Esta foi a semana em que
Lopetegui se desdobrou em entrevistas. Numa delas, o jornal MARCA escrevia
erradamente que o basco tinha chegado ao Porto com o intuito de mudar o modelo
que o Porto tinha instituido desde José Mourinho. Aquele em que uma equipa se
suportava no erro do adversário, na garra e na manhosice o único modo de vida.
Na realidade o Porto já tenta
jogar desta forma aproximada à do Barça desde Vitor Pereira. E os adeptos que
viveram esses anos e estão a viver este sabem melhor do que ninguém o que é que
este modelo nos dá (capacidade de controlar o jogo e de o jogar quase em
exclusivo no meio-campo adversário) e aquilo que ele nos tira (incapacidade de
invadir a grande área adversária em quantidade e de criar oportunidades perante
equipas em bloco baixo).
Nas entrevistas dadas quando lhe
perguntaram pelo modelo de jogo Lopetegui repetiu o que gosta sempre de dizer:
“QUEREMOS TUDO”
Na realidade, nós adeptos sabemos
que este modelo dos últimos 4 anos (intercalado com o Titanic Paulo Fonseca)
não tem plano B.
Quem QUER TUDO tem que ter PLANO
A, PLANO B, PLANO C, PLANO...Z.
Nós paramos no PLANO A que se
limita ao TOCA TOCA e TOCA. Mesmo quando Lopetegui mexe estruturalmente na
equipa, fazendo pensar o mundo que mudando a tactica e o perfil de jogadores em
campo o Porto jogará diferente, o que se vê é que a filosofia treinada e colada
no ADN do TOCA TOCA não deixa mudar nada.
Joga com 3 defesas e 2 pontas de
lança mas a equipa sai a jogar como de costume. Plantam-se jogadores na área e
os extremos continuam a não os procurar e apenas TOCAM.
Lopetegui fez as poupanças que
seriam esperadas e talvez compreendidas dado o arrastão fisico que nos liquidou
na Choupana e o calendário que se avizinha.
O perfil do jogo é estranho até ao
minuto 10. O Maritimo salta na pressão alta e parece convencido e a
convencer-nos que pode jogar de igual para igual com o Porto.
Como de costume o Porto entra no
jogo de forma amorfa sem tomar conta dele e a apalpar terreno.
A partir do minuto 10 acontece o
rotineiro embora com menos intensidade face ao habitual: O Porto toma conta sem
dominar de forma ampla e Hernâni com os seus safanões e Oliver ligado à
corrente começam a dar mando a quem é melhor.
Quaresma entra na festa com uma
visita de médico e em 2 boas combinações com Oliver o Porto cheira o 1-0.
Até que o pezinhos de lã Evandro
vê uma bola cair-lhe no pé e mete chumbo grosso na baliza de Salin. Seria de
esperar que o Porto pudesse aproveitar a vantagem para se acomodar e aproveitar
a velocidade de Hernâni no contra-ataque.
Não deu tempo. Ricardo
comportou-se na grande área defensiva como se fosse um avançado excitado,
entregou o 1-1 ao Maritimo e voltou a lançar o jogo nas bases do terror vivido
para o campeonato.
Depois de duas ameaças o 2-1 nasce
da passividade no jogo aéreo defensivo e do mau posicionamento de Oliver no 2.º
poste a aí estava de volta o pesadelo do campeonato sem Jackson, Danilo, Alex,
Tello e Herrera.
Ao contrário do jogo do
campeonato desta vez Lopetegui mexeu bem. Experimentou alargar a frente de
ataque em criatividade (Brahimi nas costas de Aboubakar) e em potência/altura
(Gonçalo + Aboubakar) mas sempre sem esventrar o meio-campo. Manteve
inteligentemente a base para ter um suporte estável para estancar o Maritimo e
se lançar em busca do empate.
Ao contrário do jogo do
campeonato desta vez a equipa nunca teve chispa nem conseguiu transmitir a
ideias que o empate poderia estar próximo.
Lopetegui mexeu bem no banco mas
o trabalho estrutural que tem feito desde o inicio da época foi mais forte e a
equipa seguiu “intentando” sempre da mesma maneira, sempre com a cultura do
passe em vez do cruzamento/remate, sempre com a cultura da bola em vez da
cultura do espaço, sempre com a cultura da paciência em vez da cultura da
urgência.
O Maritimo comportou-se como
qualquer equipa que nos estude e nos seja inferior deve fazer. Bloco baixo e
não desmobilizar a defesa que o adversário gastará 90% do tempo a tentar
encontrar uma agulha no palheiro.
O tempo útil em que o Porto
procura de facto o empate é muito reduzido. Eu percebo as vantagens do controle
e do domínio e já tive a oportunidade de viver as alegrias de grandes exibições
do Porto com base “NA BOLA É NOSSA”.
O que não entendo é esta forma
como o Porto enfrenta problemas distintos sempre com base no livro teórico. Não
tentamos chuveiro, não cruzamos bolas, não se vê no comportamento dos jogadores
nada que indicie que há diferenças entre estarmos a 5 minutos do fim ou a 50
minutos do fim do jogo.
Não se vê urgência nem se
consegue perceber se estamos a perder 2-1 ou a ganhar 3-0.
Aqui não é uma questão de atitude
porque se olharmos bem para o jogo é por excesso de vontade e de movimentação
fisica que o Ricardo vai e não espera e o Oliver sai e não fica.
É uma questão de QUERER TUDO
e de não limitar a equipa a uma única
forma de jogar que a impede de mudar de estratégia ainda que se altere a
tactica e que não a permite responder adequadamente conforme a especificidade
de cada problema.
Análises Individuais:
Helton – Uma
partida sem grande trabalho. Não passou por ele o segurar a vitória, impedir a
derrota ou algo similar. Defendeu o que tinha que defender e teve a qualidade
habitual a jogar com os pés.
Ricardo – Começou
no defesa direito a nossa eliminação da Taça da Liga. Um lance absolutamente
banal é transformado no 1-1 com 2 erros básicos que um defesa não pode ter.
Primeiro que tudo um defesa só salta e só se faz ao lance se
é para intervir. Se corta, se chega ao lance, se desvia a trajectoria e corta o
perigo. Aqui funciona um pouco como um guarda-redes quando resolve abandonar a
baliza na saída a um cruzamento.
Há um defesa na 1ª liga eximio nessas decisões. Chama-se
Luisão. Só salta quando ganha.
Muitas vezes não salta porque tem medo de não ganhar mas a
certeza que se ficar cá em baixo pode encostar, beliscar, fazer cócegas e
qualquer coisa de útil para a sua equipa.
Ricardo com voluntarismo e pouca cultura de defesa faz-se a
todos os lances como se não houvesse amanhã. Salta sempre e faz-se à bola
sempre.
Não chegou à bola e logo a seguir acertou no adversário.
Atitude a mais e inteligência defensiva a menos.
No ataque não se conseguiu soltar. Maicon em 10 minutos foi
mais profundo que Ricardo em todo o tempo de jogo.
Maicon – Está a voltar ao estilo Beckenbauer do inicio da época.
Sente-se mais confiante, mais patrão e as pernas parecem mais soltas.
Como aspecto negativo partilha
com Marcano a incapacidade de controlar os lances aereos que na 1ª parte
criaram sempre perigo perto da baliza de Helton.
No ataque, foi o jogador na 2ª
parte que conseguiu ser mais profundo e o unico que parecia ter conhecimentos
teóricos sobre a importância de atacar o espaço vazio em detrimento do vazio de
45 minutos de bola de pé para pé.
Marcano – Tem qualidade para ir mais além do que o mero deposito da
bola no médio mais próximo quando em construção.
Na 2ª parte os avançados do Maritimo davam espaço para
Marcano subir com bola e era essencial que o espanhol tivesse comido esses
metros para obrigar a que o autocarro madeirense se tivesse que desmobilizar
com os defesas deixando médios e avançados com mais espaço.
Defensivamente esteve na linha do habitual partilhando com
Maicon os pecados do não dominio da grande área nas bolas paradas.
José Angel – Uma
boa primeira parte enquanto as diagonais de Hernani lhe deram campo para
correr. Sabe sempre o que fazer com a bola e tem pés para dar corpo ao que
decide fazer.
Com Quaresma e Brahimi como parceiros e com a defesa a 3
imposta por Lopetegui ,José Angel deixou de ter campo para correr e limitou-se
a ser mais um jogador a passar e receber a bola no pé sem qualquer ideia ou
tentativa de desequilibrio.
Casemiro – Cumpriu
com os minimos de agressividade e intensidade que se exigem no meio-campo.
Esteve no limiar de marcar um golo candidato ao Premio Puskas mas não foi capaz
de ter qualquer intervenção capaz de tirar a equipa do deserto de ideias e da
absoluta incapacidade e vontade de tentar um plano B.
Evandro – Tem uma
caracteristica comum a todos os jogos que tem feito no Porto. Raramente decide
mal e raramente executa mal. Decidir bem e executar bem deveriam ser um cartão
de visita suficiente para ser titular indiscutivel do Porto.
Não são. Evandro precisa de se dar mais ao jogo, de se
mostrar mais e de se achar mais porque tem qualidade e inteligência para isso.
É o médio mais completo do Porto porque passa bem, decide
bem, consegue arrancar com bola, tem meia distância (que Golão!) e defende com
inteligência tactica.
Se não se achar e continuar a correr pelo relvado à espera
que se lembrem dele ou à espera que lhe caia uma bola para fulminar o redes
adversário vai deixar de ser titular e passar ao lado de uma carreira que tem
tudo para ser positiva e marcante no FC Porto.
Oliver – Ao contrário de Evandro é raro haver jogo em que Oliver não
se dê e mostre a toda a hora. Quer sempre bola, “obriga” os seus companheiros a
procurá-lo e está sempre de pilhas carregadas de forma irrequieta procurando
protagonismo.
Na minha opinião Oliver é um
jogador modelo para o tipo de jogo que equipas como o Porto quer praticar mas
deveria ser mais central e um pouco mais cerebral à semelhança do que o melhor
Xavi fez no Barcelona.
Deveria ser o maestro com 5
linhas de passe sempre abertas potenciando o que ele tem de melhor (para além
da capacidade de se desenvencilhar da pressão e de esconder a bola).
A linha directa para o 9, as 2
diagonais curtas e longas para os médios, extremos e laterais.
Infelizmente vejo-o muito colado
a um dos lados e demasiado ligado a apenas 2 jogadores (o lateral e o extremo
da sua ala) quando toda a equipa devia ser colada por ele.
Fez um jogo esforçado sem grande
brilhantismo, foi prejudicado pela sua postura pouco central e é responsável
por não ter cumprido com a obrigação de proteger o 2.º poste.
Quaresma – Passou ao lado do jogo e esteve uns furos abaixo de
Hernani. Na 1ª parte ainda teve 2 bons apontamentos em articulação com Oliver
mas nunca foi um jogador capaz de meter 2 mudanças acima da bitola letargica
com que a equipa trocava a bola.
Não desequilibrou, não acelerou
nem se distinguiu dos demais.
Hernâni – Foi o acelerador e o mais importante jogador da equipa
enquanto esteve em campo. Estranhamente deu-se melhor na ala esquerda do que na
direita que, em teoria, favorecia as diagonais.
Começa a ser claro que o Porto
TOCA-TOCA precisa a gritos de jogadores que pelas suas caracteristicas
individuais consigam dar à equipa aquilo que a sua estratégia de jogo considera
ser um pecado: PLANO B.
Foi substituido porque não tem
estatuto e não porque não estivesse a ser, a léguas, o melhor elemento do
ataque.
Aboubakar – Desde que saiu Falcao ser ponta-de-lança do Porto é
profissão de risco. A equipa tem um perfil de jogo que inferniza a vida a
qualquer 9 dada a exiguidade de bolas limpas que são servidas.
Kleber suicidou-se à conta disso
e Jackson foi obrigado a mostrar que é dos pontas de lança mais completos do
futebol europeu porque consegue criar mais jogo para a equipa do que a equipa
cria para ele.
Neste estado de coisas as 3 ou 4
oportunidades que o 9 do Porto tem para se mostrar são a amostra possível para
avaliar a qualidade de um avançado.
Numa equipa grande que servisse o
seu avançado de forma normal os erros afogam-se no mar de momentos do jogo em
que ele é obrigado a intervir.
No Porto qualquer falhanço é
amplificadissimo porque a amostra é pequena.
Aboubakar não esteve bem porque a
equipa não lhe deu jogo e está viciada em se servir de Jackson.
Tello – Deu um bocadinho do que Hernâni estava a dar na 1ª parte e
percebeu-se pelo estado do jogo que tinham sido necessários os 2 jogadores ao
mesmo tempo porque são os únicos que divergem de forma clara da filosofia de
passe pastoso da equipa.
Quaresma e Brahimi juntam-se e
agravam o pasto. Tello e Hernâni tentam tirar qualquer coisa dele.
Brahimi – Joga sempre da mesma maneira seja qual for o resultado
parcial, o contexto do jogo, da competição. Isso seria um elogio se
estivessemos a falar da atitude com que encara Bayern ou Sertanense.
Neste caso é uma critica porque
Brahimi não é inteligente a jogar. Tenta meter sempre a fintinha mesmo que
tenha 2 pontas de lança, 2 centrais e o guarda-redes na grande área a pedir o
cruzamento.
Começo a estar preocupado com a
carreira de Brahimi no clube. No inicio da época todos pensavamos que seria um
Hulk e hoje nem a titularidade parece estar assegurada.
Gonçalo Paciência - A
entrada fez sentido mas a equipa continuou a jogar no TOCA-TOCA como se não
tivesse 2 pontas de lança nem qualquer tipo de urgência em meter a bola na
área.
Ficha de Jogo
Maritimo-FC Porto, 2-1
Taça da Liga, meia-final
Quinta-feira, 2 Abril 2015 - 19:45
Estádio: Estádio do Marítimo, Madeira
Assistência: -
Árbitro: Carlos Xistra (Castelo Branco).
Assistentes: Paulo Soares e Jorge Cruz.
4º Árbitro: Rui Rodrigues.
Marítimo: Salin, João Diogo, Bauer, Raúl Silva, Rúben Ferreira, Danilo Pereira, Alex Soares, Bruno Gallo, Edgar Costa, Marega, António Xavier.
Suplentes: Wellington, Dyego Sousa, Gêgê (87' Alex Soares), Briguel, Fransérgio (76' Bruno Gallo), Ebinho, Éber (79' Edgar Costa).
Treinador: Ivo Vieira.
FC Porto: Helton, Ricardo, Maicon, Marcano, José Ángel, Casemiro, Evandro, Óliver Torres, Quaresma, Aboubakar, Hernâni.
Suplentes: Andrés Fernández, Brahimi (66' Ricardo), Tello (57' Hernâni), Herrera, Campaña, Alex Sandro, Gonçalo Paciência (76' Quaresma).
Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 2-1.
Marcadores: Evandro (32'), Bruno Gallo (37' pen), Marega (45').
Disciplina: cartão amarelo a Óliver Torres (28'), Ricardo (36'), Raúl Silva (73'), Gêgê (89'), Evandro (90').
Por: Walter Casagrande
1 comentário:
É mandar esta grande Cronica para o Lopetegui e para a SAD.
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