouco central e é responsável por não ter cumprido com a obrigação de proteger o 2.º poste.

Quaresma – Passou ao lado do jogo e esteve uns furos abaixo de Hernani. Na 1ª parte ainda teve 2 bons apontamentos em articulação com Oliver mas nunca foi um jogador capaz de meter 2 mudanças acima da bitola letargica com que a equipa trocava a bola.
Não desequilibrou, não acelerou nem se distinguiu dos demais.

Hernâni – Foi o acelerador e o mais importante jogador da equipa enquanto esteve em campo. Estranhamente deu-se melhor na ala esquerda do que na direita que, em teoria, favorecia as diagonais.
Começa a ser claro que o Porto TOCA-TOCA precisa a gritos de jogadores que pelas suas caracteristicas individuais consigam dar à equipa aquilo que a sua estratégia de jogo considera ser um pecado: PLANO B.
Foi substituido porque não tem estatuto e não porque não estivesse a ser, a léguas, o melhor elemento do ataque.

Aboubakar – Desde que saiu Falcao ser ponta-de-lança do Porto é profissão de risco. A equipa tem um perfil de jogo que inferniza a vida a qualquer 9 dada a exiguidade de bolas limpas que são servidas.
Kleber suicidou-se à conta disso e Jackson foi obrigado a mostrar que é dos pontas de lança mais completos do futebol europeu porque consegue criar mais jogo para a equipa do que a equipa cria para ele.
Neste estado de coisas as 3 ou 4 oportunidades que o 9 do Porto tem para se mostrar são a amostra possível para avaliar a qualidade de um avançado.
Numa equipa grande que servisse o seu avançado de forma normal os erros afogam-se no mar de momentos do jogo em que ele é obrigado a intervir.
No Porto qualquer falhanço é amplificadissimo porque a amostra é pequena.
Aboubakar não esteve bem porque a equipa não lhe deu jogo e está viciada em se servir de Jackson.


Tello – Deu um bocadinho do que Hernâni estava a dar na 1ª parte e percebeu-se pelo estado do jogo que tinham sido necessários os 2 jogadores ao mesmo tempo porque são os únicos que divergem de forma clara da filosofia de passe pastoso da equipa.
Quaresma e Brahimi juntam-se e agravam o pasto. Tello e Hernâni tentam tirar qualquer coisa dele.

Brahimi – Joga sempre da mesma maneira seja qual for o resultado parcial, o contexto do jogo, da competição. Isso seria um elogio se estivessemos a falar da atitude com que encara Bayern ou Sertanense.
Neste caso é uma critica porque Brahimi não é inteligente a jogar. Tenta meter sempre a fintinha mesmo que tenha 2 pontas de lança, 2 centrais e o guarda-redes na grande área a pedir o cruzamento.
Começo a estar preocupado com a carreira de Brahimi no clube. No inicio da época todos pensavamos que seria um Hulk e hoje nem a titularidade parece estar assegurada.

Gonçalo Paciência -  A entrada fez sentido mas a equipa continuou a jogar no TOCA-TOCA como se não tivesse 2 pontas de lança nem qualquer tipo de urgência em meter a bola na área.


 
Ficha de Jogo

Maritimo-FC Porto, 2-1
Taça da Liga, meia-final
Quinta-feira, 2 Abril 2015 - 19:45
Estádio: Estádio do Marítimo, Madeira
Assistência: -

Árbitro: Carlos Xistra (Castelo Branco).
Assistentes: Paulo Soares e Jorge Cruz.
4º Árbitro: Rui Rodrigues.

Marítimo: Salin, João Diogo, Bauer, Raúl Silva, Rúben Ferreira, Danilo Pereira, Alex Soares, Bruno Gallo, Edgar Costa, Marega, António Xavier.
Suplentes: Wellington, Dyego Sousa, Gêgê (87' Alex Soares), Briguel, Fransérgio (76' Bruno Gallo), Ebinho, Éber (79' Edgar Costa).
Treinador: Ivo Vieira.

FC Porto: Helton, Ricardo, Maicon, Marcano, José Ángel, Casemiro, Evandro, Óliver Torres, Quaresma, Aboubakar, Hernâni.
Suplentes: Andrés Fernández, Brahimi (66' Ricardo), Tello (57' Hernâni), Herrera, Campaña, Alex Sandro, Gonçalo Paciência (76' Quaresma).
Treinador: Julen Lopetegui.

Ao intervalo: 2-1.
Marcadores: Evandro (32'), Bruno Gallo (37' pen), Marega (45').
Disciplina: cartão amarelo a Óliver Torres (28'), Ricardo (36'), Raúl Silva (73'), Gêgê (89'), Evandro (90').


Por: Walter Casagrande
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