quarta-feira, 1 de julho de 2015

O mercado de transferências ao rubro


Portugal apresenta-se sempre aos olhos do mundo como um pequeno país europeu periférico de fracos recursos económicos e sociais, mas no que diz respeito ao mundo futebolístico esta consideração muda totalmente de figura e de conceito, podendo mesmo dizer-se que no panorama desportivo, e essencialmente no que o futebol diz respeito, consegue ser mesmo um país que se evidencia pelo número de transferências realizadas, pelo elevado valor que as mesmas atingem no mercado, e ainda pela qualidade dos jogadores que movimenta, e que todos os anos consegue bater recordes de verbas transacionadas para outros campeonatos mais competitivos e com maior poder económico, o que de facto é extraordinário e paradigmático para um país com cerca de 10 milhões de habitantes, mas com uma apetência especial para esta modalidade desportiva.

Ainda a procissão vai no adro da igreja em termos do período de fecho do mercado de transferências, mas as notícias sobre transações de jogadores e treinadores a atuarem no nosso campeonato já está ao rubro e não dá mostras de se ficar por aqui, podendo mesmo vir a confirmar-se este defeso como um ano histórico, tendo em conta as bombásticas transferências já realizadas e as que, porventura, se possam vir a perfilar de acordo com as notícias que nos vão chegando através dos órgãos de comunicação social.

Assim, se a saída de Jackson Martinez do FCP já era esperada há muito tempo, sendo mesmo mais uma vez considerada como um excelente negócio financeiro para o clube azul e branco, já a notícia oficial da passagem de armas e bagagens de JJ do SLB para o vizinho rival SCP, traduziu-se numa autêntica bomba nuclear nos meandros do mundo da bola indígena, pela forma e conteúdo como o negócio foi realizado, tendo em conta os valores em causa e a débil situação financeira do clube leonino, que até aqui não era muito afeito a aventuras deste género, e que ao mesmo tempo continua a afirmar a pés juntos que não existe por detrás deste negócio nenhum apoio estrangeiro, e mesmo sabendo da simpatia que JJ sempre nutriu pelo SCP, acho que poucos acreditavam nesta possibilidade, que a correr mal todo este processo em termos desportivos pode vir a degenerar uma crise financeira bastante grave para as bandas de Alvalade, sabendo-se que o SCP ainda tem pela frente uma pré-eliminatória da Liga dos Campeões que não pode falhar, sob pena de perder mais de 10 milhões de euros para o seu orçamento anual. 

Quanto à propalada transferência do ano do carismático Maxi Pereira para o FCP, que tem servido de gáudio para toda a comunicação social e não só, e que tanto tem dividido ambas as hostes rivais, não só pelos números do negócio que têm vindo a público, mas também pelo facto de estarmos na presença de um jogador de 31 anos, e por esse motivo não se prever nenhuma mais-valia numa eventual transferência futura, como tem sido usual e com enorme êxito para as bandas do dragão, eu mesmo, como ainda no momento que escrevo estas linhas nada está decidido, confesso que ainda me encontro também dividido, não pela qualidade do jogador em causa, pois se vier com o mesmo empenho que patenteava no SLB, não tenho dúvidas que o lugar ficará bem preenchido, para além de o FCP com esta opção não precisar de ir ao mercado pagar o valor de uma nova transferência, a que teria forçosamente de juntar os honorários de um outro jogador, que a este nível não ficariam menos dispendiosos do que o FCP propôs a Maxi, havendo ainda o risco de uma adaptação imediata ao nosso futebol, como já aconteceu com alguns jogadores que por cá passaram. 

Ainda sobre estas transferências do Maxi e do JJ, parece-me que mais uma vez o SLB foi apanhado desprevenido e agiu como um clube provinciano, por um lado nunca pensou que o SCP se aventura-se a contratar JJ, já que o seu receio estava concentrado mais na possibilidade de o mesmo ir para o FCP, e quando teve a certeza de que Lopettegui iria continuar, mesmo que não estivesse interessado em renovar com JJ, sempre pensou que o seu treinador iria optar pelo mercado estrangeiro, já no caso do Maxi deixou prolongar em demasia a resolução da renovação do contrato, pensando que o seu carismático jogador nunca ousaria trocar o clube que o lançou na rivalta desportiva pelo seu principal rival do norte.

Por fim, e apesar de ainda ser um pouco cedo para se fazer uma análise bem fundamentada quanto ao principal candidato para vencer o próximo campeonato nacional, a julgar pelo que tem vindo a público nos jornais da especialidade, parece não restar dúvidas que iremos ter um campeonato emotivo e com as três principais equipas portuguesas a lutarem entre si pelo título até às últimas jornadas, e na minha opinião com algum favoritismo por parte do FCP que não está habituado a perder dois anos seguidos, se bem que até à data ainda não tenha preenchido a vaga do seu artilheiro mor, Jackon Martinez, que deixará saudades como foram também os casos de Jardel, Lizandro Lopez, Hulk, Falcao, entre outros, e que o FCP sempre soube substituir com mestria.

Esta minha análise em termos de um certo favoritismo que atribuo ao FCP para o próximo ano, prende-se com o facto lógico de Lopetegui já conhecer melhor os cantos à casa, e de provavelmente não irá repetir os mesmos erros que cometeu no início da época anterior, com as alterações constantes na composição do esqueleto padrão da equipa, para além de se estar a reforçar com qualidade no meio campo, se bem que ainda não tenha resolvido o problema com a substituição do seu goleador, ao invés dos seus rivais que terão que passar por novos processos e metodologias de treino, e ainda, com a forte possibilidade de virem a ficar sem alguns jogadores da sua equipa base, e por último, no caso do SCP, se não se reforçar com mais dois ou três jogadores de qualidade, não chegará só um Jesus por muito milagreiro que o nome indique.

Uma última nota sobre todas estas peripécias que se passam à volta do mundo da bola, que mais uma vez só vêm provar que estamos na presença de uma sociedade à parte daquela que estamos habituados e inseridos, pois no futebol atual não existem cadeiras de sonho, amor às camisolas ou qualquer outro atributo substantivo, existe sim uma corja de empresários sem escrúpulos que vivem à custa dos jogadores, e por vezes são eles os principais culpados por os clubes estarem de relações cortadas.
 
Por:  Natachas.



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