sábado, 9 de maio de 2015

ROLO SEMPRESSOR




A categórica vitória do Benfica em Barcelos desinsuflou o balão de motivação para o jogo de Setúbal.

Há uma diferença entre correr atrás de um sonho e a de cumprir com uma obrigação. Ainda assim, o Porto entrou no Estádio do Bonfim com vontade de fazer o que tem sido habitual. Ter bola, encostar o adversário, mandar no jogo.

Esse desiderato é conseguido com facilidade graças à forma como Brahimi e Quaresma se conseguiram desamarrar do papel de espectadores no ataque para ajudarem a construir mais por dentro e mais atrás.

Retornado à centralidade Oliver tratou de dar uma intensidade ao jogo ofensivo que um mediano Setúbal jamais poderia acompanhar.
E é assim que durante toda a primeira parte se pisou apenas metade do relvado, com a construção do Porto a mandar e o adversário encolhido a tentar resistir ao rolo de ataque do Porto.

O sentido unívoco do jogo permitiu ver um Porto diferente para melhor ao ter 3 médios-ofensivos (Herrera, Brahimi e Quaresma) e 2 laterais que meteram vacances para serem verdadeiros extremos. No centro tudo Oliver que era o farol da equipa funcionando como placa giratória onde nascia todo o ataque da equipa. 

Nessas alturas o Setúbal percebeu que o milagre dos pães é uma história difícil de aplicar e não conseguiu tapar todos os espaços ao ataque do Porto.

Numa dessas incursões de Ricardo o Porto mete mais gente na área e o falhanço de Jackson é correspondido pela finalização de Brahimi.

O 1-0 nasce cedo e o padrão do jogo não se altera. O Porto desacelera um pouco mas o ritmo é suficiente para que Helton passe umas boas férias assistindo de camarote a um bom exemplo de dominio total da partida.

Esse registo é acentuado sempre que Quaresma resolve juntar velocidade ao rolo compressor o que provava que bastava forçar um bocadinho mais para estrilhaçar o Setubal de vez.

O Porto não forçou muito mas o que jogou foi suficiente para estar a ganhar por 2 ou mais golos de diferença ao intervalo. O que o Porto jogou e o que o Setúbal assistiu permitem essa leitura.

Na 2ª parte o Porto deixou de empurrar, pressionar e enrolar o Setubal tipo tapete para perto da baliza de Raeder. O rolo compressor morre e é enterrado.

Foram 45 minutos em que o Porto levantou o pé, deixou de pressionar e resolveu enrolar o relógio à espera do apito final.

A superioridade da 1ª parte foi de tal forma vincada que a motivação para a 2ª foi apenas a de ver passar o tempo.

A análise da partida e as categóricas afirmações do treinador e jogadores do Setúbal fazem parecer que o que mudou foi a tactica e a atitude da sua equipa. Que foi o Setúbal que melhorou e que forçou o Porto a piorar.

Não foi. Mesmo com um Porto amorfo e a ver passar o tempo a verdade é que o jogo foi pastoso e sem grandes episódios que mostrassem o perigo dos vitorianos.

O empate ficou mais perto porque a postura do Porto na 2ª parte tornou o 2-0 muito mais longe. O entusiasmo das bancadas e do Setúbal nasce disso mesmo.

Lopetegui percebeu bem o estado de (des)ânimo da sua equipa e resolveu introduzir factores de equilibrio que tentassem ser um seguro de vida para quem joga com o relógio.

Ter mais bola, perdê-la menos e controlar a partida. Entra Evandro e sai Quaresma.

O jogo avança para perto dos 90 minutos e num lançamento lateral de Pedro Queirós JJ style fica claro quais os riscos que uma equipa que enrola o relógio corre.

Helton assume, o Setúbal empolga-se e avança no terreno e o Porto acaba por matar o jogo sem merecer numa das já habituais combinações Herrera e Jackson.

A jogar como nos primeiros 45 minutos o Porto teria grandes probabilidades de vencer 14 equipas deste campeonato.
A jogar como nos segundos 45 minutos o Porto teria grandes probabilidades de perder ou empatar com umas 14 equipas deste. Ainda bem que este Setúbal não faz parte dessas 14. 
 

Análises Individuais
Helton – Dentro dos postes mostrou segurança e resolveu os poucos problemas que o Setubal conseguiu colocar. A jogar com os pés fê-lo com qualidade e tranquilidade provando por A+B que merece a titularidade.
Ricardo – Excelente jogo. Se o adversário é macio e não o obriga a defender só vemos o lado bom do lateral direito. Dá profundidade, é agressivo e capaz de no um contra um para desmontar a defesa contrária.
Na 1ª parte nasce dos seus pés o golo de Brahimi e foi claramente um dos melhores da equipa.

Maicon – Um jogo tranquilo defensivamente e menos destrutivo na construção ofensiva.

Marcano – Uma lesão que acaba com a época duma excelente contratação do FCP. Para o ano cá estaremos contando com a eficiência, regularidade e qualidade deste achado por Lopetegui.

Alex Sandro – Estaria ao nivel de Ricardo se não tivesse uma paragem cerebral no final da 1ª parte que só não redundou no 1-1 porque o arbitro não viu.
Definitivamente falta-lhe consistência mental para que o nivel que tem possa explodir no Mundo. Sem consistência mental não há regularidade exibicional.
Sem regularidade exibicional fica-se sem saber o que é Alex. Se um dos melhores 3 defesas esquerdos do Mundo ou um dos melhores 30 defesas esquerdos do Mundo.

Casemiro Outra vez em grande. Fortissimo nos duelos individuais, sempre intenso, cada vez mais responsável e começando a revelar-se como o jogador mais importante na fase final da temporada porque está sempre presente, não se lesiona e joga sempre bem.

OliverMvp. O pequeno Xavizinho que pegou na batuta da equipa, jogou muito na 1ª parte, deu-se aos colegas e à bola, pressionou e impôs um ritmo demasiado forte para a um Setúbal fraco.
Uma pena ficarmos sem este jogador. Uma pena para este jogador voltar para uma equipa que, por modelo tactico, dificilmente conseguirá tirar o Xavizinho que há lá dentro.
O Porto não pode entrar em loucuras mas tem que ficar de tocaia. Nem Xavi nem Oliver são jogadores de perfil Simeone. Quando isso ficar evidente quem tem que estar na 1ª fila da grelha somos nós.

Herrera – Parece um Fórmula 1 depois de 40 voltas com os mesmos pneus. Foi fundamental na temporada pela intensidade, pressão e capacidade de defender e atacar de área a área mas está literalmente nas lonas.
É capaz de um ou outro arranque e de um ou outro pormenor como mostrou na assistência para Jackson, mas já não consegue estar dentro do jogo como fez até há mês e meio atrás.
Precisa de descanso.

Brahimi – Parece impossível mas eu vi o Brahimi a jogar ao primeiro toque. A acelerar em vez de travar o jogo da equipa. A perceber que a equipa ganhava mais com um dinâmico médio ofensivo do que com um estático extremo esquerdo.
A 1ª parte foi das melhores pós-CAN e capaz de me fazer pensar que é possível meter-lhe juízo na cabeça para dele tirar e potenciar todo aquele talento.

Quaresma – Bom jogo. Como Brahimi foi capaz de jogar mais por dentro dando asas para os laterais voarem com espaço para correr e relvado livre dado o arrastamento dos defesas setubalenses para zonas interiores.
Conseguiu também fazer o que começa a ser raro no Porto. Transportar individualmente a bola de forma veloz e vertical surpreendendo os adversários que estão sempre à espera de trocas de bola infinitas com limite máximo de 90 Km/h.

Jackson – Acusa um pouco o desgaste que também se vê em Herrera. Como Jackson tem uma importância desmesurada na construção e no jogo ofensivo da equipa o facto de perdermos outro médio e não termos o finalizador a 100% acaba por limitar a equipa.
Como é um avançado fabuloso, mesmo assim é indiscutivel e consegue ser decisivo como se percebe com o dominio e remate que mataram a partida.


Martins Indi – Este ano o Porto acertou na escolha de centrais. Este jovem revela a matreirice de um veterano de 35 anos. É menos agressivo no jogo aéreo do que Marcano mas consegue limitar os adversários colocando o corpo e posicionando-se de forma eficaz.
É de longe o melhor central com a bola nos pés e na qualidade de passe o que é fundamental para quem insiste em construir de trás.

Evandro – Entrou muito bem fazendo com o tempo corresse como a equipa queria. Por qualidades inatas e pela condição fisica que ainda tem está a merecer o lugar de Herrera para ganhar minutos e confiança para conseguir provar de forma inequivoca que tem lugar no plantel em 2015/16.

Hernâni – Muita vontade que acabou por lhe tirar discernimento em lances de contra-ataque que poderiam dar sossego ao Porto antes do minuto 90.


Ficha de jogo:
 
V. Setúbal-FC Porto, 0-2
Primeira Liga, 31ª jornada
Domingo, 3 Maio 2015 - 19:15
Estádio: Bonfim, Setúbal
Assistência: -


Árbitro: Marco Ferreira (Madeira).
Assistentes: Nelson Moniz e Sérgio Serrão.
4º Árbitro: Ricardo Baixinho.

SETÚBAL: Lukas Raeder, Frederico Venâncio, João Schmidt, Paulo Tavares, Pedro Queirós, Suk, François, Hélder Cabral, Dani, Advíncula, Zequinha.
Suplentes: Miguel Lázaro, Miguel Pedro (60' Hélder Cabral), Uli Dávila (72' Paulo Tavares), Kiko, Rambé (82' Pedro Queirós), Miguel Lourenço, Ney Santos.
Treinador: Bruno Ribeiro.

FC PORTO: Helton, Ricardo, Maicon, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Óliver Torres, Quaresma, Brahimi, Jackson Martínez.
Suplentes: Andrés Fernández, Martins Indi (25' Marcano), Quintero, Evandro (66' Quaresma), Hernâni (80' Brahimi), Rúben Neves, Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.

Ao intervalo: 0-1.
Marcadores: Brahimi (15'), Jackson Martínez (90') .
Disciplina: cartão amarelo a Zequinha (35'), Dani (42'), Pedro Queirós (61'), Ricardo (74'), Casemiro (90+4m').


Por: Walter Casagrande

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