segunda-feira, 28 de julho de 2014

FC Porto 0 - 0 St. Étienne - Tempo é dinheiro.

Pretende-se que um jogo de preparação prepare a equipa para a época e ajude a definir o plantel.
Isso será assim quase sempre. Testar esquemas, ver jogadores, fazer escolhas.
Este ano o Porto está para lá disso.  Não há tempo para isso. Essas tradicionais motivações são peanars face ao desafio que temos pela frente: Champions.
E Champions é coisa muito séria para os lados do Dragão. Todo o tempo é curto.
Todo o treino deve ter essa meta em mente.


O onze inicial definido por Lopetegui bebe do melhor Porto de Genk. Sami solto, Ricardo na ala, Ruben Neves a 6.
Na primeira parte o Porto joga com mais alegria e vivacidade do que consistência e intencionalidade.
Boas trocas de bola, variações de flanco contínuas mas sempre longe da baliza. Oliver pegou na batuta, Alex Sandro abriu a porta atrás e no resto viu-se um Porto amarrado.
Sami amarrado a uma posição que não é sua. Ricardo a médio-ala esquerdo à antiga e Quaresma a replicá-lo no lado oposto.
Por certo a equipa cumpriu posicionalmente a organização estipulada por Lopetegui. Tu jogas aqui, tu jogas ali. Todos no seu sitio e organizados.
Resultado?  Incapacidade total de desorganizar o ultimo reduto francês.
As únicas oportunidades de golo nascem de um desequilibrio de Herrera e da libertação de Ruben Neves após rara incursão de Quaresma para o meio.
No lado defensivo pouca consistência. Perante um meio-campo pouco pesado defensivamente foi Maicon que tentou pôr a casa em ordem enquanto Reyes tremia e Alex abria.
É meio-campo é leve porque Oliver não tem a mesma relevância destrutiva face ao que consegue gerar com bola.
É leve porque Ruben Neves sabe tudo o que fazer com bola mas falta-lhe aprimorar a ocupação do espaço, dobras à frente e ao lado.
É leve porque Herrera é o tipo de jogador que se ausenta do jogo. Não está sempre lá. Não se assume nem é mandão.
Da primeira parte fica com um sabor agridoce. É um treino produtivo porque se percebem algumas mecânicas que funcionam e onde o jogo emperra.
A desilusão nasce por se sentir que o St Etiénne era mais equipa que o Porto. Mais pesada, mais pensada e mais capaz.

A 2ª parte abre com Tello, Adrian, Brahimi, Quintero e Casemiro na linha lateral. Acaba o treino e começa a brincadeira.
Na 2ª parte já não se coloca a questão de quem é a melhor equipa. Só há uma equipa de um lado e um grupo de jogadores que gosta de jogar à bola e se junta todo ao fim-de-semana.
Eu vi 45 minutos desperdiçados. Acho impossível que o Porto venha a jogar um jogo sério e a sério com Brahimi – que é um driblador – a pegar na bola na zona do médio defensivo.
De uma equipa organizada que não se conseguia superiorizar e desorganizar o adversário transformamo-nos num conjunto de 11 jogadores caótico que corria mais quando o Porto tinha a bola e se juntava aos mais de 40000 a assistir quando a perdia.
Danilo destaca-se não porque tenha feito nada de especial mas porque se notava que não  havia mais ninguém no Porto que corresse para fazer pressão.  O resto dos jogadores não faz porque está habituado a quem faça por eles.
Brahimi faz sentido numa equipa. Uma equipa tem que ter meio-campo.
Tello faz sentido numa equipa. Uma equipa tem que ter meio-campo.
Quintero faz sentido numa equipa que tenha meio-campo.
Adrian sabe pressionar. Fá-lo quando é mais um fazê-lo e não quando tem que ser o único.
Para além de 45 minutos de ouro desperdiçados, Lopetegui lançou o primeiro banho de dúvida sobre jogadores como Adrian e Brahimi, que ao serem lançados sem um suporte colectivo afundaram-se naturalmente.
Sem rede foi tudo um desastre. Oliver já sem grande andamento não conseguiu continuar a remar. Entrou Carlos Eduardo e nem se viu porque mais por culpa do estado do Porto quando entrou do que por desleixo proprio.
Quem agradeceu o desperdicio de 45 minutos foi Fabiano que teve a oportunidade para brilhar, cair ainda mais no goto do Dragão e lançar a primeira nuvem negra na boa relação entre os adeptos e Lopetegui. Quem jogará na Champions?
Qual o impacto de um falhanço de Andrés Fernandez para Lopetegui e para a sua relação com o mundo portista?
Quanto toda a gente via que a equipa não funcionava porque não pressionava nem corria para a defesa Lopetegui resolve fazer um teste tipico de equipa com anos de trabalho e um modelo já consolidado.
Vamos tentar 3 defesas e ir para o Modelo Tiririca.
Como se o importante neste momento fosse perceber se a equipa era capaz de jogar como se estivesse 0-0 contra o Arouca aos 80 minutos. Tempo é dinheiro. Desperdiça-lo

O Porto tem que preparar/rotinar um meio-campo de forma urgente. Perceber se a pressão está afinada à frente para toda a equipa subir atrás.
Ver que nesta 2ª parte já nada está a funcionar e resolver fazer testes completamente irrelevantes para o nosso futuro próximo parece pouco ajuízado.
O Porto pode perder todos os jogos da pré-época e não será por aí que a casa vem abaixo. Não pode é desperdiçar tempo. O erro é optimo e pedagógico quando há vontade de o tentar corrigir.
O erro é depressivo quando se olha para ele à Tiririca.
O resultado justo seria entre o 0-2 e o 1-3. Não sei se seria preferivel que tal acontecesse para que o desleixo em que se caiu na 2ª parte ficasse tatuado na pele deste Porto.  Para não repetir.

Análises Individuais:

Fabiano – Entre os postes sinto-me segurissimo com ele na baliza. Parece impossível que um remate de meia distância entre tamanho o espaço que ocupa. Fez uma exibição à Mundial de 2014.
Danilo – Inconsequente na 1ª parte. O entendimento com Quaresma parece sempre perro e forçado. Na 2ª parte emergiu como lider tentando apagar os fogos no eixo central depois da saída de Reyes, pressionar à frente e varrer o que lhe chegava no meio-campo.
Alex Sandro – O costume. Quanto se sente testado e perante um desafio à altura assume e não falha. Foi assim num perigoso 1 vs 1 já na 2ª parte. Quando as campainhas cerebrais não disparam joga com a mesma souplesse e falta de nervo de sempre
Maicon – Patrão. É o central do Porto que transmite mais segurança o que por si só nos dá grandes dores de cabeça. Melhor em campo na 1ª parte ultrapassado ao sprint por Fabiano na 2ª metade.
Reyes – Tem qualidade mas joga muito a medo. Medo de falhar, medo de falhar uma antecipação. Tem que perder a vergonha de jogar no Porto ou jamais será um jogador para o Porto.
Ruben Neves – Merece um lugar no plantel. Na leitura de jogo com bola só encontra rival em Oliver. Na precisão de passe está acima de outros médios no plantel. Na capacidade de remate também será do melhor que temos.
Perderá naquilo que uma equipa do Porto é suposto que tenha. Médios com calo, inteligência defensiva , jogo defensivo sem bola.
A má noticia para o Porto e a boa noticia para ele é que escasseiam os médios no plantel capazes de fazer com qualidade aquilo em que ele ainda é verde.
Devíamos olhar para ele como olhamos para o Carlos Eduardo/Herrera no ano passado. Luta por um lugar no 11/convocados à semana porque tem qualidade para isso. Se não é convocado joga na B.


Oliver – Motorzinho. É ele que faz mexer a equipa. É nos pés dele que o que parece estreito alarga. Tem visão de jogo, capacidade de se desenvencilhar de situações de aperto e vontade de se mexer e fazer mexer a equipa. Dos espanhois que chegam é aquele que tem maior capacidade de contrariar a equipa. De não se esconder quando as coisas estão bem. De se assumir e mudar o fado que parece traçado.
O zinho no motor ocorre porque lhe falta dimensão fisica para ter influência nos 2 momentos do jogo. Falta peso decisivo e peso para ter uma maior chegada ao ataque.
Herrera – Jogador de Flashes. É capaz de ser o melhor jogador em campo entre o minuto 20 e 30 e de andar escondido entre as outras 46 pernas que estão dentro do relvado no resto do tempo. Ganha na capacidade rotativa e de chegada face a Oliver. Perde na regularidade e na assumpção da responsabilidade que ás vezes é preciso estar sempre com o menino ao colo (leia-se equipa).
Ricardo – Frescura e capacidade de arranque face ao lateral adversário. Óptimos sinais se depois não me viesse à memória a musica da Adriana Calcanhoto. Carro sem estrada, queixo sem goiabada seu eu assim sem você.
Arranca mas não define. Arranca mas não assiste porque não tem ninguém para assistir.
A exibição seria melhor se a equipa tivesse outra organização.
Quaresma – Jogou grande parte do tempo colado à linha. Trocou mais passes com o Danilo do que o habitual. Não define porque jogou no lado direito e não assistiu/cruzou porque não havia ninguém para o fazer. Na área estava só o Sami perdido e um Herrera errante.
A exibição seria melhor se a equipa tivesse outra organização.
Sami – A maior vitima do rigor posicional de quem lhe jogava atrás. Saltou, pinchou, correu mas era muito dificil fazer algo naquele contexto.
Casemiro – Tem o peso literal e futebolistico que falta a companheiros de sector. Tenho sérias duvidas que possa ser o 6 que a equipa precisa. Ser mais olhos que pés. Mais cerebral e menos toque.
Começou a jogar com tranquilidade, como se estivesse no Real de um duplo pivot e deu em 10 minutos as 2 casas que Ruben Neves deu na 1ª parte. Ao fim de 20 minutos acordou assustado. O que é isto? Vou ter que correr isto tudo. Ir ali, acolá, além porque aquela malta não se mexe?
O esgar de sofrimento fisico no final do jogo diz tudo. Pôxa!
Brahimi – Um desastre. Primeiro jogo em casa e queria mostrar o que é capaz.
É um excelente malabarista e Lopetegui mandou-o fazer trapézio. Lá em cima (leia-se no meio-campo defensivo), sem rede (sem médios de suporte) e a querer mostrar que consegue passar 4 bolas de mão em mão (leia-se fintar 4 adversários).
Nem Brahimi nem Quintero poderão fazer o trio do meio-campo na eliminatória da Champions. Lá mais para a frente, com muito treino pode ser que a mecânica da equipa possibilite sustentar o talento com bola.
Testar isso agora é desvalorizar a importãncia da tarefa que se avizinha. Desperdicio de tempo.
Carlos Eduardo – Não se deu conta que entrou. Nada melhorou e nada piorou. Dificilmente haveria alguém capaz de pôr mão no caos com a equipa raptada pelos malabaristas de serviço.
Tello –  Tem qualidades únicas. Capacidade de acelerar o jogo, infernizar o lateral e criar perigo no ataque. Tem um defeito comum a muitos. Não é Maomé. Nem escala a montanha nem a montanha vem ter com ele. Não espero que o Tello abane com a equipa.
Este é Homem para levar a equipa do Bom para o Muito Bom. Se a equipa estiver no Suficiente não será ele a resgatá-la da mediania.
Hoje a equipa estava no insuficiente. Nada havia a fazer.
Cabe a Lopetegui trabalhar a mecânica da equipa e juntar Tello a gosto para a exponenciar.
Quintero -  Dos brinca na areia foi o mais perigoso para as 2 balizas jogando na posição em que tem mais condições para se afirmar. Como falso extremo.
Não imagino Quintero e Brahimi a jogarem ao mesmo tempo na equipa. Ou um ou outro.
Adrian – Temo por este espanhol. Tem qualidade mas não tem huevos. É outro que não é Maomé e que joga com um rosto de quem está triste com a vida. Se lhe começarmos a fazer exigências face ao custo do passe  vamos pelo mau caminho.
Nunca será a estrela. O lugar dele é como companheiro de um avançado centro. A aparecer na grande área. Tem tudo para ser titular se não for a estrela.
Kelvin – Foi a expressão máxima do modo Tiririca que Lopetegui resolveu implementar. Se isto já está mau com só 3 defesas não pode piorar. Piorou. Tempo pode ser dinheiro. Não desperdiçar.


Ficha do jogo:
FC Porto:  Fabiano; Danilo, Maicon, Reyes (Kelvin 72´), Alex Sandro; Rúben Neves (Casemiro 46´), Herrera (Brahimi 46´), Óliver Torres (Carlos Eduardo 62´); Quaresma (Quintero 46´), Sami (Adrián López 46´), Ricardo Pereira (Tello 46´).

St. Étienne: Moulin, Clément, Corgnet, Mevlut, Cohade, MolloF, Hamouma, Baysse, Sall, Tabanou e Clerc


Por: Walter Casagrande

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