quarta-feira, 1 de agosto de 2012

FC Porto B: Fábio Martins, um talento a despontar.



O homem e o seu percurso:

Quem sai aos seus não degenera. Se o povo o diz, tem mais força que lei. Que não degenere e até que supere, é isso que se espera e deseja de Fábio Martins.

Niromar na fila do meio é o 4º a contar da esquerda

Antes de Fábio Martins, falemos de Niromar, seu pai e jogador da história portista. Niromar, carioca de nascimento, cresceu para o futebol no Vasco da Gama e no Madureira. Na época 78/79 atravessa o Atlântico e atraca em Aveiro. Com as cores do Beira-Mar cumpre duas épocas e chama a atenção do FC Porto. Na época de 80/81, o pai de Fábio Martins é jogador do FC Porto, curiosamente, ocupa a mesma posição que o filho: avançado. 





A concorrência no FC Porto é dura e Niromar cumpre só uma época de Dragão ao peito. Uma passagem breve, mas que terá um legado extenso. Sai para o Portimonense, passa depois pelo Estrela da Amadora e acaba nas serranias do Sporting da Covilhã. Ao todo, quase 100 jogos na primeira divisão.

Fábio Martins, filho de Niromar e de uma Gaiense, faz cumprir uma promessa de seus pais e vai às captações do FC Porto no mítico campo da Constituição, esse berço de muitos talentos de Dragão ao peito. O futebol de Fábio salta logo à vista. O FC Porto é o primeiro e único clube na carreira de Fábio Martins. Uma carreira de 12 anos de Dragão ao peito que atravessou dos pelados aos relvados e do futebol de 7 ao futebol de 11.

Somam-se os títulos colectivos, entre estes, dois destacam-se: é campeão nacional de juniores e juvenis e em épocas consecutivas. Ao título colectivo de campeão nacional de juvenis, soma o título de melhor marcador da prova. Um feito que junta a outras distinções semelhantes em torneios de futebol jovem.

O seu talento não escapa ao escrutínio das selecções nacionais jovens. É internacional em todos os escalões jovens, embora Fábio Martins tenha já provado o amargo da exclusão das convocatórias para as fases finais dos Europeus de S-17 e S-19. O que não mata, “engorda”! Mais uma vez, se o povo o diz, tem mais força que lei! E cumpriu-se! Após o “soco no estômago” de ficar de fora da convocatória para o Europeu S-19 disputado neste Julho, surge a boa nova que iria fazer parte do plantel do FC Porto B. A sua porta de entrada para o futebol profissional. Sempre Dragão!


A análise ao jogador:




Fábio Martins acumula posições ofensivas, como um general acumula medalhas ao peito. Do meio campo para a frente, Fábio Martins já jogou em todos os lados e posições no seu percurso de formação no FC Porto. De extremo esquerdo a extremo direito e de médio a ponta-de-lança, nada é novidade para Fábio Martins. Para quem o vê de fora, essa é uma das suas grandes vantagens. É um jogador plástico, moldável ao jogo e às necessidades da equipa. Hoje, até pela sua fisionomia e qualidades, é nos flancos que parece ser mais provável trilhar o seu futuro. É a sua posição actual e aquela onde explora melhor o seu futebol.

Fábio Martins tem uma técnica apurada e é jogador capaz de decidir um jogo com o seu talento. As suas diagonais são venenosas. É um jogador tacticamente responsável e solidário. Onde precisa Fábio Martins de melhorar? Como qualquer jogador que sai da formação, nos aspectos físicos do jogo, sobretudo, na capacidade de suportar o choque. Fábio Martins precisa de mais capacidade física para explanar o seu talento nas exigências do futebol profissional.






No entanto, o maior desafio para Fábio Martins está noutro sector. Fábio Martins precisa de ser mais intenso, mais interventivo e objectivo no jogo. Não pode deixar-se desaparecer do jogo e ser uma ameaça constante para o adversário pela eficácia das suas acções. Será essa capacidade real de ameaçar mudar um jogo a qualquer momento que levará Fábio Martins a tomar o rumo da equipa principal.

Para já, terá a plataforma ideal para trabalhar. Estará na sua casa de sempre e com o treinador que o acompanhou nos últimos 2 anos.


A entrevista:

Como chegaste ao FC Porto? Prospecção ou captação?


- Desde quando era miúdo que ficou decidido que quando fizesse 7 anos iria às captações no FC Porto. Então em 2000 fiz anos e no mês a seguir (Agosto) havia captações no Campo da Constituição, fui, estive lá uma semana, a treinar naquele campinho de futebol de 7 que lá tinha e pediram-me para voltar em Setembro, que tinha ficado.
Então desde aí que fui subindo escalões conforme a minha idade, queimando etapas, até chegar a onde estou hoje, equipa B. 


Tiveste algum clube antes do FC Porto?

- Não, sempre joguei no FC Porto.




Em que posição jogavas nos escalões inferiores?

- Em escolinhas jogava a maior parte das vezes a médio centro, mas como fazia muitos golos e “não passava a bola a ninguém”  fui passando para ponta de lança.
Então fui fazendo a maior parte da minha formação a ponta de lança, até chegar aos sub17 onde fui começando a ser adaptado a extremo, e a partir daí fui começando a jogar mais lá, apesar de, às vezes, quando é preciso jogue a ponta de lança e acho que cumpro, costumo fazer golos quase sempre.


Que prémios individuais conquistas-te em torneios de futebol jovem?

- Tenho vários troféus, a maior parte de melhor marcador em torneios, tenho no mínimo uns 6, e ainda tenho um de melhor jogador, num torneio na Régua em escolas.





Diz-se que filho de peixe sabe nadar, que conselhos te dá o teu pai e o que mais aprendeste com ele que te possa ajudar no futuro?

Sim, diz-se isso e penso que com um certo fundamento.
- Ele quase todos os dias ''me dá cabo da cabeça'', fala comigo, diz que devo treinar sempre no máximo, fazer dos treinos um jogo, para que depois no jogo as coisas sejam mais fáceis, várias coisas, por exemplo que tenho de ser sempre regular porque o futebol é ''o mundo cão'', hoje estás bem e toda a gente gosta muito de ti, mas amanhã se estiveres mal toda a gente te vira as costas e te esquece.
E é claro que com os anos de futebol e a experiência que ele tem eu tento sempre ouvir e por em prática esses conselhos.




Ocupaste todas as posições de ataque durante a formação (pdL, EE, ED), em que medida foi importante para o teu desenvolvimento?

- É sempre importante poder fazer mais do que uma posição com qualidade, porque tornas-te uma opção viável para o treinador em mais do que uma posição, logo à mais hipóteses de jogar, concordo com a polivalência dos jogadores, se for um jogador que faça as posições com qualidade, agora se é um jogador que com a tentativa de polivalência fica sem jogar bem nem num lado nem noutro, acho que é prejudicial.
No meu caso acho que foi muito importante e que me fez evoluir aspectos do meu jogo em que não era tão bom.




Qual a tua posição preferida?

- Gosto muito de jogar a ponta de lança, mas a extremo esquerdo ou direito também gosto, é a minha posição agora e tento dar o meu melhor, estou mais do que adaptado a ela.
Também posso jogar numa posição com mais liberdade, o típico 10, acho que é uma posição que também desempenho bem.


Tens um longo percurso na formação portista. Sentes essa responsabilidade, essa obrigação extra de "ser da casa"?

- É sempre importante ter jogadores desses numa equipa, que sinta as coisas de maneira diferente, que sinta o clube como muito poucos sentem.
É uma responsabilidade jogar no FC Porto, esteja lá há 1,2 ou 20 anos, mas é claro que as pessoas olham para mim de uma maneira diferente e talvez tenham um carinho especial por mim, por já estar lá há vários anos, logo tenho a responsabilidade de corresponder às expectativas que depositam em mim, sim.


Nesse percurso, que jogador com talento que recordas que se tenha perdido pelo caminho? E porquê?

- O FC Porto tem um grande departamento de scouting e que na maior parte dos casos detecta os jogadores com potencial que possui nos seus quadros. É claro que não se acerta sempre e que por vezes se deixa escapar jogadores com alguma qualidade que depois com a sua qualidade e com trabalho chegam a um nível elevado. Sinceramente, não me lembro de nenhum jogador com talento que se tenha perdido, se esta entrevista fosse daqui a um ano aí talvez pudesse dizer algum, porque é nesta etapa que muitos se perdem, nesta transição de júnior para sénior.


Qual o treinador da formação que mais contribuiu para o teu desenvolvimento? E que trabalho específico efectuou?

- Acho que todos de uma forma ou outra contribuíram para o meu desenvolvimento, todos tentam fazer isso pelo menos.
Mesmo que não se jogue até, aprende-se sempre alguma coisa, o que se deve melhorar para poder jogar, por exemplo.
Lembro-me de vários, talvez não de todos porque já são 13 anos, mas ainda me lembro de muitos, o mister André Villas-Boas que quando comecei estava lá, o mister Bruno Moura que agora penso que está no Santa Clara, o mister Carlos Alberto e o mister Álvaro Silva que penso que continuam ligados ao FC Porto, o mister João Brandão e o mister Pedro Emanuel que agora estão na Académica, e agora o mister Rui Gomes, só de treinadores principais, depois ainda há os adjuntos, vários ex jogadores (mister Capucho, Folha, Frasco, Semedo ...), o mister José Tavares que agora é o preparador físico da B, todos têm a sua forma de nos fazer entender as coisas e de se fazerem entender, mas todos foram muito importantes para mim e para a minha formação, não só como jogador, mas também como pessoa.
Se tivesse que escolher um, talvez escolhesse o mister Pedro Emanuel, porque foi um ano em que estive muito bem, fomos campeões nacionais (sub17) e eu fui o melhor marcador do campeonato com 34 golos e que todas as semanas me colocava a mim e ao Lupeta pelo menos 2 vezes por semana a treinar no final do treino situações de finalização, gostava muito daquilo mesmo.



Fizeste treino de desenvolvimento muscular específico na formação do FC Porto? Achas que a importância ao treino físico se ajusta à futura passagem para o futebol sénior?

- O FC Porto não costuma aprovar os treinos de reforço muscular no ginásio na formação, é a opinião deles. Por isso só agora é que vou ter um plano e vou começar a trabalhar mais essa parte, porque acho que preciso e eles acham o mesmo, principalmente numa II Liga competitiva e com equipas bastante agressivas como são, é muito importante estar bem fisicamente.


Um plantel júnior anormalmente extenso, como o do ano passado, atrapalha a evolução dos jogadores?

- Na minha opinião sim e não.
Sim, porque um jogador que esteja tapado com jogadores de grande qualidade na sua posição (como foi o meu caso onde tinha na minha opinião um fenómeno que é o Atsu, e depois ainda tinha bons jogadores como o Engin, o Fábio Nunes, o Flávio...) vai ter mais dificuldades para jogar, mas também é bom porque se quer jogar vai ter de treinar mais para que isso aconteça, por isso vai evoluir sempre, até porque jogos só há um por semana normalmente, mas treinos são pelo menos 5.


Um campeão nacional s-17 e s-19, titular do seu clube e com longo passado nas selecções não vai á fase final do Euro s-19. Como se transforma uma decepção em vontade de superação? Tiveste apoio do clube?

- É verdade que fiquei muito desiludido, ainda por cima numa altura em que vinha jogando bem e vinha com uma série de 5 jogos a marcar consecutivamente, sai a convocatória e não vejo o meu nome, foi um impacto grande e que me magoou muito e é claro que não indo à Ronda de Elite, se eles se apurassem só existia hipótese de ir ao Europeu se acontecesse algo de anormal como uma lesão de um jogador do ataque.
Já em sub17 tinha sido assim, acabei o campeonato com 34 golos e no final não fui ao Europeu e aquilo não me entrou na cabeça até hoje.
Mas tento entender, temos uma geração muito boa em termos de selecção e não podem ir todos.
O meu pensamento é que o meu clube é o FC Porto, é lá que tenho de estar bem, o resto vem por acréscimo.
Não, não tive apoio por parte do clube, mas porque entendi que era uma situação que tinha de saber lidar sozinho, porque não foi a 1a e talvez não seja a última, mas se precisasse de alguma coisa, o que não falta no FC Porto são psicólogos.




O que representa para os jogadores do FC Porto B esta oportunidade? Mais um escalão de formação ou a oportunidade "controlada" de encarar o futebol sénior profissional na liga mais competitiva em Portugal?

- Sentimos que estamos cada vez mais próximos do nosso principal objectivo que é atingir a equipa A.
E acho que é um pouco dos dois, é um espaço para continuarmos a progredir e a evoluir como jogadores, mas já a encarar as dificuldades do futebol sénior principalmente numa liga destas.


Mais um ano com Rui Gomes, agora no futebol profissional. Estão prontos para um treinador menos protector e mais exigente?

- É claro que não esperamos que seja a mesma coisa, o ambiente mudou, as características do campeonato mudaram, estamos num mundo novo, logo a atitude perante os jogadores muda, a exigência será muito maior, e não se esperava outra coisa, estamos num clube habituado a ganhar e a ter as suas ambições no topo dos topos.


É importante ter um "irmão" mais experiente no balneário como o Zé António?

- Sim, é muito importante ter jogadores mais velhos como o Zé e mesmo como o Stefanovic no plantel, porque são pessoas mais vividas, mais experientes e que com as suas histórias, com o que viveram com certeza nos vão ajudar muito nesta etapa, são jogadores com muita qualidade que estão constantemente no treino a falar connosco, a corrigir posicionamentos, a explicar o que deveríamos corrigir, como devemos fazer para a próxima, é muito importante isso.


Como vês os teus concorrentes pela tua posição no FC Porto B?

- Nesta altura ainda não existem muitos, ainda existe um pouco de indecisão e nas alas é uma posição que ainda tem poucos jogadores, da B mesmo só há o Sebá e eu, sendo que têm vindo muitas vezes o Fred e o Ivo, mas que ainda são juniores.
Não sei como será, quem vai estar lá, fala-se de Kelvin, Iturbe e Atsu nos jornais, mas não sei como será.


Em auto análise, o que te falta para seres jogador para a equipa principal do FC Porto?

- Penso que em termos técnicos e tácticos a diferença já não se notaria, talvez as maiores dificuldades que teria fossem a nível físico, intensidade de jogo, poder físico, velocidade, execução rápida, é mais por aí que sentiria dificuldades e é isso que tenho vindo a trabalhar e seria essa a maior dificuldade dos jogadores vindos da formação, é um andamento completamente diferente, vê-se muitas vezes quando treinamos contra eles ou quando vamos treinar com eles.



Obrigado Fábio, o Talento e a Humildade vão-te guiar ao estrelato, quase nos atrevemos a dizer.


Ficha Técnica:


Nome: Fábio Santos Martins
Nacionalidade: Portugal / Brasil
Nascimento: 1993-07-24 (19 anos)
Naturalidade: Mafamude - Vila Nova de Gaia
Posição: Avançado
Pé preferencial: Direito
Altura: 178 cm
Peso: 69 kg

Percurso Futebolístico: 


2001/2002 - FC Porto (Fut.7 - Juniores E - Sub9)
2002/2003 - FC Porto (Fut.7 - Juniores E - Sub10)
2003/2004 - FC Porto (Juniores E - Sub11) 2004/2005 - FC Porto (Juniores D - Sub13 B)
2005/2006 - FC Porto (Juniores D - Sub13) 2006/2007 - FC Porto (Juniores C - Sub15 B)
2007/2008 - FC Porto (Juniores C - Sub15) 2008/2009 - Padroense (Juniores B - Sub17)
2009/2010 - FC Porto (Juniores B - Sub17) 2010/2011 - FC Porto (Juniores A - Sub19)
2011/2012 - FC Porto (Juniores A - Sub19) 2012/2013 - FC Porto B

Campeão distrital:

2001/2002 - FC Porto (Fut.7 - Juniores E - Sub9) 2002/2003 - FC Porto (Fut.7 - Juniores E - Sub10) 2003/2004 - FC Porto (Juniores E - Sub11) 2004/2005 - FC Porto (Juniores D - Sub13 B)
2005/2006 - FC Porto (Juniores D - Sub13)

Campeão Nacional:

2009/2010 - FC Porto (Juniores B - Sub17)
2010/2011 - FC Porto (Juniores A - Sub19)

 Seleção Nacional:

 22 Internacionalizações - 5 Golos

Por: Breogán

1 comentário:

Penta disse...

(mais uma) excelente entrevista!

um miúdo com um talento enorme e uma margem de progressão ainda maior.
esperemos que "não se perca" e/ou não o "estraguem".

abr@ço
Miguel | Tomo II

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