quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

De la Palice!


De la Palice!

Há quem diga que vivemos num Estado de Direito. Tenho as minhas dúvidas. Não creio que vivamos nessa utopia clássica de um Estado regido por leis e por conceitos de justiça elementar. Vivemos numa sociedade humana e, só por isso, plena de defeitos e incongruências. A utopia do Estado Moderno, divisado na trilogia dos três poderes - judicial, legislativo e executivo - que se auto-controlam, é uma falácia. O poder difere como conceito, razão e facto da autoridade. O poder e a autoridade deviam dar conformidade à razão de Estado, mas o que se constata no Estado Moderno é que o poder se exerce como uma razão de facto e não como uma razão de autoridade ou de direito. A autoridade é, ou devia ser, o substrato mais importante do poder, porque é, ou devia ser, a razão que o legitima. A legitimidade, como forja moral, como afirmação de concordância societária é, ou devia ser, exactamente como o direito, a força vectorial da sociedade política. 
Esta reflexão politóloga trouxe-me à ideia a razão actual do Estado português nos seus actos mais comezinhos. Não, não falo da eleição do "encriptado" Rio contra o homem dos violinos de Chopin na  ascensão à "cadeira de sonho do PSD", falo sim do estado do nosso país perante os sucessivos escândalos que vamos tendo conhecimento através da leitura dos mails do Estado Lampiânico. Um Estado dentro do Estado, como todos sabemos...

O país não acredita que uma instituição como o Benfica tenha protagonizado tais teias de relações promiscuas entre o futebol, a comunicação social, o sector da arbitragem e a política. O país não "acredita", ou antes, não quer acreditar. É fácil de acreditar em tal paradigma, basta atentar no país. O nível de corrupção nele latente é tão alto que já hipotecamos várias instituições bancárias e ninguém ainda foi preso. Um pairou algum tempo no regime de prisão preventiva, mas outros julgados e condenados continuam "a salto"! Um deles, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos, reconhecido cacique político e benfiquista de Vinhais, era a exacta imagem do estado de descredito das instituições políticas deste país: um tipo bacoco, chico-esperto e novo-rico! 
Chegados ao vortex da leitura" emailiana" e o mundo continua incrédulo! Defende-se o indefensável por correlação com os processos do Apito Dourado, por putativa inexistência dos e-mails, por sua adulteração ou truncagem, por invocação do direito à privacidade e ao direito "à boa imagem", por questões de natureza concorrencial económica, por questões do foro do crime informático e isso, por si só, bastasse para sonegar o conteúdo dos emails... Risível!

O Estado do país é tal e este assunto é tão grave que até o pudor entrou em cena!! Os Costas e os Centenos já não circulam pelos camarotes da Luz, note-se só!! No tempo em que o Dr. Fernando Gomes era presidente da câmara do Porto caiu o Carmo e a Trindade porque o homem, por portista, assistia aos jogos do seu F.C. Porto no camarote, e estes "Secretários de Estado" do verdadeiro Primeiro-Ministro - verdadeiros NN legalizados -, eram vistos com bons olhos por tal feito!? Vá-se lá entender este país centralista, assimétrico, mesquinho, saudosista e paternalista...
Bem sei que a procissão ainda vai no adro, mas entretanto ia caindo uma bancada inteira ali para os lados de Cascais e a culpa, não sendo imputável ao clube da casa, ainda vai acabar por ser dirigida aos adeptos que, pelo seu peso específico, ainda acabam acusados pelo IPDJ e são condenados à marginalidade e ilegalidade perene! Claro que a culpa não é do Estoril, a culpa é do país... Somos um país à beira-mar plantado, onde grassa a corrupção e os interesses populistas de meia dúzia de caciques políticos. E o dinheiro é o rei Midas deste Estado eternamente devedor!? O BES serviu como testa-de-ferro financeiro a esta política de centralização "absolutista" em Lisboa. O Benfica do Vieira tornou-se no "monstro sagrado" do desporto nacional, porque no seu arremedo anti-Sonae à compra da PT, o Porto foi de caminho porque fazia sombra ao clube do Salazar, esse outro ex-dono "disto tudo"...

O BES foi a reserva financeira dos Vieiras, dos Varas, dos Sócrates, como o BPN foi a reserva "moral" do bloco de direita. Este bloco central que nos governa desde o 25 de Abril de 74 e que se tornou na Némesis de um Estado que se queria livre, próspero e minimamente equalitário. 
O tetra do Benfica tem esta carga energética, este semblante de cinzentismo, de clientelismo, dum populismo afecto à causa dos "6 milhões" e às reminiscências metafóricas e esotéricas do nosso sebastianismo
Somos um caso perdido. Um povo ainda perdido na penumbra de Alcácer-Quibir, na derrocada de um projecto sem visão estratégica ou alicerce humano. O Benfica e a derrocada do seu sistema central de informações revelam a verdade de um país entregue a interesses difusos, seja no desvirtuamento da verdade no desporto, na sonegação de uma imprensa verdadeiramente livre ou no reafirmar de um obscurantismo processual que contrasta, e de que maneira, com o show-off do Apito Dourado e da acutilância da sua ex-justiceira-mor.

A lei é a lei: a sua letra, a sua intenção, o seu enquadramento histórico, o seu significado teleológico. Tudo critérios de interpretação da lei, como me ensinou a faculdade. Segundo o regulamento das competições nacionais, dizem-me, a interrupção do jogo por causas imputáveis ao clube organizador determina a perda do mesmo por 3-0 e a respectiva subtracção de três pontos. Pelo que se constata, a bancada do Estoril estava em derrocada há muito e não foi pelo sismo de Arraiolos que a mesma apresentava brechas daquela grandeza, denotando ainda reforços de cimento recente. Segundo o regulamento e atestada essa imputabilidade, é fácil de aplicar os regulamentos, certo? Como diria um mestre do direito desportivo, agora sócio de uma das 5 empresas que prestam assessoria ao Benfica na questão dos emails, isto não tem nada que saber!! Condena-se o Porto, suspende-se o Hulk e o Sapunaru e deixa-se que o Conselho de Justiça possa reverter a decisão de primeira instância do CD, fazendo jurisprudência. Certo, Prof. Meirim? De la palice!


Joker

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