domingo, 31 de agosto de 2014

Os Andrades

#FCPorto #Andrades #Blogues #Bluegosfera #clubecastelhano #Fóruns #FCP #OPorto #Joker


Veio-me à memória, há dias, essa figura quase mitológica, representativa dum passado quase “obscuro” do meu clube de sempre, numa identidade perdedora, jocosa, tristonha, em face de todo um percurso de vida associativa desde a sua criação até ao dealbar da democracia em Portugal, nos anos setenta, e à inversão do seu triste fatalismo desportivo sob a égide dessa figura ímpar da liderança do F.C.P., Jorge Nuno Pinto da Costa, no percurso dos anos oitenta.

E veio-me à memória, porquê? Porque passados mais de trinta anos sob a inversão desses acontecimentos que me levavam ao choro compulsivo em cada derrota do meu F.C.P. – por cada jogo presenciado a sul, na província do meu nascimento – nova prova de que essa memória, desse passado soturno de “portismo” se encontra vivo, na pena e alma de alguns portistas escreventes nesta “bluegosfera” se tornou patente a partir da leitura de um artigo num blogue azul-e-branco, e se evidenciou, uma vez mais, essa linha dura do “cinzentismo” de outrora, na crítica presente.

Não que essa crítica seja de agora, pois que desde que me conheço nestas andanças da “bluegosfera” que os sei, sempre, nessa linha demarcada do criticismo, aceso, contra esta gestão do F.C.P. Nada de novo, portanto. O que me fez ressaltar na evidência, foi a acutilância, a precisão da crítica, a forma velada da mesma, num estilo encarniçado contra aquilo que nesta senda, se propõe como “reforma” do F.C.P., em face da época desastrada do ano transacto.

A acusação frontal contra esta orientação hispânica, assumida na sua óptica, como proposta única do treinador, e assumindo que o mesmo por outorga de carta branca sem precedentes na liderança desportiva, os leva a recear o nascimento dum novo clube, sem resquícios da sua origem portuguesa, com o subsequente nascimento dum novo clube castelhano: O Futbol Club del Oporto!

Demagogias à parte, importa realçar que esta conduta, na pena dos pensadores desse blogue, ou pelo menos de alguns, não é nova. Diria mesmo que a crítica é uma constante, num blogue de indiscutível qualidade, e crítica essa que perpassa a sua própria existência quando noutros locais, a mensagem já era em tudo igual à presente. “Os Andrades” como os classifico e como alguns se auto-classificam, já o eram e sempre o foram, nessa forma de estar e pensar o F.C.P. A obra de Pinto da Costa ainda que devidamente registada é, na sua óptica, insuficiente ou enviesada. Não há bela sem senão, costuma dizer o povo e com razão, mas neste caso, não é sequer a “bela” que está em causa, senão o próprio conceito.

Não há beleza que resista a tão fortes critérios…

Esta estirpe de portistas acha-se acima de quaisquer considerandos, nem que seja o singelo respeito por uma instituição dos quais se dizem sócios ou simpatizantes. Alegam, quiçá, que acima da instituição não está ninguém e que nessa óptica a crítica ao Presidente é natural. Seria porventura, se o nome da instituição não fosse manchado nessa menção crítica e sistematicamente “bota-abaixista”. Aliás, nem sequer é de suspeitar que o teor acusatório resulte desta forma, porque se bem me lembro, um dos intervenientes desse “reflectir o portismo” não me tivesse, uma franca vez, num fórum por mim criado e sustentado em prol de uma renovada forma de “pensar” o F.C.P., enviado a seguinte pérola: “Mesmo trajado de azul-e-branco, um mouro é sempre um mouro!”…

Digamos que para esta casta, o Porto é um exclusivo seu, da sua demarcada forma de pensar e sentir, dando-se ao luxo, inclusive, não se seguindo o seu rumo programático, de o destituírem como símbolo de outros. Esta veia elitista de um determinado portismo acha-se acima de outros “pensares” que não sejam os seus. Já o eram antes de o ser. Sempre o foram! Para eles, o F.C.P. é uma reserva moral dos seus ancestrais pensamentos nesse passado “obscurantista”, perdedor e manietado. “Orgulhosamente sós”, sustentam a bandeira do “Andradismo”, como se tratasse de um puritanismo clubístico! Nisso em nada me surpreende que se sustentem na defesa dos valores da liberdade, na liberdade de dizerem o que bem lhes apraz, para nisso menosprezarem os outros, directamente, ou indirectamente, na forma como os seus valores projectados no clube, são ridicularizados.

Quem tem o Porto por seu exclusivo, quem vê nos outros os “mouros” do seu descontentamento, tão só em função do seu local de nascimento – isto de quem é filho de imigrantes não muito longínquos – não é de admirar que veja nesta política de “renascimento” portista, uma ofensa aos seus valores “integristas”, pejados dum nacionalismo bacoco e desusado. Quem vê na contratação de alguns espanhóis – quando antes o pendor nas escolhas foi de argentinos ou brasileiros – e nisso conclui que o Porto se transformou num clube castelhano, também porque o seu treinador quer maior protagonismo directivo, ou está de má fé ou é um “Andrade” empedernido…


“Os Andrades”

Não há nada que surpreenda
Neste discurso de sempre
Está tudo mal, pr’a tal gente
Qu’ao Porto propõe emenda:

Que seja um clube exclusivo
Um clube de cavalheiros!
Que sejam eles, os primeiros
A dirigi-lo, sem passivo…

Que por lá têm doutores
Filósofos e jornalistas!
Gente das maiores vistas:
Engenheiros e tradutores!

Também não faltam gestores
Nesse universo “reflectivo”
Que liquidariam o passivo
Sem sequer vender Jogadores!

São os únicos de tal gente
Uma estirpe de sangue azul!
Nele não há “mouros” do sul
Que lhes conspurquem a mente!

E constatado o integrismo
Da natureza sanguínea
Só Portugueses, na linha
Pr’a nova ordem de Portismo!

Tudo gente da região
Mesmo d’apelido estrangeiro!?
Do Alto Douro vinhateiro…
Mais qu’isso é uma invasão!

E se vieram espanhóis
É só pra limpar as retretes
Das suas “coquettes”
Que são urinóis….



Por: Joker

12 comentários:

José Sampaio disse...

Não vejo a situação que transpôs para a sua crónica, da mesma forma, porque do meu ponto de vista o conceito de mouro não terá a ver com clubismos, como o dá a entender no seu texto.

Para mim, aquilo que considera algo depreciativamente como "pérola", é a forma correcta de utilizar o termo mouro, cuja razão é histórica e se prende com a época das conquistas territoriais aos sarracenos no sul e não com a forma como a disputa clubística depreciou pejorativamente o termo, atribuindo-o aos adeptos do nosso maior rival da 2ª circular.

Portanto da mesma forma que um "tripeiro"(habitante do grande Porto) trajando de vermelho não deixa de ser um tripeiro, um "mouro" trajando de azul e branco não deixa de ser um mouro (habitante da parte sul do país conquistada aos mouros).
Sem qualquer carácter insultuoso!

Eu próprio, uso frequentemente a expressão: "Não confundo mouros com lagartos ou lampiões, porque há muito mouro que é portista!"

E não é por isso que alguém me pode colocar o carimbo "Andrade" da forma que me parece depreciativa como o faz no texto!

Sim, sou um "andrade" (sou desse tempo, sim!) e sim, sou um "Dragão" também, com todas as forças o meu ser, e não será o caro Aldenir Araujo, que terá a outorga de classificar o meu maior ou menor fervor clubista ou pendor vitorioso!

Em resumo, para quem como eu, é tripeiro, um mouro é e será sempre um mouro, por mais que entenda que isto é uma "pérola"!!

No entanto, se esse mouro trajar de azul e branco, servirá para, com satisfação, verificar que ainda há mouros inteligentes...!

Joker disse...

Meu caro José Sampaio, sei-o, no caso em concreto que quem me classificou de "mouro" nesse tempo e nesse contexto, o tentou fazer de forma depreciativa.

Se o Senhor não o faz, por mera referência histórica, só revela a sua rectidão de carácter, sem contudo deixar de confundir intenções.

Para mim, o "Andradismo" é um conceito, projectado pelos nossos adversários a uma determinada filosofia de clube que penso já estar diluída na formação do "Dragonismo" do Porto deste novo Século, enquanto que o “mourismo", por mais que o rigor histórico pretenda classificar o processo de reconquista das terras do sul aos mouros, não passa de um rótulo usado para fins de “separatismo” clubístico. E mais, na sua pureza, quanto muito, no meu caso, seria um “mocárabe” e nunca um “mouro”, pois a origem dos meus pais é transmontana, e nunca me converti ao “islão”… :-) E como eu, de grosso modo, a população de Lisboa tem uma origem que não se subjaz à região da capital, como sabe com toda a certeza.
...

Joker disse...


...
E daí estranhar esta separação “ideológica” entre um portista do sul e um portista do norte, ainda que quem opte por o ser, a sul, não deixar de ser “inteligente”. Até lhe posso dizer o contrário. No meu caso, o ser portista a sul, só se revelou uma opção pouco ou nada inteligente, em função do carácter minoritário da mesma, com todos os inconvenientes a isso associados; primeiro a uma época em que nada ganhávamos - causando espanto - e depois em função da avalanche de vitórias - causando ressentimento.

Quem opta por ser do Porto, ou doutro clube, não o faz por uma escolha “intelectual”, mas sim por razões de “coração”. É uma opção para toda vida, e a escolha pouco tem a ver com factores analíticos. Não se é mais ou menos inteligente quem escolhe ser do Porto ou doutro qualquer clube. É-o, ponto! No meu caso, sou-o por legado do meu pai, que em boa hora me levava a ver os jogos do Porto a sul, onde por sistema, éramos derrotados…

E posso dizê-lo que nessa época, por força dessas derrotas sistemáticas, o “Andradismo” vivente no clube, em nada contribuía para a minha felicidade, muito pelo contrário. Se a opção, à época se revelava inteligente, tenho as minhas francas dúvidas…
...

Joker disse...

No entanto sendo ou não inteligente, a escolha sempre foi assumida. E nesse contexto, ser classificado de “mouro” apenas porque nasci em Lisboa, quando porventura as minhas raízes “celtas” são mais marcantes (ainda que não faça gáudio disso), não deixa de ser paradoxal!

Sem confundir conceitos lhe digo, Sr. José Sampaio, o “Andradismo” ainda que possa ser associado a um dado momento histórico do nosso clube, não deixa, contudo, de ser usado por referência jocosa, classificar-se o nosso nível de derrotismo num passado ainda não muito distante. Também vivi esses momentos do “Andradismo”, sem contudo, me identificar com ele especificamente.

O clube, como símbolo, agrega o seu presente, passado e futuro. Nesse contexto, dada a dimensão mundial actual do FCP, classificar adeptos do mesmo em função da sua classificação territorial, só o torna mais exíguo. Não vejo os benquistas a classificar os seus adeptos a norte, como “cristãos” em sentido pejorativo. Sim, porque é disso que se trata, na referência histórica a que a mesma se conduz. Os mouros eram o inimigo, e essa carga “ideológica” ainda está associada à referência actual, ou entende que não?

Mais, hoje passados mais duzentos anos sobre as invasões francesas, sabe que as mesma ainda estão bem viventes no consciente colectivo das comunidades de Trás-os-Montes? O tempo histórico não se dilui na volatilidade do tempo cronológico. Essa carga - dos “mouros” - não tem o mesmo peso do “tripeiro” ou “alfacinha”, por referência ao núcleo da população de determinada terra e às sua caractareísticas. Tem sim, um peso histórico de referência, a uma época que ainda hoje serve para classificar e dividir os pretensos inimigos da outro lado do “rio”. Senão com o peso político do passado, com a carga diluída da rivalidade presente.


Se o “mourismo” na sua óptica, classifica apenas pela dimensão geográfica, o “portismo” deve unir pela sua dimensão clubista. Dizer que alguém que enverga o manto azul-e-branco, mesmo sendo do sul, não deixa de ser um “mouro” de escolha “inteligente” é, na minha óptica, demasiado redutor para um clube que há muito deixou de ser o clube dos “Andrades”…

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Sei perfeitamente o que é isso, sou de Lisboa e sempre vivi com o estigma dos mais ou menos Portistas, dos que amam mais ou menos o clube, muitas das vezes por alguns, poucos pseudo-portistas que se julgam os "mais" e são os primeiros a ir para o outro lado da barricada quando algo corre mais, ou quando vêm cá a Lisboa escondem todo e qualquer adorno Azul e Branco para não se urinarem todos de medo. Não são todos felizmente, e felizmente também é uma minoria.

Penta disse...


@ joker

perfeitamente de acordo com o texto e com os comentários subsequentes.

@ anónimo das 08h16m, de 21/08

os actuais assobiadores oficiais, presentes nas bancadas do Dragão, são o exemplo-mor desses adeptos a que se refere.


abr@ços a «ambos os dois» :D
Miguel | Tomo II

Joker disse...

Caro Miguel,

Devolvo o abraço com toda a amizade.

Quanto aos assobiadores do Dragão, posso dizê-lo, é das coisas que mais me incomoda neste novo estado de espírito portista. Não entendo este antagonismo ao mínimo passe falhado, ou perante um jogo inaugural menos conseguido.

Outra das facetas que abomino, são os os cânticos anti-slb, apesar de os compreender. O facto de os fomentarem só lhes dá uma importância (ainda que negativa) que não granjeiam. Sei o mal que nos tentaram fazer ao longo de todos estes anos, mas ainda assim, não me consigo rever em tais atitudes.

Para rematar este assunto, mais diria que para um portista do sul, nada é mais impróprio em termos de referência, do que ser englobado no lote da restante "mourama", como se de um sinal de nascença se tratasse. Não renego, como cidadão do mundo, a cultura islâmica (que muito aprecio, aliás), e aprecio, deveras, a diversidade deste mundo. O facto de existirem opostos é sintoma de constante renovação do mundo. O que não tolero é que, perante a capa da diferenciação, seja colocado no lote "divsionista". Apesar de azul-e-branco, não deixo de ser "mouro"! Essa está boa! Como o ser-se portista, de pleno direito, fosse um exclusivo dos "tripeiros"!? Os outros, ainda que portistas, não passariam de uma espécie de renegados da causa... Sem menosprezo, e sem carácter insultuoso diria: só mesmo na cabeça de "Andrades"!

Viva o portismo universal, diria mais!

Raul disse...

Sou um velho Dragão, portista, portuense e para mim ( e não só) um portista é um portista, independentemente da sua origem geográfica.

Anónimo disse...

Portistas modernos, espalhados pelo mundo, em crescimento este nosso amor pelo clube. Devia ser um orgulho para todos e não existirem tolos a diferenciarem se A é do sul e B do Norte, SOMOS PORTISTAS, irmãos de uma fé!

Anónimo disse...

A alma que proferiu um dia tais palavras e se atreveu a tal comparação devia um dia ter um pinheiro enterrado eu sei onde! Força Portoooooooooooo

Manuel Ventura de Sousa disse...

Para mim todos os adeptos do FCP serão sempre "Andrades", até porque conheço as origens do apelido que tem a sua graça. Essa dos Dragões! Não colhe.

Anónimo disse...

O Passado, faz o que somos no Presente.
Ser Andrade nunca foi para mim depreciativo. E nas deslocações que no início dos anos 80 fazia a Lx tinha orgulho em o ser.
Em 84 já tinhamos um Bi Campeonato, uma corrente que humildes Andrades começaram a construir perdedores que nunca desistem serão um dia vencedores, todos sabemos como essa corrente foi quebrada. A corrente de Americo de Sá e Pedroto.
Para dar lugar a arrogantes Dragões alimentados pelo Ódio e da sua fictícia guerra contra os Mouros. E como sabemos como funciona o Ódio nestas andanças. Cega até o mais intelectual.
Que em 86 viu a relizar um buraco na sua casa para obter mais receitas de bilheteira subjugado os sócios em desconforto. Urinar no Estádio era uma aventura higiénica e o desconforto era total. Recordo ao Sr que o Mundial em Espanha tinha sido em 82.
Que para nós da Areosa que estavamos fartos de azeiteiros dificilmente um azeiteiro nos enganaria.

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